Quem
são e de onde vêm os ciganos?
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Ciganos
é um exônimo para romani,[20][21] (também conhecidos por: roma, boêmios,
gitanos, calons,[22] quicos,[23][24][25] calés ou calós) que designa um
conjunto de populações que têm em comum a origem indiana e a língua romani,
originária do noroeste do subcontinente indiano.
População
total
2 a 5
milhões [1]
6 a 11
milhões (1987)[2]
Regiões
com população significativa
Roménia 1.850.000
(8,32%) [3]
Estados Unidos 1
000 000
(0,32%) [4]
Brasil 800
000
(0,41%) [5]
Espanha 650
000
(1,62%) [6]
Turquia 500
000
(0,72%) [7]
França 500
000
(0,79%) [8]
Bulgária 370
908
(4,67%) [9]
Hungria 205
720
(2,02%) [10]
Grécia 200
000
(1,82%) [11]
Rússia 182
766
(0,13%) [12]
Sérvia 108
193
(1,44%) [13]
Reino Unido 90
000
(0,15%) [14]
Eslováquia 89
920
(1,71%) [15]
Macedónia
do Norte Macedônia do Norte 53 879
(2,85%) [16]
Portugal
Portugal 30 737
(0,3%) [17]
Línguas
Romani
e línguas locais
Religiões
Igreja Ortodoxa
Catolicismo romano
Protestantismo
Islão
Shaktismo[18]
Etnia
Indo-europeus[19]
Grupos
étnicos relacionados
Romnichals,
Pavee
Essas
populações constituem minorias étnicas em numerosos países e são conhecidas por
vários exônimos. O endônimo "rom" foi adotado pela "União Romani
Internacional" (em romani: Romano Internacionalno Jekhetanipe) e pela
Organização das Nações Unidas.[26] No primeiro Congresso Mundial Romani em
1971, foi votado por unanimidade rejeitar todos os exônimos do povo Romani,
incluindo Cigano/a por suas conotações negativas e estereotipadas e etimologias
controversas.[27]
Na
Europa, esses povos, ao que tudo indica, de origem indiana e língua romani, são
subdivididos em diversos grupos étnicos: Rom (termo que, traduzido para o
português, significa "homem"), presentes na Europa centro-oriental e,
a partir do século XIX, também em outros países europeus e nas Américas; Sinti,
encontrados na Alemanha, bem como em áreas germanófonas da Itália e da França,
onde também são chamados manoush; Caló, os ciganos da Península Ibérica, embora
também presentes em outros países da Europa e na América, incluído o Brasil.
Romnichals (subgrupo), principalmente presentes no Reino Unido, inclusive
colônias britânicas, nos Estados Unidos e na Austrália.
Além de
migrarem voluntariamente, esses grupos também foram historicamente submetidos a
processos de deportação, subdividindo-se vários clãs, denominados segundo
antigas profissões e procedência geográfica, que falam línguas ou dialetos
diferentes.[28] Segundo um estudo feito pela revista Current Biology, a
diáspora dos ciganos começou há 1500 anos no Noroeste da Índia.[29][30]
Etimologia
O termo
"cigano" provém de termos do grego bizantino "atzinganos"
ou "athígganos", que representa "intocável";[25][31][32]
"gitano", que provém do castelhano "gitano",[33] e este de
"egiptano", pois acreditava-se terem origem no Egito;[34]
"boêmio" é uma referência à antiga crença da etnia ser originária da
Boêmia, região histórica da Europa Central (atual República Tcheca);[35] Também
são conhecidos no Brasil pelos termos "calon",[22] "quico"
(em Minas Gerais e São Paulo),[23][24][36] calé ou caló.
Em
2012, o Ministério Público Federal (MPF) do Brasil ajuizou, no dia 22 de
fevereiro uma ação civil pública contra a Editora Objetiva e o Instituto
Houaiss, solicitando a imediata retirada de circulação, suspensão de tiragem,
venda e distribuição das edições do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa,
sob a alegação de que a publicação é discriminatória e preconceituosa em
relação à etnia cigana.[37][38][39][40][41][42] A palavra "cigano"
tem, no dicionário, como um de seus significados, "que ou aquele que
trapaceia; velhaco, burlador" e "que ou aquele que faz barganha, que
é apegado ao dinheiro; agiota, sovina". Estes termos são expressos para
uso da palavra cigano de forma pejorativa, ou seja, de forma
depreciativa.[43][44][45][46][47]
História
Rotas
migratórias do povo cigano pela Europa
Os
povos ciganos originaram-se de populações do noroeste do subcontinente indiano,
das regiões do Punjab e do Rajastão, obrigadas a emigrar em direção ao
ocidente, possivelmente em ondas, entre c. 500 e 1000 d.C. Iniciaram a sua
migração para a Europa e África do Norte, pelo planalto Iraniano, no século XI,
por volta de 1050. A saída da Índia provavelmente ocorreu no contexto das
invasões do sultão Mahmud de Ghazni (região do atual Afeganistão).[48]
Mahmud
fez várias incursões no norte da Índia, capturando os povos que ali viviam.
Segundo o antropólogo José Pereira Bastos, professor da Universidade Nova de
Lisboa, no inverno de 1019–1020, o sultão saqueou a cidade sagrada de Kannauj,
que era então "uma das mais antigas e letradas da Índia, capturando
milhares de pessoas, e vendendo-as em seguida aos persas". Estes, por sua
vez, venderam os prisioneiros como escravos na Europa. No Leste Europeu, cerca
de 2300 deles foram para a zona dos principados cristãos ortodoxos da
Transilvânia e da Moldávia, onde foram convertidos em escravos do príncipe, dos
conventos e dos latifundiários.[49] Por volta do século XI, a língua romani já
apresenta claros traços de línguas indo-arianas modernas.[50]
Estudos
genéticos confirmam a Índia como sendo o local de origem dos ciganos. De acordo
com um estudo genético, a análise de linhagens uniparentais revela com
consistência o Noroeste da Índia como sendo a região de origem dos ciganos.[51]
Um estudo genético de 2012 também chegou à mesma conclusão, tendo inferido que
a origem dos ciganos teria se dado por volta de 1500 anos atrás, sendo que após
rápida migração os ciganos teriam alcançado a Europa aproximadamente 900 anos
atrás.[52] Um estudo genético de 2011, focado no estudo de linhagens maternas
(DNA mitocondrial), também verificou a origem indiana dos ciganos, tendo
apontado o estado do Punjab como a fonte de origem deles.[53]
Distribuição
dos ciganos na Europa ("estimativas médias" do Conselho da Europa de
2007, totalizando 9,8 milhões de pessoas)[54]
Já no
século XIV, devido à conquista territorial e política de estados indianos,
muitas caravanas rom partiram para a Europa, Oriente Médio e Norte da África. É
a segunda onda migratória que os roma denominam Aresajipe. Um primeiro grupo
tomou rumo oeste e atingiu a Europa através da Grécia; o segundo partiu para o
sul, adentrando o Império Bizantino e chegando à Síria, Egito e Palestina. Na
Europa, em razão de clivagens internas e da interação com as várias populações
europeias, os roma emergiram como um conjunto de grupos étnicos distintos,
dentro de um conjunto maior. Alguns desses grupos foram escravizados nos
Bálcãs, no território da atual Romênia, enquanto outros puderam se movimentar,
espalhando-se principalmente pela Hungria, Áustria e Boêmia, chegando à
Alemanha em 1417. Em 1422, chegaram a Bolonha. Em 1428, já havia ciganos na
França e na Suíça. Em 1500, surgiram os primeiros ciganos ingleses. A terceira
onda migratória deu-se entre o século XIX e início do século XX, da Europa para
as Américas, após a abolição da servidão na Europa Oriental, entre 1856 e 1864.
Alguns estudiosos apontam, ainda, a ocorrência de uma outra grande migração,
proveniente da Europa Oriental, desde a queda do Muro de Berlim em 1989.[55]
Em
1777, Johann Christian Cristoph Rüdiger, professor da Universidade de Halle, na
Alemanha, em carta ao linguista Hartwig Bacmeister, sugere uma possível ligação
entre o romani e as línguas da Índia. Rüdiger baseava suas conjecturas em
pistas fornecidas pelo próprio Bacmeister e por seu professor, Christian
Büttner, mas também na sua própria pesquisa, realizada com a ajuda de uma
falante de romani, Barbara Makelin, e apoiada em gramáticas hindustani. A
hipótese teve ampla circulação entre seus colegas acadêmicos. Em 1782, Rüdiger
publicou um artigo intitulado "Sobre o idioma indiano e a origem dos
ciganos",[56] no qual compara as estruturas gramaticais do romani com as
do hindustani. Trabalhos seguintes deram apoio à hipótese de que a língua
romani possuía a mesma origem das línguas indo-arianas do norte da Índia.
Baseado no dialeto sinti, este é o primeiro esboço gramatical acerca de uma
variedade do romani, e é também a primeira comparação sistemática do romani com
outra língua indo-ariana.[57]
Perseguições
e preconceitos
Uma
mulher cigana com um oficial alemão e o psicólogo nazista Dr. Robert Ritter
Sinti e
Roma, na cidade alemã de Asperg, prestes a serem deportados pelos nazis durante
a II Guerra Mundial (1940).
A falta
de uma ligação histórica precisa a uma pátria definida ou a uma origem segura
não permitia que fossem reconhecidos como grupo étnico bem individualizado,
ainda que por longo tempo tenham sido qualificados como egípcios. O clima de
suspeitas e preconceitos se percebe no florescimento de lendas e provérbios
tendendo a pôr os roma sob mau prisma, a ponto de recorrer-se à Bíblia para
considerá-los descendentes de Caim, e portanto, malditos, feiticeiros e
hedonistas tanto por católicos como por luteranos e demais
protestantes.[58][59][60]
Durante
a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), entre 200 000 e 500 000 ciganos europeus
teriam sido exterminados nos campos de concentração nazistas. Entre os roma, o
massacre é denominado de porajmos e começou a ser recuperado pela
historiografia apenas a partir dos anos 1970.[61] No dia 2 de abril de 2009, o
presidente do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pöttering, recebeu um prêmio pelo
trabalho desenvolvido pelo Parlamento Europeu na defesa dos direitos da
comunidade rom na Europa. O prêmio foi entregue por representantes das
principais organizações europeias, em nome da comunidade rom, antes do Dia
Internacional dos Roma, que se celebra no dia 8 de abril.[62]
Em fins
de julho de 2010, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, decidiu, após dois
incidentes envolvendo membros franceses da comunidade cigana, promover o
retorno em massa dos roma à Romênia e Bulgária,[63] o que suscitou uma grande
polêmica.[64]
Lusofonia
Ver
também: Ciganos no Brasil
Os
ciganos terão entrado em Portugal na segunda metade do século XV, pela
fronteira da Estremadura espanhola, e rapidamente ganharam uma má reputação
entre os portugueses. Em 1526, D. João III foi o primeiro rei a
institucionalizar a discriminação contra os ciganos, ordenando que fossem
expulsos os que estavam no Reino e que fosse impedida a entrada de mais. No ano
da morte de D. João III (1557), a sua mulher Dona Catarina voltou a ordenar a
sua expulsão, e, em 1573, o seu neto D. Sebastião anulou as licenças de
permanência obtidas por alguns e deu-lhes um mês para abandonar o Reino.[65] No
ano seguinte, foi documentada a primeira migração de ciganos para o Brasil,
quando o cigano João Torres, a sua mulher e filhos foram degredados para essa
colónia.[66]
Debret,
"Interior de casa cigana" (c. 1820)
A União
Ibérica não trouxe alívio à situação dos ciganos, com os Filipes a reiterar a
expulsão dos ciganos e a implementar a pena de morte para os que contrariassem
estas ordens. Na verdade, estas políticas só começaram a ser revertidas no
século XVII, quando D. Pedro II começou a fazer distinção entre os ciganos
vindos do estrangeiro e os naturais ou descendentes de portugueses, mandando
exterminar os primeiros, e impondo aos outros que falassem e se vestissem como
os restantes habitantes do reino. D. João V insistiu na política de assimilação
cultural forçada e condenou muitos ciganos ao degredo por não cumprirem com o
estipulado.[65] Nas colónias, a reação era bastante diferente: enquanto no
Brasil não faltavam queixas, em Angola, o governador António Álvares da Cunha
pedia que lhe enviassem mais, uma vez que resistiam melhor ao clima. No final
de contas, muitos dos que foram inicialmente para o Brasil acabaram em Angola.
Finalmente, com o início do Liberalismo no século XIX, Portugal reconheceu a
todos os nascidos no seu território o direito de serem portugueses.[65]
Em
2007, os povos tradicionais, entre eles o cigano, foram reconhecidas pelo
Governo do Brasil,[67] que através da política de desenvolvimento sustentável
das comunidades tradicionais (PNPCT), ampliou o reconhecimento feito
parcialmente na Constituição de 1988, agregando aos indígenas e aos quilombolas
outros povos tradicionais,[68] a saber: ribeirinho, caiçara, castanheira,
catador de mangaba, retireiro, cipozeiro, extrativista, faxinalense, fecho de
pasto, geraizeiro, ilhéu, isqueiro, morroquiano, pantaneiro, pescador
artesanal, piaçaveiro, pomerano, terreiro, quebradeira de coco-babaçu,
seringueiro, vazanteiro e, veredeiro.[69][68]
Demografia
Apresentações
de rua durante o Festival Cigano Mundial, ou "Khamoro", em Praga,
2007
Em
comunicação apresentada durante o encontro "Ciganos no século XXI",
realizado em Lisboa, em setembro de 2010, o espanhol Santiago González Avión,
diretor da Fundação Secretariado Cigano, na Galiza,[70] apontou as divisões
entre as próprias comunidades ciganas. "Entre os ciganos de nacionalidade
espanhola, a fragmentação é forte. Galegos e castelhanos dividem-se. E há
discriminação também entre os ciganos transmontanos, de nacionalidade portuguesa,
e os espanhóis", apontou González. O documento também denuncia a situação
de pobreza e exclusão social destes grupos.[49]
Educação
Segundo
o relatório de Ofsted de 1999, os alunos ciganos de famílias itinerantes
apresentam resultados mais baixos que os de qualquer grupo étnico minoritário e
são o grupo de maior risco no sistema de ensino no Reino Unido. O relatório
Swann revela diversos factores que influenciam a formação de crianças ciganas
da mesma forma que influenciam outros grupos minoritários étnicos. Entre estes
factores, os que têm maior peso foram identificados como o racismo e
discriminação, mitos, estereótipos e a necessidade de uma maior ligação das
escolas com os pais das crianças ciganas.[71][72][73][74][75] No Brasil, Mirian
Stanescon foi a primeira cigana a se formar num curso superior. Formou-se em
direito na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, em 1973.[76]
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