Mais Médicos - versão cubano-brasileira dos feldsher soviéticos |
Sex, 14 de Março de 2014 10:55 |
Escrito por Francisco Cardoso*
Na antiga União Soviética (URSS) existia uma figura no serviço público de saúde denominada "Feldsher", ou Feldscher em alemão, cujo significado literal era "aparador do campo". Os feldsher soviéticos eram profissionais da saúde, formados em "saúde básica", que intermediavam o acesso do povo à medicina oficial, em especial nas áreas remotas, rurais e periferias soviéticas, sendo uma espécie de práticos de saúde, ou paramédicos como são chamados hoje em dia, e exerciam cuidados básicos em clínica, obstetrícia e cirurgia às populações dessas regiões.
Sua
inspiração e nome derivavam dos feldscher alemães que surgiram no
século XV como operadores de saúde (cirurgiões barbeiros) e com o tempo
se espalharam ao longo do que foi o império prussiano e territórios
eslavos, compondo a linha de frente também nas forças militares, sendo
uma espécie de força militar médica nesses exércitos eslavos e saxões.
Em vários países foram adotados como profissionais da linha de frente,
atuando sempre nos cuidados básicos e em alguns casos chegando a se
especializar em alguma prática específica, como optometria, dentista e
otorrinolaringologia. Na Rússia começaram a se popularizar a partir do
século XVIII.
Diferentemente
dos médicos, os feldsher possuíam uma formação mais curta e limitada. A
duração do curso era em 4 anos e envolvia basicamente treinamento em
ciências básicas e treinamento simples em ciências médicas clínicas, em
especial medicina interna, serviço de ambulância e emergência
pré-hospitalar e sempre tinha um espaço para treinamento militar, em
campo de treinamento do exército, pois os feldsher estavam na linha de
frente da nação, nas fronteiras. Eram 8 anos de colégio mais 4 em
treinamento prático, considerados, portanto de nível técnico. Era um
treinamento um pouco melhor que a de enfermeira, cujo foco era mais os
cuidados básicos de saúde e técnicas/procedimentos de enfermagem.
Os
médicos soviéticos, ao contrário, levavam pelo menos 10 anos de colégio
mais 7 anos de faculdade com carga horária total pelo menos duas vezes
maior (estudavam todos os sábados). Apesar do tamanho valor de formação,
seus salários eram ridículos, pois o regime socialista os considerava
"servos do povo".
O
sistema cubano de ensino médico reproduziu, a partir do encampamento da
Revolução Cubana pela URSS em 1961, esse sistema de formação em saúde.
Os médicos cubanos, de verdade, ficam lá em Cuba, em sua maioria. O que
Cuba "fabrica" aos milhares, todos os anos, com projetos como a ELAM e
demais faculdades, em cursos de 4 anos, não são nada além da versão
cubana dos "feldsher" soviéticos. São paramédicos treinados para atuar
em linha de guerra, campos remotos e áreas desprovidas em geral.
A
diferença é que Cuba "chama" esses feldsher de "médicos", inflando
artificialmente a sua população de médicos. Com essa jogada, Cuba possui
um dos maiores índices de médicos por habitante do planeta. E isso
permitiu outra coisa ao regime cubano: Usar esses feldsher como agentes
de propaganda de sua revolução e seus interesses não apenas dentro, mas
fora de seu território.
Ao
longo de décadas o regime cubano vem fazendo uso do empréstimo de
mão-de-obra técnica, paramédica, porém "vendida" como médica, para
centenas de países a um custo bilionário que fica todo com o regime
cubano. Literalmente, como na URSS, os feldsher são "servos do povo" (no
caso, leia-se "povo" como Partido Comunista de Cuba).
Recentemente
a presidente Dilma lançou um demagógico e absurdo projeto de "resgate
da saúde" do povo brasileiro às custas apenas da presença de "médicos"
em locais desprovidos do mesmo, aliás, por culpa do próprio governo.
Ao
invés de pegar os médicos nacionais, recém-formados ou interessados, e
criar uma carreira pública no SUS e solidificar a presença do médico
nesses povoados, ela resolveu importar feldsher cubanos a um preço
caríssimo, travestidos de médicos, ao que seu marketing chamou de "Mais
Médicos". Diante da recusa inicial, simulou-se uma seleção de nacionais,
dificultada ao extremo pelo governo, para depois chamar os feldsher.
O
objetivo aqui é claro: O alinhamento ideológico entre os regimes, o uso
de "servos do povo" para fazer propaganda do governo, encher o bolso
dos amigos cubanos de dinheiro e evitar a criação de uma carreira
pública que poderia ser crítica e demandadora de recursos. Como não
podiam se assumir como fedlsher, jogaram um jaleco, os chamaram de
médicos e os colocaram para atuar como médicos de verdade.
Por
isso as cubanadas não param de crescer. Por isso os erros bizarros, os
pânicos diante de pacientes sintomáticos. Os cubanos não são médicos,
são feldsher - agentes políticos com treinamento prático em saúde - que
vieram ao Brasil cumprir uma agenda política e, segundo alguns,
eventualmente até mesmo militar.
São
paramédicos. Isso explica as "cubanadas". Se houvesse decência no
Ministério do senhor Padilha, ele retiraria o termo "médico" desse
programa, e seria mais honesto. Mas honesto não ganha eleição nesse
país.
* É médico perito previdenciário em São Paulo.
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