Haddad
Os inimigos dos memes
Parlamentar incluiu um inciso que deixa claro acesso
universal e irrestrito às praias; material deve ser votado na CCJ em agosto
Os memes sobre o ministro Taxadd, a versão popular do
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, viralizaram nas redes sociais nos últimos
dias, mas nem todo mundo está rindo com clássicos instantâneos como “Taxando na
Chuva”, “Taxando o pobre adoidado”, “O taxador do futuro” e “Querida, taxei as
crianças”.
O mau humor é particularmente notável pelas bandas do
Palácio do Planalto.
Os governistas dizem que o deboche com a sanha arrecadatória
do governo é injusto. Alguns se arriscam até a insinuar que há uma trama
diabólica por trás da confecção de memes que parodiam filmes, séries,
personagens e demais ícones do mundo do entretenimento.
O advogado-geral da União, Jorge Messias, compartilhou no X
uma notícia sobre o meme “Taxa Humana”, estampado em telão da Times Square, em
Nova York, e chegou a questionar:
“Quem financia a indústria dos memes? Seriam os mais
humildes, contemplados na reforma tributária? Ou seriam os mais ricos,
alcançados pela tributação depois de muitos anos de benefícios? Vale a
reflexão. Acho que os mais pobres não gastariam seus recursos atacando quem os
defende. Vamos aprofundar a justiça fiscal com firmeza e correção.”
Ímpeto persecutório
O resmungo do AGU ilustra o ímpeto persecutório dos
lulistas, a tentativa de desqualificar como conspiração as críticas ao aumento
dos impostos feitas por pagadores de impostos, a omissão das taxações que
também atingem os pobres, e a tentativa populista de dividir a sociedade
jogando pobres contra ricos, como se o governo Lula não viesse — e vem —
articulando medidas favoráveis a empresários bilionários que confessaram
suborno praticado durante outras gestões petistas, como os irmãos Batista e
empreiteiros do petrolão.
A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi
Hoffmann (PR), também saiu em defesa de Haddad, ou melhor, do governo.
“O que estão compartilhando sobre o ministro Fernando Haddad
não é meme, é material de desinformação. A verdade é que a carga tributária no
governo Lula não aumentou, como explico ponto a ponto para vocês neste vídeo.”
Gleisi se refere a 2023 no vídeo, desconsiderando, como
Messias, a sanção da taxa das blusinhas, que derrubou a isenção para compras do
exterior menores de 50 dólares, e o retorno do DPVAT.
Mas o discurso vitimista do governo tem encontrado
reverberação até na imprensa.
Operação?
O repórter e comentarista Valdo Cruz, da Globonews, deu sua
opinião ao vivo na emissora de TV sobre o caso, ecoando a narrativa da
advocacia lulista e defendendo até que a “operação” dos memes seja “proibida”:
“É humor e você ir contra isso não é muito fácil. Agora,
neste caso, a quantidade de peças produzidas e distribuídas, postadas nas redes
sociais nos últimos dias, mostra que é uma coisa profissional.
Nessa situação, se você consegue identificar a origem, eu
acho que, no futuro, você precisa regulamentar isso. Porque acaba virando uma
operação para desmoralizar uma pessoa. Bom, é claro que o Haddad não vai se
curvar por conta disso. Não vai ficar ali deprimido por conta disso.
Mas esse é um tipo de operação que tem de ser proibida, na
minha opinião. Porque, se você faz uma campanha dessa, desqualificando uma
pessoa nesta intensidade, isso tem um custo para aquela pessoa que acaba sendo
atingida por isso.”
“Não estamos preocupados”
Valdo citou relatos de integrantes da equipe econômica de
que “não estamos preocupados” e continuou:
“Mas eu acho que deveriam estar preocupados, sim. Porque
eles falaram: ‘olha, o que o ministro produziu vai exatamente no sentido
contrário’. Tudo bem, tem a taxação das comprinhas. Eu acho que tinha que taxar
mesmo. É correta essa taxação. Agora, não dá pra não se preocupar com isso. É
preciso tentar identificar a origem pra proibir, pra evitar que futuros ataques
sejam feitos. É a minha opinião.
Eu acho até que isso tem que ser regulado. Você não pode, de
repente, deixar que alguém resolva fazer uma campanha contra o Thomas, vai lá e
quer destruir a reputação do Thomas. Não vão conseguir, né? Mas tentam. Você
tem que descobrir quem está por trás disso. Quando é só um meme aqui, uma
coisinha ali e tal, ok, faz parte do mundo aí. Aí [no caso dos memes sobre
Haddad] não, é algo coordenado, produzido, que custou dinheiro isso aí.
Inclusive tava na Times Square, né? Veicularam lá.”
40 gramas de meme?
Não sabemos se Valdo Cruz tem ideia da agilidade com que
qualquer jovem com conhecimento mínimo de edição de imagem consegue fazer, até
no celular, paródias de cartazes virtuais de filmes, trocando rostos, títulos e
subtítulos. Nem se ele notou o desafio estabelecido a cada enxurrada temática
de memes de que um supere o outro em inventividade e qualidade.
Tampouco sabemos qual quantidade corresponde a “um meme
aqui, uma coisinha ali e tal”, ou seja, a cota permitida num projeto de
regulação das redes sociais à moda Valdo (40 gramas de memes, talvez?).
Sabemos, porém, do incômodo do governo Lula, que não
consegue emplacar sua própria onda, e ainda teve suspensa, graças ao jornalismo
de O Antagonista, uma megalicitação que injetaria 197 milhões de reais nas
redes sociais do Planalto para turbinar sua propaganda.
Sabemos, também, que ironizar medidas oficiais de um
ministro de Estado, sem qualquer componente de calúnia, injúria, difamação, ou
ameaça, não configura crime algum previsto em lei, mas, sim, um exercício das
liberdades de expressão, crítica, oposição e imprensa, resumido na velha
receita de Lima Barreto: “troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo
ridículo”.
Jornalista que defende taxar e calar acaba caindo também.
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