7-O Que é Ideologia de Gênero?
Daniel Conegero.
Basicamente a ideologia de gênero é a designação
dada a uma corrente de ideias que defende a dissociação e distinção entre
gênero e sexo, e afirma que o ser humano nasce com o gênero neutro. Este tema
tem ganhado destaque nos últimos anos e vem obtendo apoio de parte da
sociedade, da mídia e de vários governantes.
Mas muitos cristãos ainda não sabem exatamente o
que é a ideologia de gênero. Infelizmente alguns parecem não estar nem mesmo
convencidos de que ética cristã e ideologia de gênero são coisas completamente
opostas. Consequentemente, eles também não sabem se posicionar diante da
ideologia de gênero de acordo com a Bíblia.
A origem e significado da ideologia de gênero
Atualmente a palavra “ideologia” possui amplo
significado e aplicação. O termo foi cunhado pelo filósofo francês Destutt de
Tracy a partir dos vocábulos gregos eidos, “ideia”, e logos, “estudo”. Assim, o
significado básico de ideologia seria o “estudo ou ciência das ideias”. Então
esse termo passou a ser utilizado para indicar o conjunto de ideias e opiniões
orientadoras de uma sociedade ou mesmo de um indivíduo.
A palavra “gênero” também tem origem grega e
significa basicamente “raça”, “espécie”, “classe” ou “tipo”. A aplicação usual
de gênero indica o “masculino” e o “feminino”, como por exemplo, na Gramática.
Com o tempo, o termo “gênero” passou a ser aplicado de forma a substituir o
termo “sexo”, mas não como um sinônimo. Isso significa que as pessoas começaram
a distinguir entre diferenças de sexo e diferenças de gênero.
A ideologia de gênero fixa suas raízes em vários
sistemas ideológicos, pois se aproveita de resquícios de movimentos e
revoluções que se deram ao longo dos séculos. Um dos principais, sem dúvida, é
o Marxismo, com seu conceito de impossibilidade de conciliação entre as
classes. Consequentemente, o Feminismo, amplamente influenciado pelo Marxismo,
também aparece como fonte da ideologia de gênero.
Tudo isto culmina na reivindicação feita pela
ideologia de gênero de que qualquer diferença entre homem e mulher, deve ser
abolida. A ideia é tratar o gênero de forma independente do sexo biológico. Já
este último, torna-se irrelevante na determinação do papel do individuo na
sociedade.
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O que a ideologia de gênero defende?
Para os defensores da ideologia de gênero, o sexo
refere-se às características e diferenças biológicas naturais entre macho e
fêmea. Já o gênero refere-se ao papel que macho e fêmea assumem e exercem na
sociedade.
Isto significa que de acordo com a ideologia de
gênero, o sexo não define o gênero de uma pessoa. Em outras palavras, apenas o
sexo é determinado biologicamente, o gênero não. Assim, um indivíduo que nasce
biologicamente macho, não seria necessariamente homem. O “ser homem” ou o “ser
mulher” supostamente não seria algo biológico, mas social. A sociedade e todo seu
conjunto ambiental e cultural é quem determina o gênero de uma pessoa.
Esse conceito de ideologia de gênero fica bem claro
nas palavras da feminista Simone Beauvoir, quando diz que “ninguém nasce
mulher: torna-se mulher”. Sobre este “tornar-se mulher”, ela mesma explica que
isto ocorre pela construção social do conjunto da civilização. Antes dela, o
psicanalista americano Robert Stoler já havia dito que enquanto o sexto é
biológico, o gênero é definido por aquilo que cada sociedade lhe atribui. Portanto,
as designações “homem” e “mulher” são plenamente flexíveis socialmente.
O que fica evidente é que a ideologia de gênero
prega um tipo de construção do gênero desassociado do sexo biológico, e
pendente ao campo da subjetividade. Nesse ponto fica fácil entender porque
movimentos homossexuais pegaram carona nesse tipo de ideologia e passaram a
defendê-la. Um indivíduo pode nascer macho, mas ao invés de ser homem, pode
sentir-se, considerar-se ou escolher ser mulher. Da mesma forma, uma fêmea pode
sentir-se, considerar-se ou escolher ser um homem, ao invés de mulher.
Além disso, os apologistas da ideologia de gênero
apresentam um grande leque de variáveis quando apelam ao que chamam de
“orientação sexual”. Por exemplo: biologicamente um indivíduo pode ser do sexo
masculino, mas genericamente identificar-se como uma mulher e sexualmente se
atrair por homens, mulheres ou ambos.
Mas isto também revela uma grande incoerência
dentro do ativismo homossexual. Nas décadas passadas, esse movimento buscou no
estudo genético uma forma de aprovação. Eles queriam provar a existência do
gene homossexual. A ideia básica era a de que o indivíduo nasce homossexual. Já
com a ideologia de gênero, o ponto de partida é o de que ninguém nasce homem,
mulher ou homossexual, mas torna-se um(a).
Ética cristã e ideologia de gênero
Ética cristã e ideologia de gênero definitivamente
não combinam. A ética cristã é fundamentada unicamente na Palavra de Deus. Já a
ideologia de gênero se faz valer de alternativas éticas que são frutos da corrupção
da natureza humana.
Por exemplo: é possível perceber na ideologia de
gênero um forte apelo do existencialismo e sua ênfase no relativismo. Valores
morais e até espirituais não são vistos com absolutos. O certo e o errado são
relativos ao entendimento e interpretação de cada indivíduo. Se a experiência
individual for boa, então é válida. É exatamente isto que a ideologia de gênero
defende: cada indivíduo deve assumir o gênero que lhe dá prazer e satisfação.
Além disso, a ideologia de gênero traz a base
egoísta de outros modelos éticos humanísticos, como o hedonismo. O construto
social tradicional não serve para os defensores da ideologia de gênero. Tudo o
que se choca com sua ideologia deve ser desconstruído. Para os ativistas da
ideologia de gênero, entender que o “ser homem” e o “ser mulher” está de acordo
com o sexo biológico, configura um abuso de poder.
Mas por outro lado, eles buscam impor sua nova
estrutura social como regra que deve ser respeitada pela sociedade. É como se
dissessem: “O que não me agrada deve ser abolido, mas o que me agrada deve ser
respeitado e seguido”. O propósito egoísta da ideologia de gênero é evidente.
As consequências da ideologia de gênero
A ideologia de gênero traz consequências terríveis
e completamente incompatíveis com a ética cristã. O principal pressuposto da
ética cristã é a existência de Deus como o criador dos céus e da terra, cuja
vontade é revelada nas Escrituras e deve ser obedecida por suas criaturas. Mas
a ideologia de gênero, no fundo, levanta a bandeira do ateísmo, ainda que seus
defensores até possam crer em alguma forma de divindade.
Os pregadores da ideologia de gênero não olham para
Deus como o supremo e infalível Criador. Eles não acham que a Lei de Deus é
adequada e deve ser respeitada e seguida. Para eles, se existir um criador,
então esse criador errou, pois à vezes o corpo não representa quem o indivíduo
é. Há uma negação do corpo, uma rebelião contra a ordem criada, e uma tentativa
de usurpar o poder divino.
Enquanto a ética cristã diz que Deus é quem
determina quem é homem e quem é mulher na concepção e nascimento, a ideologia
de gênero diz que esse poder não compete a Deus, mas ao próprio ser humano.
Segundo essa ideologia, cabe ao homem definir o seu gênero. Então todas as
diferenças criadas por Deus entre homens e mulheres, são rejeitadas. Este
entendimento chega ao extremo de defender que como o sexo biológico não é
fundamental na questão do gênero, então ele também pode ser facilmente
modificado. Daí a transexualidade é encorajada.
Além disso, os ativistas da ideologia de gênero
alegam que a Bíblia é sexista. Para eles as Escrituras pregam a opressão do
domínio masculino sobre o feminino. Eles dizem que o modelo patriarcal
defendido pela Igreja Cristã com base na Bíblia, influenciou a sociedade e deve
ser abolido.
Consequentemente, a ideologia de gênero também
ataca ferozmente a instituição familiar. Ela desvaloriza o casamento segundo as
diretrizes instituídas por Deus. A ideologia de gênero busca reinventar o
casamento de acordo com suas próprias ambições pecaminosas. Segundo essa
ideologia, o gênero é flexível. Então o modelo de casamento heterossexual,
conforme estabelecido nas Escrituras, torna-se sem sentido.
A ideologia de gênero à luz da Bíblia
Definitivamente a Palavra de Deus reprova as ideias
defendidas e propagadas pela ideologia de gênero. Ao estudar a Bíblia,
facilmente é possível identificar qual é o seu posicionamento com relação a
esta questão. Hernandes Dias Lopes diz algo interessante sobre isto. Ele afirma
que contra a ideologia de gênero, devemos apresentar a teologia de Gênesis.
A Bíblia não deixa dúvida alguma! Deus criou homem
e mulher (Gênesis 1:27). Biblicamente é impossível separar o gênero do sexo
como a ideologia de gênero faz. Se o sexo é determinado biologicamente, o
gênero é sua decorrência natural.
Não há como falar em determinação de gênero se sua
base não for o sexo biológico. Por isto a Bíblia Sagrada afirma de forma muito
clara a distinção natural entre homem e mulher (Gênesis 2:15-25; Deuteronômio 22:5;
Provérbios 31:10-31). Todo tipo de comportamento que busca abolir a ordem da
criação original de Deus e inverter os papeis naturais estabelecidos por Ele, é
visto como um grave pecado (Romanos 1:24-32). Abraçar a ideologia de gênero é
trocar a verdade de Deus pela mentira fabricada pela própria concupiscência
humana.
Sem dúvida Deus revelou muito claramente através
das Escrituras qual deve ser o papel do homem e da mulher. Diferentemente do
que muitos pensam essa determinação não é machista ao indicar a liderança
masculina. Na verdade, no plano original de Deus, existe completa harmonia
entre homens e mulheres. Qualquer tipo de opressão de uma parte sobre outra,
tem como fonte a natureza pecaminosa e caída do homem, e não a vontade do
Senhor.
Embora Deus tenha colocado o homem como líder
natural, Ele não aprova sua liderança machista e opressora. A prova de que aos
olhos do Senhor não há qualquer depreciação de sexo e gênero, ou qualquer tipo
de classe, pode ser vista nas palavras do apóstolo Paulo. Ele escreve que “não
há judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos
são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).
O cristão e a ideologia de gênero
Sem dúvida todo cristão verdadeiro deve se opor à
ideologia de gênero, e saber refutá-la com base bíblica sólida. Os cristãos
devem falar da ideologia de gênero mostrando como ela é contrária às
Escrituras.
A Igreja não deve tratar a ideologia de gênero como
um assunto secundário, mas como algo que ataca diretamente as doutrinas
fundamentais do Cristianismo. Lamentavelmente, muitos cristãos ignoram este
assunto. Como resultado disto, pode-se ver uma tolerância cada vez maior com
relação à ideologia de gênero. É possível identificar até mesmo dentro de
algumas comunidades cristãs, reflexos da ideologia de gênero. Nesses casos
geralmente é proposta uma nova forma de interpretação bíblica sob as lentes da
desconstrução dos papeis de homens e mulheres, abolindo qualquer diferença
entre ambos.
É por isto que cresce, cada vez mais, a oposição à
liderança eclesiástica masculina. Em casos mais graves, até mesmo a
homossexualidade é aceita e reconhecida como legitima em algumas comunidades.
Parece que muitos ditos cristãos estão mais preocupados em parecer
politicamente corretos.
Concordo com John Piper quando ele diz que é
impossível ser um cristão verdadeiro, comprometido com a Palavra de Deus, e ao
mesmo tempo ser politicamente correto. O Evangelho jamais será uma espécie de
produto agradável que se adéqua à natureza pecaminosa do homem. Na verdade o
Evangelho ofende o pecador, a menos que Ele seja regenerado pelo Espírito
Santo.
Augustus Nicodemus Lopes diz algo muito
interessante sobre como a Igreja deve encarar as questões da ideologia de
gênero. Ele defende que as comunidades cristãs deveriam preparar uma liderança
masculina consistente e bíblica. Ao mesmo tempo, elas deveriam buscar
fortalecer o ministério feminino e providenciar as condições necessárias para
que homens e mulheres aprendam sobre a masculinidade e a feminilidade à luz da
Bíblia. Ele também acerta em advertir que se os cristãos não aprenderem sobre o
tema de seus pastores e líderes, fatalmente eles aprenderão dos ativistas e
defensores da ideologia de gênero.
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