2-Os
Tupinambás de Olivença vivem na região de Mata Atlântica, no sul da Bahia. Sua
área situa-se a 10 quilômetros ao norte da cidade de Ilhéus e se estende da
costa marítima da vila de Olivença até a Serra das Trempes e a Serra do
Padeiro.
A vila
hoje conhecida como Olivença é o local onde, em 1680, foi fundado por
missionários jesuítas um aldeamento indígena. Desde então, os Tupinambá residem
no território que circunda a vila, nas proximidades do curso de vários rios,
entre os quais se destacam os rios Acuípe, Pixixica, Santaninha e Una.
Apesar
da longa história de contato, a filiação ameríndia é fundamental para
compreendermos a vida social dos Tupinambá de Olivença na atualidade. Não se
trata de um resquício histórico remoto, mas de uma marca efetiva na organização
social e modo de vida dos Tupinambás que hoje habitam a região. Entre outros
aspectos, destaca-se sua organização em pequenos grupos familiares e certos
gostos alimentares, como a preferência pela “giroba”, uma bebida fermentada produzida
por eles.
Ainda
que os Tupinambá de Olivença se considerem muitas vezes “caboclos” ou mesmo
“índios civilizados”, isso nunca significou um abandono de sua condição
indígena. O Estado retirou-lhes os direitos indígenas diferenciados a partir do
fim do século 19, em função das visões restritivas que os órgãos oficiais
tinham a respeito de quem era ou não indígena. Foi somente com a Constituição
de 1988 que se criou abertura legislativa para que as solicitações dos
Tupinambá de Olivença, e de outros povos, fossem ouvidas e pudessem ter
respaldo.
Em
2001, os Tupinambá de Olivença foram reconhecidos oficialmente como indígenas
pela Funai. A primeira fase de demarcação do seu território concluiu-se em
abril de 2009 com a publicação do resumo do relatório de identificação e
delimitação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença.
Sítio
arqueológico da Serra das Trempes, Terra Indígena Tupinambá de Olivença. Foto:
Susana Viegas, 2004.
Sítio
arqueológico da Serra das Trempes, Terra Indígena Tupinambá de Olivença. Foto:
Susana Viegas, 2004.
O uso
do nome Tupinambá como autodesignação pelos indígenas de Olivença indica antes
de tudo uma identificação social, cultural e histórica com as populações tupi
que viveram nessa região.
O padre
jesuíta e historiador Serafim Leite foram claro quando identificou os índios do
aldeamento de Olivença como Tupi: a aldeia de Nossa Senhora da Escada “era
constituída por índios Tabajaras e Tupinaquins”. O Ouvidor da Bahia, Luis
Freire de Veras, que em 1768 erigiu a Vila Nova de Olivença, também reconheceu
os índios que ali viviam como “índios da nação Tupy”. Ainda que seja sabida a
existência, em determinados períodos históricos, de índios Camacã e Botocudo na
região de Olivença, a predominância tupi nunca foi questionada. Em 1938, Curt
Nimuendaju visitou Olivença e observou que se tratava de um povo Tupinakí.
Segundo
o historiador John Monteiro, no século 16, os Tupi estavam divididos entre os
povos que habitavam a capitania de São Vicente e a boca do Amazonas –
genericamente designados de Tupinambá - e aqueles que habitavam a região ao sul
de São Vicente – os Guaranis. De acordo com esta distinção, os índios que
viviam na região de Ilhéus durante esse período eram os Tupinambás, que foram
mencionados como povos da família linguística Tupi-Guarani em mapas históricos
como o de Curt Nimuendaju.
Peça de
cerâmica encontrada no sítio arqueológico da Serra das Trempes. Foi
identificada como sendo Tupi. Foto: Susana Viegas, 2004.
Peça de
cerâmica encontrada no sítio arqueológico da Serra das Trempes. Foi
identificada como sendo Tupi. Foto: Susana Viegas, 2004.
Uma
importante descoberta arqueológica que ocorreru durante os trabalhos de
identificação e delimitação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença confirmou a
presença histórica de uma populaçao tupi na região. Em uma área rochosa e
recolhida nas montanhas, foram encontradas duas peças de cerâmica e uma delas
foi identificada como Tupi devido à técnica de corrugado utilizada na
confecção, bastante conhecida entre os grupos tupi-guarani da costa atlântica.
População
Uma
análise comparativa das fontes do período colonial e imperial permite indicar
que, até o final do século 19, a população de Olivença era quase exclusivamente
indígena e somava cerca de 900 habitantes. Os Tupinambá de Olivença contavam,
em 2004, com cerca de 3000 pessoas.
Em
2004, os estudos de campo realizados para a demarcação da terra indígena
confirmaram os dados levantados no mesmo período pela Funasa, que estimou em
3500 os Tupinambá habitantes na região e indicou a existência de muitos
parentes fora dela. Em 2009, a Funasa realizou outro censo que estimou em cerca
de 4500 a população tupinambá residente na área.
Irmãs e
seus filhos. Foto: Susana Viegas, 2004.
Irmãs e
seus filhos. Foto: Susana Viegas, 2004.
A
análise demográfica dos dados da Funasa (2004), confirmados pelos estudos de
campo de 2004, mostra que se trata de uma população com uma expectativa de vida
reduzida, uma taxa de mortalidade muito elevada e jovem, visto que mais de 50%
da população tem até 24 anos de idade (35% de pessoas com até 14 anos),
enquanto os idosos (com mais de 65 anos) representam apenas 5%. A distribuição da população por sexo indica
que existem mais homens (53%) do que mulheres (47%), o que pode ser uma
consequência demográfica da expropriação territorial sofrida pelos Tupinambá no
século 20. De fato, as dinâmicas sociais de gestão territorial passaram a ser
escassas, pois as mulheres se casaram com não-índios e, em muitos casos,
abandonaram a região, indo morar com seus maridos em outras áreas. Foram os
homens que preferencialmente ficaram vivendo nas pequenas áreas de terra de
seus pais, perpetuando a ocupação tupinambá.
As
áreas do território com maior número de pessoas são a da vila, aquelas na
serra, no Acuípe de Baixo e do Meio e em Sapucaeira.
Localização
O
território dos Tupinambá de Olivença está localizado no sul do estado da Bahia.
Grande parte dele está inserido no município de Ilhéus, mas também situa-se nos
municípios de Buerarema e de Una. Trata-se de uma área predominantemente de
Mata Atlântica (Mata Higrófila Sul-Baiana) que vai até a costa marítima. A área
melhor preservada é aquela que foi utilizada exclusivamente para a extração de
piaçaba das palmeiras nativas e que predomina na região próxima à costa
marítima (Acuípe, Curupitanga, Campo de São Pedro), penetrando até cerca de 10
km no interior do território indígena. Há uma grande diversidade de recursos
naturais na Terra Indígena Tupinambá de Olivença, que também contém áreas de
solo pobres e de solos mais ricos, como aqueles que são encontrada na chamada
região cacaueira do sul da Bahia.
A faixa
litorânea utilizada pelos Tupinambá é formada por praias, mangues e restingas.
A zona de estuário é lodosa e repleta de manguezais. O material (sedimentos)
que forma esses bancos de areia provém dos vários rios que ali desembocam, como
o Acuípe e o Maruim.
Língua
Os
Tupinambás de Olivença falam exclusivamente o Português. Referências históricas
indicam que, no final do período das missões jesuíticas (segunda metade do
século 18), alguns índios do aldeamento já falavam português e a maioria falava
a língua geral, o Nheengatu. As fontes do início do século 19 mencionam que a
maioria dos índios falava exclusivamente o Português, mas em 1938 Curt Nimuendaju,
durante uma visita a Olivença, encontrou vários índios que ainda falavam
Nheengatu. Estes dados levam a crer que a generalização absoluta do Português
entre os índios teria ocorrido apenas no século 20.
Há
entre os Tupinambá de Olivença um sotaque que chamam de “fala de índio” ou
“fala de caboclos”. Trata-se de uma maneira pouco ortodoxa de entoar as
palavras, uma espécie de sotaque característico dos índios que vivem no
interior. A “fala de índio” é um modo de falar que alguns rotulam de “estucado”
ou “estiado”. É um ritmo na entoação das palavras que pode ser descrito, por
aproximação, ao que na interpretação musical se designa como stacatto. Assim,
em uma frase, cada palavra é dita de forma curta, sem prolongamentos, como se
fosse intercalada por pequenas pausas.
Histórico da ocupação
Os
povos tupi já habitavam a região sul da Bahia quando as primeiras frotas de
europeus chegaram à região em 1500. Linguistas, como Métraux, consideram que a
migração tupi em direção à costa atlântica teria se dado há algumas décadas
antes da chegada dos colonizadores. Entretanto arqueólogos apontam para uma
migração anterior: estas populações estavam ali há mais de 700 anos. Vários
documentos comprovam que foi na década de 1680 que a aldeia de Nossa Senhora da
Escada foi fundada.
O
espaço dessa aldeia foi apropriado muito cedo pelos índios que conseguiram, por
exemplo, que lhes fossem concedidos cargos administrativos de Capitão-mor e
Sargento-mor. Ao mesmo tempo, os índios viviam cotidianamente na área da mata,
onde tinham suas roças (a posse de algumas destas áreas, chamadas “terras dos
ditos índios”, foi reconhecida na época). Esse modo de ocupação do território
em que o tempo cotidiano é dividido entre aldeia e as áreas de mata próximas
aos rios (principalmente o curso dos rios Acuípe e o Pixixica) persiste até
hoje.
Na
segunda metade do século 18, o aldeamento indígena foi convertido em Vila de
Olivença de Índios. e sua administração passou a ser regida pelo Diretório dos
Índios.
No
Período Imperial, os índios que habitavam na Vila de Olivença voltaram a
assumir papéis administrativos. Contudo, tal situação não foi resultado de uma
mudança nas leis vigentes. Pelo contrário, esta aconteceu apesar da
continuidade das leis indigenistas, particularmente, do Código de Posturas, no
qual a política de tutela dos índios deixava-os nas mãos de vereadores com
interesses econômicos locais bastante claros. A intervenção e ação dos índios
da vila se manifestaram de diversas formas: foram eleitos para juiz de paz e
considerados proprietários de terras que geriram diretamente.
Mapa
temático representa as distâncias e localidades identificadas nos Registros de
Óbito do cartório da Vila de Olivença. Trata-se de locais ocupados pelos índios
entre o fim do século 19 e o início do século 20. Mapa: Susana Viegas, 2007.
Mapa
temático representa as distâncias e localidades identificadas nos Registros de
Óbito do cartório da Vila de Olivença. Trata-se de locais ocupados pelos índios
entre o fim do século 19 e o início do século 20. Mapa: Susana Viegas, 2007.
A
análise dos Registros de Óbito do Cartório da Vila de Olivença do final do
século 19 permite traçar três formas de ocupação do território praticadas pelos
Tupinambá de Olivença neste período. A primeira correspondeu a um modo de vida
mais fixo entre o espaço da vila e o seu entorno, onde os Tupinambá mantinham
roças. A segunda foi um tipo de ocupação que alternou períodos na vila e na
Mata, e a terceira modalidade tratava-se de períodos mais longos na mata, com
visitas sazonais ou periódicas à vila.
A
partir do inicio do século 20, a expropriação do território dos Tupinambá de
Olivença começou a ganhar dimensões cada vez mais alarmantes. Foram dois os
fatores que levaram a essa situação: a reclassificação dos índios como
“caboclos”, com a extinção dos aldeamentos missionários na costa atlântica, e o
interesse fundiário da emergente elite cacaueira na região sul de Ilhéus. Os
Tupinambá de Olivença neste período procuraram apoio do Serviço de Proteção aos
Índios (SPI), refugiaram-se e resistiram, mas foram abandonados pelo Estado sem
sequer receber o reconhecimento de suas terras.
Um
relatório do Serviço de Proteção aos Índios (assinado por Alberto Jacobina,
1932) e um documento de Curt Nimuendaju sobre sua visita a Olivença confirmam
que, na década de 1930, os índios da vila estavam sendo “enxotados de seus
lotes” e viviam sob grande “pressão fundiária”. Alberto Jacobina menciona já
nesse momento a participação dos Delegados de Terra como intermediários nos
processos de espoliação fundiária em Olivença.
Entre
as décadas de 1920 e 1930, o processo de espoliação foi, em parte, detido pela
atuação de uma frente de resistência que ficou conhecida como “a revolta de
Marcelino”, levada a cabo por um grupo de índios liderado pelo caboclo
Marcelino. Os índios que viviam no interior, na mata e nas serras acolheram e
protegeram este grupo da perseguição policial e acabaram sofrendo violências
para que denunciassem seu esconderijo. Ainda que a imprensa da época fosse
propriedade de fazendeiros, em 1929, o Diário da Tarde afirmou que o caboclo
Marcelino havia estado na sede do jornal e foi entrevistado pelo Capitão
Vasconcelos, do Serviço de Colonização dos Selvagens. Este jornal apontou ainda
que “nas capitanias do estado e da república, consta que andou pelos ministérios
e secretarias, tratando muito a sério da defesa dos nossos aborígines […]
clamando proteção para os donos verdadeiros da terra e mata virgens”.
De
acordo com os Autos do interrogatório feito a Marcelino quando esteve preso, em
1936, ele fez uma última tentativa de obter apoio do SPI quando se deslocou ao
Posto Indígena Caramuru-Paraguassu. Lá solicitou ao chefe de Posto que “o
apresentasse às autoridades competentes, para que pudesse perante estas
reclamar os seus direitos”. Marcelino foi preso logo em seguida. Os índios
foram expulsos da vila depois de ações normativas administrativas excludentes
que decretaram, por exemplo, a proibição de construção de casas de taipa.
Alguns índios se recordam dos episódios violentos que marcaram esse processo.
Nas
décadas de 1940 e 1950, os Tupinambá de Olivença fixaram-se mais nas áreas de
mata. No entanto, a colonização intensificou-se também nessa região. A
privatização de terras por parte de não-índios envolveu permutas com os
Tupinambá de Olivença baseadas em um sistema de “laços de dívida”, por meio do
qual os Tupinambá acabaram entregando suas roças. Ao que tudo indica, foi
principalmente na década de 1970 que a situação fundiária tornou ainda mais
complicada a reprodução do modo de vida dos Tupinambá de Olivença.
Esse
processo se agravou devido ao boom do cacau, pois mais investidores procuraram
as terras que circundavam a região cacaueira e trouxeram um número cada vez
maior de trabalhadores assalariados para Olivença. Segundo depoimentos
coletados em pesquisa antropológica, foram encontrados indígenas mortos no rio
Una, como resultado de tal pressão.
Sem a
possibilidade de se deslocar e ocupar todo o antigo território, os Tupinambá
passaram a construir suas casas em áreas cada vez menores. Mesmo assim mantiveram
o costume de se dispersar no espaço, construindo novas casas.
A
partir das décadas de 1980 e 1990, a percepção do confinamento territorial se
fez sentir entre os Tupinambá de Olivença. Ficaram impossibilitados de abrir
novas roças, estabelecer novas unidades residenciais ou mesmo se deslocar no
território para ter acesso a recursos naturais vitais, como a mata, a piaçaba e
os rios. As áreas de ocupação ficaram cada vez mais reduzidas, criando entre os
Tupinambá uma sensação de “claustrofobia”.
“Casa
Isolada” em Acuípe. Foto: Susana Viegas, 1998.
“Casa
Isolada” em Acuípe. Foto: Susana Viegas, 1998.
A
prática de abrir novas áreas de habitação e de abandonar as anteriores tem sido
reconfigurada pelos Tupinambá. Essas casas abandonadas são chamadas de “casas
isoladas”, pois ao deixarem de ser habitadas, ficam separadas da vida humana e
rodeadas de mato. É fundamental para os Tupinambá a ideia da revitalização da
vida a partir do abandono cíclico de espaços, na qual a mata tem um papel muito
importante.
Diante
da expropriação sofrida ao longo de décadas, é particularmente significativo o
fato dos Tupinambá não terem nunca abandonado o seu território. Pelo contrário,
eles iniciaram uma luta pela reconquista de sua área de ocupação tradicional.
No entanto, muitos parentes dos Tupinambá vivem em bairros de Ilhéus e ainda
outros migraram para grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
Em
2003, quando reivindicaram à Funai a demarcação de sua terra, cada uma das
áreas de habitação tupinambá tinha em média apenas um por cento (1%) do tamanho
considerado na região como uma pequena propriedade fundiária.
Outras
leituras
Cronologia
da luta pelo reconhecimento étnico
“Histórico do contato
Os
Tupinambás fixaram-se na região de Olivença a partir do contato com os jesuítas
no século 17. Fontes coloniais mencionam que no período do aldeamento jesuítico
foram criaram áreas residenciais para os índios chamados de “livres”. Tais
áreas localizavam-se na região do rio Una (nas serras) e tinham como objetivo
“garantir a subsistência e o trabalho aos índios livres da Aldeia de Nossa
Senhora da Escada”.
Durante
o período colonial, os índios da Vila de Olivença estabeleceram relações com
grupos Jê (Camacã, Botocudo e Pataxó). A relação dos índios aldeados com os Pataxó
parece ter oscilado entre o conflito e um convívio apenas temporário.
Várias
narrativas dos Tupinambá que habitam a região das serras e do rio Una trazem
descrições de índios “selvagens” com quem lidavam no passado de um modo
marcado, muitas vezes, por relações de alteridade. Alguns se referem a esses
índios “outros” como aqueles que “comiam cru”, que falavam outra língua e
usavam arco e flecha. Esse contraste se explica pelo fato dos Tupinambá
assumirem a identidade dos “índios civilizados”.
Atualmente
os grupos indígenas com os quais os Tupinambá de Olivença têm mais contato são
os Pataxó Hã Hã Hãe e os Pataxó, ainda que tais relações não sejam
sistemáticas. Os Tupinambá também estabelecem relações com os Tumbalalá por
causa das iniciativas organizadas pela organização não-governamental Tidewá. A
relação com os Pataxó Hã Hã Hãe de Caramuru-Paraguassu é marcada por autonomia
e ao mesmo tempo apoio mútuo. Existe um pequeno grupo de Tupinambá vivendo
junto com os Pataxó Hã Hã Hãe na área de Caramuru-Paraguassu. Tal grupo se
formou a partir da chegada à área de um homem tupinambá na década de 1930.
Os
não-índios, que vivem nas cidades da região cacaueira, sempre tiveram uma
atitude discriminatória e ambivalente em relação ao reconhecimento da identidade
indígena dos Tupinambá de Olivença. Um exemplo dessa ambivalêcia está no fato
de, nas décadas de 1920 e 1930, a imprensa relatar que os índios de Olivença
eram “selvagens perigosos” que “flechavam” veranistas na praia e ao mesmo tempo
e referidos como “bugres” ou “caboclos”. Ainda hoje, a atitude mais comum entre
as autoridades da região de Ilhéus face à identidade dos Tupinambá de Olivença
ainda é regida por princípios de desconfiança, fortemente alimentados pelo
imaginário do “índio puro, selvagem e extinto”.
O
conhecimento que os habitantes não-indígenas da região têm dos Tupinambá
baseia-se no contato que estabelecem com eles na vila. Os Tupinambá que
freqüentam mais a vila acabam servindo como uma espécie de “vitrine” de seu
povo. A surpresa de muitos não-índios que vão à região da Mata pode ser
exemplificada com o relato de um funcionário da Funai, transcrito em seu
relatório de visita de 1997: “Após contato e revelações do grupo meio arredio
pelo pouco que são visitados, pude constatar que vivem em regime fechado e
ainda conservam seus traços étnicos, legado dos primeiros povos a habitarem a
região costeira da Bahia” (cf. Viegas, 2007).
Lugares, as aldeias tupinambá
Os
Tupinambá de Olivença vivem em pequenas unidades residenciais, distribuídas em
uma área de cerca de 50.000 hectares. Apesar de não viverem isolados dos
vizinhos não-indígenas, os Tupinambá de Olivença vivem em áreas residenciais
com características próprias, comumente designadas de lugares.
Um
lugar em Sapucaeira. Foto: Susana Viegas, 1998.
Um
lugar em Sapucaeira. Foto: Susana Viegas, 1998.
A
designação lugar é normalmente seguida do nome de um dos habitantes da casa
principal – geralmente daquele que a fundou: “o lugar de Miguel”, por exemplo.
Com relação à organização socioeconômica, pode-se dizer que as casas têm certa
independência no que diz respeito à produção e ao consumo. Cada casa possui sua
roça e a farinha ali produzida pertence exclusivamente àqueles que cultivaram
as mandiocas.
Para
além desses lugares, muitos índios moram em “aldeias” que resultaram do
"movimento de retomada”, que tem sido o único capaz de viabilizar uma
certa reordenação territorial em um período de espera pela efetiva demarcação
de sua terra, iniciada em 2003.
Organização Social
A
aliança conjugal entre os Tupinamba de Olivença é um ato totalmente destituído
de ritualização ou de obrigações entre os parentes do noivo e da noiva. O
casamento efetiva-se por meio da co-habitação do esposo e da esposa, que
constroem uma casa e abrem uma roça. A fundação de uma área residencial ou um
lugar é central para as dinâmicas sociais, particularmente para as relações
políticas locais. Os critérios que levam alguém a ser visto como liderança na
comunidade estão relacionados ao fato de ser ou não fundador de um lugar, além
da sua capacidade de atrair para a sua casa os filhos e suas respectivas
famílias.
Reunião
sobre a demarcação da Terra Indígena durante o GT FUNAI. Foto: Susana Viegas,
2003.
Reunião
sobre a demarcação da Terra Indígena durante o GT FUNAI. Foto: Susana Viegas,
2003.
As
lideranças voltadas mais especificamente para as relações dos Tupinambá de
Olivença com o Estado se formam a partir de lógicas que combinam a escolha de
líderes mais jovens e aqueles que conhecem melhor a história do povo, como os
mais velhos. O fato de jovens mulheres indígenas terem vivido um certo tempo na
cidade e de, mais recentemente, terem mais acesso ao sistema educacional têm
feito com que algumas assumam papéis de liderança. Munidas de conhecimento e
capacidade de transitar entre os lugares e a cidade, em 1997, as mulheres
tupinambá começaram a se envolver com o desafio de serem de intermediárias nas
relações com o Estado. A primeira liderança eleita em 2002 pelos Tupinambá de
Olivença foi justamente uma mulher.
Noções de Corpo e Pessoa
Mulher
tupinambá com seu filho. Foto: Susana Viegas, 1998.
Mulher
tupinambá com seu filho. Foto: Susana Viegas, 1998.
Os
laços entre o bebê e a mãe são muito valorizados. As práticas em torno do parto
realçam o estreitamento do corpo da mãe e do recém-nascido. Os termos usados
para descrever a placenta fundamentam-se na noção de um corpo comum à mãe e ao
filho: “companheira do menino”, “pedaços de pessoa” e “resto da mulher com o
menino”.
A
placenta pode ser enterrada nos arredores da casa, mas deve sê-la bem fundo.
Diz-se que se enterra “para não deixar à toa” e “para bicho não carregar”.
Entre os animais que circundam a casa, os mais temidos são as galinhas porque
estão geralmente associadas ao ato de espalhar, dissipar ou alastrar.
O
período do “resguardo” é um dos momentos cruciais na constituição e
consolidação de laços entre casas de um mesmo lugar por meio das mulheres. De
fato, a mulher que mais comumente assume a posição temporária da mãe que fica
em “resguardo” é a sogra (avó paterna das crianças), pois o mais frequente é
que o casal resida junto da casa dos pais do esposo. A substituição temporária
de uma mãe nestes casos significa assumir práticas associadas ao cuidado das
crianças e a sua alimentação. Ora, quando as sogras substituem as suas noras
nas tarefas da casa, elas não cumprem qualquer tarefa de cooperação que seja
prevista na relação entre as diversas casas de um lugar. De fato, do ponto de
vista das crianças, se o cuidado prestado nestas tarefas se torna sistemático,
as avós podem se transformar em mães propriamente ditas.
A
valorização da prática de “dar sustento” à constituição dos laços sociais entre
pais e filhos é, no caso dos Tupinambá de Olivença, tão intensa que pode vir
mesmo a substituir o laço primordial entre a progenitora e o recém-nascido. A
casa onde a criança vive e o lugar onde se constitui como pessoa são dimensões
estruturantes da vida social. Quando, por exemplo, há uma separação conjugal, a
decisão sobre a guarda da criança tende para que ela fique morando no seu lugar
de origem. Assim, na maioria dos casos, a criança residirá com o pai e seus
parentes de linha paterna (avó e tias mais frequentemente).
Mulher
carrega beijus em Sapucaeira. Foto: Susana Viegas, 2004.
Mulher
carrega beijus em Sapucaeira. Foto: Susana Viegas, 2004.
Entre
os cuidados que envolvem a formação da pessoa tupinambá, aqueles ligados aos
hábitos alimentares ganham particular destaque. O beiju e a bebida fermentada
de aipim chamada “giroba” são os alimentos que mais condensam esses significados.
Os Tupinambá dizem que a giroba é uma bebida particularmente adequada à
nutrição do bebê, porque é um alimento que “faz” dos bebês caboclos. Vários
adultos dizem que “cresceram bebendo giroba". Esta bebida é constitutiva
da pessoa e suscita no corpo certa disposição para ingeri-la e apreciá-la. O
modo como os Tupinambá tomam a giroba é também singular, já que é hábito
amorná-la antes da sua ingestão. Tal é um hábito muito particular que se
encontra em poucos contextos ameríndios, mas que era curiosamente referido
pelos cronistas do século 16 e 17. Diziam que os Tupinambá, habitantes da costa
atlântica nesse período, preferiam “beber o cauim amornado e a primeira coisa
que faz[ia]m as mulheres [era] um pequeno fogo em torno dos potes de barro para
aquecer a bebida” (Jean de Léry, 1578).
A
maturidade feminina envolve muitos aspectos, e está também associada à
mobilidade entre os lugares ou entre a área da Mata e a cidade. As meninas,
muitas vezes, saem da Mata e vão para a cidade e outras vão morar com seus
maridos em outros lugares. Independentemente do modo como o namoro começou,
geralmente se diz que ele teve início quando o rapaz foi “buscar” uma mulher.
Os rapazes, por sua vez, exercem “trabalho de ganho” na roça e, geralmente,
para consegui-lo têm que deixar a casa dos pais (ao menos temporariamente).
Atividades Produtivas
Produção
de farinha de mandioca em Sapucaeira. Foto: Susana Viegas, 1998.
Produção
de farinha de mandioca em Sapucaeira. Foto: Susana Viegas, 1998.
Os
Tupinambá de Olivença produzem uma enorme variedade de alimentos a partir de
vários tipos de mandioca. Destaca-se a importância da produção de farinha de
mandioca, do beiju e da “giroba” (bebida fermentada) para a vida social e
também para a subsistência dos Tupinambá.
O sistema
de plantio entre os Tupinambá de Olivença é o da agricultura de coivara que
implica na derrubada e queima da mata, na limpeza do terreno e depois na
plantação.
Além da
agricultura, outra atividade importante para a subsistência dos Tupinambá é a
pesca realizada predominantemente nos rios e nas áreas de brejo (entre rios e o
mar).
A
pescaria com armadilhas e pequenas redes como o jererê é muito utilizada e
largamente apreciada pelos Tupinambá de Olivença. O jererê é normalmente
confeccionado pelas mulheres, consistindo numa pequena rede sustentada por uma
armação de vara de embira com forma cilíndrica.
Mulher
tecendo um jererê no Acuípe do Meio. Foto: Susana Viegas, 1998.
Mulher
tecendo um jererê no Acuípe do Meio. Foto: Susana Viegas, 1998.
Para se
pescar com este instrumento, os índios têm que entrar no rio e mergulhá-lo
dentro de água quando avistam um peixe, de forma a aprisioná-lo na rede. Essa é
uma técnica adequada ao período em que o rio está “seco”. São principalmente as
mulheres que pescam com jererê.
A
armadilha feita com “tapagem” corresponde à construção de uma barragem em áreas
de corredeiras, com o objetivo de direcionar a passagem dos peixes maiores para
um só local. Nesta passagem é colocada uma armadilha feita de varas trançadas
com cipó, chamada de Jiqui. Os Tupinambá de Olivença também fazem tapagens de
pedra em áreas onde o rio tem mais força ou mesmo em cachoeiras, como nos rios
Santaninha e Una, ou mesmo em cachoeiras. As tapagens são colocadas
principalmente no período de chuvas e no verão – quando o rio está mais cheio e
agitado -, pois os peixes só ficarão presos no jiqui quando vêm com a
correnteza. Há, no entanto, uma outra técnica de “tapagem”, feita com palha,
que é utilizada em rio “liso”, sem cachoeira.
Jequi,
armadilha usada para fazer a tapagem. Foto: Susana Viegas, 2004.
Jequi,
armadilha usada para fazer a tapagem. Foto: Susana Viegas, 2004.
A pesca
no rio, por sua vez, é complementada pela pesca no mar e pela coleta de
crustáceos no mangue. Para os Tupinambá que habitam nas áreas próximas à costa,
a pesca no mar é atividade importante que e sempre complementada por outras. Já
a coleta de crustáceos no manguezal é fundamental para todos os Tupinambá. A
coleta de caranguejo é uma atividade sazonal, realizada apenas entre os meses de
janeiro e abril. Este período é denominado pelos Tupinambá de “andada”. O termo
descreve o período em que os caranguejos saem debaixo da terra e andam na
superfície. Os Tupinambá não gostam de enterrar as mãos na lama e apanhar os
caranguejos, é por isso que esperam o período da “andada”. Como é apenas neste
período que os índios vão ao mangue, também chamam-no de “data do caranguejo”.
É neste momento que “os caranguejos ficam na euforia”, como dizem alguns
índios. Através do calendário da lua, os Tupinambá sabem os hábitos dos
principais crustáceos que vivem no mangue: uma lua antes da “andada do
caranguejo”, quem anda é o guaiamum macho; uma lua cheia antes da “andada do
caranguejo”, anda o guaiamum fêmea (“andada da pata choca”). Quando está
trovejando, o caranguejo sai do buraco para acasalar. Estas atividades não são
e nunca foram praticadas pelos Tupinambá com fins comerciais.
Armadilha
de caça. Foto: Susana Viegas, 2004.
Armadilha
de caça. Foto: Susana Viegas, 2004.
A caça
é praticada pelos Tupinambá em todas as localidades de seu território, mas
predomina naquelas onde há maior extensão de floresta em fase de regeneração e
onde o acesso à mata não é impedido pelos fazendeiros. A caça é uma atividade
exclusivamente masculina e o conhecimento técnico associado é compartilhado
tanto pelas gerações mais velhas quanto pelas mais jovens. Essas técnicas
tradicionais pressupõem conhecimentos acerca do comportamento dos animais e
implicam em relações específicas entre o caçador e a caça.
A
coleta de piaçaba é a atividade extrativista mais importante entre os Tupinambá
de Olivença. De acordo com documentos do período colonial e imperial, a coleta
da piaçaba foi uma das primeiras atividades desempenhadas com o objetivo de
troca. O que hoje é coletado pelos Tupinambá e valorizado no mercado regional
são as fibras de piaçaba. Estas fibras são utilizadas para a fabricação de
vassouras de uso caseiro e industrial. No século 19, eram usadas como cordas
para amarração dos navios.
Para
esse povo, a fibra é o principal elemento aproveitado da piaçaba. Sua produção
artesanal está vinculada, sobretudo, a esse recurso. Os Tupinambá produzem
vários artefatos, tais como objetos decorativos, utensílios de caça e pesca,
utensílios domésticos, como peneiras, pilões, esteiras, cassuás, cestos,
flechas, lanças, arapucas, laços, jiqui, além de cocares, colares, cangas e adornos. Sementes
coloridas e corantes extraídos de plantas são importantes para a fabricação de
muitos desses objetos.
É de
especial relevância o fato de que as relações socioeconômicas entre os
Tupinambá de Olivença e a sociedade envolvente implicam e implicaram sempre o
uso dos seus conhecimentos tradicionais: a extração da piaçaba, a produção de
farinha de mandioca, o cultivo de roças e a fabricação de pequenos artefatos. A
farinha de mandioca feita pelos índios é bastante valorizada no comércio de
Ilhéus e, até hoje na região, se reconhece a sua especialização técnica na
coleta de piaçaba.
Práticas rituais e festas
As
festas tradicionais dos índios de Olivença estão bastante associadas a rituais
católicos e constituem momentos de particular importância para a constituição e
consolidação de laços entre habitantes de várias localidades.
Mastro
de São Sebastião na praça da vila de Olivença. Foto: Susana Viegas, 2005.
Mastro
de São Sebastião na praça da vila de Olivença. Foto: Susana Viegas, 2005.
A Festa
do Divino Espírito Santo realizada no final do mês de maio é um momento
especial de reunião entre as pessoas que vivem na Mata e na vila de Olivença. A
Festa da Puxada do Mastro ou Festa de São Sebastião, que acontece todo o
segundo final de semana de janeiro, ganhou nos últimos anos um papel mais
relevante nas relações sociais na vila. A Festa de São Sebastião também se
realiza na aldeia tupinambá da Serra do Padeiro, mas apresenta tradições
diferentes.
Na
Festa do Divino Espírito Santo, a bandeira do Espírito Santo circula durante um
mês por todas as localidades da Mata. Os “romeiros”, que carregam a bandeira,
visitam as casas e quando a bandeira sai da vila para a Mata diz-se que ela
“entrou para o mato”. Em certas localidades os “romeiros” levam consigo pessoas
das casas visitadas, que os seguem em outras visitas. Quando se ouve o tambor,
instrumento que anuncia a chegada da bandeira em uma casa, os moradores das
redondezas se aproximam. A festa propicia momentos de sociabilidade entre os
vizinhos, assim como encontros entre as pessoas da vila e da Mata. No
encerramento da festa, por exemplo, uma missa é realizada na igreja de
Olivença, reunindo índios de diversas localidades. Aqueles que vêm da Mata
pernoitam em casas de parentes. A memória dessa visita à vila é relembrada
pelos Tupinambá que vivem na Mata com frequência ao longo do ano.
Na
Festa da Puxada do Mastro, são os habitantes da vila que mais se destacam. Um
dos grupos centrais da festa são os “machadeiros”, escolhidos anualmente.
Quinze dias antes da festa, eles têm o papel de “marcar o pau”, isto é,
dirigir-se à área do “mato” (a cerca de três quilômetros da vila) e escolher os
troncos que serão utilizados para a fabricação do mastro e do “mastaréu”, o
mastro das crianças. Além disso, “marcar o pau” implica em extrair parte do
casco da árvore para promessas feitas a São Sebastião. Também se usa o casco
para fazer um chá que “dá sorte”.
No dia
da festa, a alvorada é às cinco horas da manhã e se inicia com o sino da
igreja. O encontro para a saída ao mato é na Praça Cláudio Magalhães. As
pessoas se alinham de frente ao sino da festa - um sino de bronze acinzentado,
envelhecido, mas pujante, que fica pendurado por uma corda no tronco e é
transportado por duas pessoas. No mato, o tronco é cortado em um ambiente de
enorme animação, com muitas conversas entre os conhecidos e os vizinhos de
Olivença, que muitas vezes são companheiros de festa. O corte do tronco é
rápido e sua queda provoca muita agitação. Homens se aproximam e alguns, usando
o facão, descascam-no. Parte do casco é aproveitada pelos presentes para fazer
chá, para proteção ou promessa. O restante é retirado e deixado no chão. O
objetivo é tornar o tronco mais liso para rolar com menos dificuldade quando
arrastado. Na parte da frente do tronco inicia-se outro trabalho: abertura de
um orifício onde será amarrada uma corda. Levantar o tronco do chão é talvez
uma das tarefas mais complicadas e árduas.
Na
saída do mato, as crianças vão à frente, puxando o “mastaréu”. O mastro é
puxado por todos os presentes. Então ouve-se gritar “agora”, “juntem a corda”,
“em frente”, “parem” – palavras de ordem e coordenação entre os que seguram e
arrastam a corda. Quando se inicia a descida canta-se bem alto “Ajuê, dão”,
“ajuê, dão dão” e com isso se ganha ânimo para puxar o mastro. Depois da pausa
para o almoço, os transportadores do sino entram pela praia. Os rapazes com o
mastaréu correm para o mar e mergulham junto do tronco. Muitos se sentam em
cima dele para trazer “sorte” e, por vezes, bebês são colocados durante
instantes em cima do mastro com o mesmo propósito.
Tupinambá
de Olivença dançam o Porancim na frente da delegação regional da Funai
(Ilhéus), enquanto esperam a decisão sobre as reintegrações de posse. Foto:
Susana Viegas, outubro de 2008.
Tupinambá
de Olivença dançam o Porancim na frente da delegação regional da Funai
(Ilhéus), enquanto esperam a decisão sobre as reintegrações de posse. Foto:
Susana Viegas, outubro de 2008.
Quando
se chega à praia perto da vila, o número de pessoas aumenta substancialmente. O
grupo vai ganhando cada vez mais expressão e deixando os tocadores de zabumba
para trás. Na subida para a praça a euforia dos que acompanham o processo desde
o início é naturalmente enorme. Quando chegam à praça, são lançados foguetes e
discursos de agradecimentos são proferidos. Na vila, a festa ganha expressão
totalmente diferente, sendo dominada pela administração da vila e pelo turismo.
Uma
prática ritual que os Tupinambá de Olivença adotaram desde 2000 é o Porancim.
Trata-se de um Toré que surgiu depois de encontros com outros índios da Bahia,
Espírito Santo e Minas Gerais, nos quais tiveram acesso aos conhecimentos
relacionados à dança e ao cântico.
O
Porancim tem cada vez mais importãncia e singularidade entre os Tupinambá de
Olivença. Este ritual inicia-se com uma dança circular. Parte substancial dela
consiste em bater os pés no chão com força e de forma ritmada, curvando
ligeiramente o corpo para frente, mover o braço com os maracás e cantar músicas
repetidamente. Eventualmente algumas pessoas entram em transe nesse processo. O
Porancim é uma das maneiras dos Tupinambá de Olivença encontrar o pajé.
Dançam-no em todas as ocasiões de tensão política, como o fizeram em outubro de
2008 na frente da administração regional da Funai, enquanto esperavam a decisão
sobre as reintegrações de posse.
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