Dois perigos que todo cristão enfrenta
Não existem zonas neutras da vida. Absolutamente
tudo o que fazemos tem ponto de partida religioso
Por Pedro Dulci
Existem dois equívocos – que são irmãos gêmeos –
que atrapalham muitíssimo os cristãos viverem a verdadeira espiritualidade.
O primeiro é pensar que existe alguma área da vida
que esteja desconectada de Deus e de sua glória. Ou seja, de que podemos
habitar uma zona neutra, sem dimensões religiosas, sem nos preocuparmos em
obedecer a Deus naquela área.
Obviamente, essas zonas neutras da vida não
existem. Absolutamente tudo o que fazemos tem ponto de partida religioso. Seja
o café que tomamos, o livro que lemos ou o trabalho que executamos, estamos
fazendo isso diante de Deus.
Tudo o que realizamos no dia precisa ser encarado
como devocional. O mesmo senso de sacralidade que damos para a leitura bíblica
e a oração precisa ser dado às conversas no telefone, aos deveres de casa e aos
negócios.
Esse desafio de viver integralmente diante de Deus
gera o segundo problema na espiritualidade cristã moderna: acreditar que essa
vida vivida diante de Deus é uma espécie de rotina transcendentalista.
Sabe aquela imagem de discernimento espiritual como
quem está em transe? Que come, bebe e canta de olhos fechados, concentrado no
sobrenatural e invisível? Um tipo de mística evangélica que despreza o momento
presente para tentar atingir um estado de iluminação catártica?
A verdadeira espiritualidade não tem nada a ver com
isso. Dizer que não existe espaço neutro em nossa vida não é sinônimo de
encarar tudo como uma série de processos secretos que preciso estar atento para
saber onde estão os demônios e onde está o Senhor.
O ajuste fino entre esses dois extremos é o
principal desafio para o discípulo contemporâneo de Jesus. Passar a encarar
tudo o que fazemos de forma devocional sem escorregar a um transcendentalismo
alienante é algo muito difícil.
Somos seduzidos a oscilar entre o naturalismo e o
misticismo. Não conseguimos manter por muito tempo a convicção de que Deus está
presente em cada momento, e que quer ser obedecido naquela hora, para sua
glória, sem que isso signifique ser absorvido por uma atmosfera de adoração que
volta suas costas ao cotidiano.
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