Contribuições da teologia para a igreja – crescendo em
maturidade e testemunho
A prática saudável do Evangelho depende do verdadeiro
conhecimento que vem somente de Deus
Por Fernanda M. Terra Azevedo
Pode uma igreja ser saudável e madura sem um conhecimento
profundo sobre Deus e sua Palavra? As Escrituras nos oferecem diversas
respostas de que isso não é possível. Começando pelo texto de Oseias 4.6: “O
meu povo está sendo destruído por falta de conhecimento”.1 Nesse contexto,
vemos que o povo de Israel se afastou do conhecimento e da sabedoria de Deus,
aproximando-se das práticas abomináveis dos demais povos. Podemos perceber que
há uma lógica no comportamento dos israelitas que começa no campo do
conhecimento e se desdobra em suas práticas.
“É melhor a prática do que a teologia vazia” é uma expressão
comum que, certamente um cristão com um pouco mais de tempo de igreja, já
ouviu. Entretanto, assim como o conhecimento sem prática é vazio, a prática sem
conhecimento também é. No Antigo Testamento, o povo de Israel se afastava dos
princípios de Deus quando deixava de observar seus mandamentos. Aproximavam-se
do conhecimento dos deuses de outros povos e passavam a praticar a mesma coisa
que eles.
Partindo para o Novo Testamento, temos outros exemplos
claros sobre essa questão, como a Igreja de Coríntios. A partir dela, podemos
tirar ensinamentos importantes sobre a vida comunitária e o caminho para o
amadurecimento na fé.
Uma igreja com dons, mas sem sabedoria
No início da Carta, é possível notar, no verso 7, do
capítulo 1, que a igreja possuía dons (...) “não lhes faltam nenhum dom
espiritual (...)”. Ou seja, os irmãos daquela comunidade possuíam uma prática
fé. Porém, na sequência, o apóstolo Paulo inicia sua exortação sobre a divisão
e os demais pecados cometidos. Quando analisamos o contexto, percebemos que os
membros não estavam respeitando a importância da comunhão em torno da pessoa de
Jesus Cristo, pecando contra Deus e uns com os outros.
A falta de conhecimento e sabedoria podem levar ao uso errado
dos dons que Deus deu ao seu povo de forma específica. O que leva a um
exercício equivocado do ministério, gerando confusão, divisão, brigas e mau
testemunho do povo de Deus.
Paulo condena a sabedoria humana que rejeita a Deus
Na tentativa de justificar a prática sem teologia, alguns
utilizam o texto de 1 Coríntios 1.18-31, principalmente com ênfase na parte
“Onde está o sábio? Onde está o erudito? Onde está o questionador desta era?
(...)”. Entretanto, Paulo não está rejeitando a sabedoria ou o conhecimento em
si, mas a tentativa humana de querer colocar a própria inteligência acima de
Deus. O ponto em questão é que os sábios daquela época queriam colocar Cristo
em sua própria perspectiva, enquanto a Cruz é a verdadeira mensagem que
confronta a suposta sabedoria humana. Como Gordon Fee expôs: “O Cristo
crucificado como poder de Deus e, portanto, como sabedoria no mundo é a
contradição suprema para maneiras meramente humanas para perceber a realidade”.
2 É a sabedoria de Deus que importa e deve conduzir a vida de todos os
cristãos.
Estejam preparados para explicar a razão de vossa fé
Saber a razão da nossa fé, implica em saber explicá-la.
Logo, precisamos conhecer o que cremos e o porquê. Em Atos 17.13 encontramos o
exemplo dos bereanos, que com interesse examinavam as Escrituras para conferir
se a pregação era verdadeira. Perceba, que esses exemplos demonstram que a
prática saudável do Evangelho tanto no sentido individual quanto em comunidade
depende do verdadeiro conhecimento que vem somente de Deus.
A teologia tem o papel de contribuir com os estudos dos
cristãos, primeiramente, para aprofundar o conhecimento e o relacionamento com
Deus de forma individual e que se reflete no coletivo, que é a vida em
comunidade. Assim, uma comunidade que se aprofunda nas Escrituras, torna-se uma
comunidade que:
Usa corretamente os dons: quando os cristãos se voltam para
a sabedoria da mensagem da Cruz, eles entendem que o exercício do ministério
não é para a vanglória, mas para a adoração em torno da pessoa de Jesus Cristo,
a edificação do corpo, a santidade e proclamação do Evangelho, preservando a
unidade da igreja.
Amadurece no ensino da Palavra: o estudo teológico se torna
uma ferramenta para a compreensão mais profunda de Deus e de seu propósito para
a humanidade. Levando os cristãos a se dedicarem ao estudo, ajudarem uns aos
outros na caminhada da fé e a viver o ensino de forma natural da vida da
igreja.
Discipula com maturidade: o discipulado se torna uma
consequência natural da vida cristã, uma vez que a profundidade dos estudos nos
leva a caminhar uns com os outros e a entender a importância dos
relacionamentos para glorificar a Cristo.
Protege-se dos ensinamentos errados: quando uma igreja
entende o valor da teologia, ela tem a oportunidade de agir como os bereanos,
sempre consultam as Escrituras para validar se o que está sendo dito é a
verdade de Deus. O que ajuda a igreja a se proteger dos falsos profetas e não
se deixar levar por qualquer vento de doutrina.
Explica a razão da sua fé com temperança e amor: um dos
desafios dos cristãos de todas as eras é a defesa da fé diante dos
questionamentos humanos. O estudo teológico contribui para que a igreja saiba
discernir o que está acontecendo no mundo e como o Evangelho responde a isso
com maturidade e temperança.
Age com coragem nos tempos mais desafiadores: sabiamente,
A.W. Tozer disse: “um mundo assustado precisa de uma igreja corajosa”. Por
diversos momentos de sofrimento humanitário ao longo da história, os cristãos
foram para a linha de frente cuidar dos necessitados e pregar a mensagem da
Cruz. Uma igreja madura não se abala facilmente com as dores e o sofrimento
deste tempo presente, mas entende que a missão de Deus está seguindo o seu
curso e devemos responder com firmeza e amor, sabendo que a nossa esperança
está firmada na glória futura em Cristo.
O estudo teológico tem muito a contribuir com a maturidade
da igreja e o exercício de sua fé com alegria. Lembrando de que, em todo tempo,
precisamos do Espírito Santo para nos revelar a vontade de Deus e trazer
maturidade. Diante dos desafios que vivemos, sem dúvida, o mundo anseio por uma
igreja corajosa, que tem sua esperança na glorificação e vive verdadeiramente a
unidade da fé para que o mundo saiba que Cristo foi enviado.
Fernanda M. Terra Azevedo é formada em teologia pelo
Seminário Evangélico do Betel Brasileiro, mestranda em Estudos Bíblicos e
Pastorais pelo Seminário Servos de Cristo e mestre em Ciências Sociais pela PUC
| SP. Fernanda colaborou para o painel A diferença que a teologia faz,
publicado na edição 408 da Ultimato.
Notas
1. Nova Almeida Atualizada, 2017
2. GORDON, D. Fee. Comentário exegético 1 Coríntios. 1ª ed.
Vida Nova. São Paulo, 2019.
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