'Histórias
de alimentar a alma' abordam culinárias indígenas e do candomblé
Seriado
on-line ensinará a fazer aluá, bebida dedicada aos orixás, e peixe assado tanto
na brasa quanto na folha de banana.
Frederico
Gandra
Peixe
assado na folha de bananeira, tradição da culinária indígena que remete à
defesa dos rios e do meio ambiente.
Peixe
assado na folha de bananeira, tradição da culinária indígena que remete à
defesa dos rios e do meio ambiente.
A
segunda temporada da série on-line “Histórias de alimentar a alma” vai abordar
a tradição gastronômica ligada a manifestações e festejos populares de Minas
Gerais. Na quarta-feira (11/08) e no dia 18, dois novos episódios trarão
receitas relacionadas às culturas indígena e africana.
Amanhã,
Orú, que vive na Aldeia Sede Pataxó, reserva localizada no município de
Carmésia, no Vale do Rio Doce, ensina duas formas de preparar o peixe: assado
na brasa e na folha de bananeira. No dia 18, Pai Sidney D’Oxóssi, sacerdote à
frente do terreiro Quetu Ilé Wopo Olójúkàn, em Belo Horizonte, prepara a bebida
aluá, oferecida aos orixás.
''Há
muitos preconceitos contra o candomblé vinculados à maldade. Esse projeto
mostra que alguns ingredientes inseridos no candomblé, de certa forma, estão na
vida das pessoas''
Pai
Sidney D'Oxóssi, sacerdote do terreiro Quetu Ilé Wopo Olójúkàn
“No trabalho feito no primeiro ano do Circuito
Municipal de Cultura, nós compreendemos uma característica muito forte em todas
as regionais: a possibilidade de explicitar as singularidades das identidades de
cada uma delas através da cultura alimentar”, explica Aline Vila Real, diretora
de Promoção das Artes da Fundação Municipal de Cultura.
Em 10
episódios, a primeira temporada da série apresentou pratos típicos de cada
regional de Belo Horizonte. Indicados pelas respectivas comunidades, moradores
compartilharam histórias da cultura local enquanto cozinhavam. Biscoitinho da
vovó, quentão de ervas sem álcool, doce de pão, frango caramelizado, bambá de
frango e ora-pro-nóbis e molho de feijão com bacalhau são algumas das receitas
da temporada que foi ao ar em 2020. Os episódios estão disponíveis no YouTube.
Se a
primeira leva de episódios abordou o território físico, a segunda temporada,
com apresentação de Stanley Albano e Carol Dini, exibe oito novos capítulos
sobre a variedade de manifestações populares em Minas, como as culturas
quilombola, do congado e do arraial.
“É uma
forma de abrir espaço para conhecermos mais sobre culturas que também nos
formam e fazem parte das várias identidades brasileiras”, explica Aline Vila
Real.
O
público vai conhecer as receitas da canjica de São João (da quadrilha Pipoca
Doce, campeã do grupo especial do Arraial de Belo Horizonte em 2019), do caruru
de Vunji (da Comunidade Religiosa e Quilombola Manzo Ngunzo Kaiango, em celebração
a São Cosme e Damião) e do tradicional frango com arroz, feijão, macarrão e
salada, prato que dá sustança aos participantes da Guarda de Congo Feminina de
Nossa Senhora do Rosário.
“A
gente tem retornos muito afetivos (do público), inclusive porque a série tem a
ver com nossa cultura mineira. A comida é um motivo para a gente poder falar
sobre as manifestações culturais de uma forma ais ampla, falar sobre a vida
mesmo”, afirma Aline.
Nesta
quarta-feira (11/08), Orú, genro do cacique Mesaque, da Aldeia Sede Pataxó,
reserva localizada na Fazenda Guarani, ensinará a preparar peixe à moda
indígena.
ecologia
“Falar da importância do peixe na alimentação das populações indígenas é
discutir a valorização do meio ambiente. A gente passou por vários desastres
que mataram nossos rios. Resgatar a importância das receitas que vêm do rio, o
alimento base dos povos indígenas, é uma forma de trazer um alerta para além da
culinária”, destaca Aline Vila Real.
No
episódio da próxima quarta-feira (18/08), Pai Sidney D'Oxossi relembra a
trajetória do primeiro terreiro de candomblé de Belo Horizonte, tombado em 1995
pela prefeitura da capital.
“O
candomblé é uma religião que sempre oferece alguma oferenda aos orixás, o que é
diferente das outras religiões. A culinária africana é muito vasta, com sabor
inigualável, bem diferenciado da nossa culinária tradicional”, explica Pai
Sidney, de 63 anos, autor do livro “Sabores da África no Brasil” (2002), que
ganha nova edição no final deste ano.
O aluá
é uma bebida fermentada em pote de barro a partir de milho, gengibre, canela,
cravo e rapadura. De acordo com Pai Sidney, ensinar essa receita na série é uma
forma de desmistificar o candomblé.
Pai
Sidney D%u2019Oxóssi diz que ensinar a preparar a bebida aluá é também defender
o candomblé, alvo de preconceito
Pai
Sidney D%u2019Oxóssi diz que ensinar a preparar a bebida aluá é também defender
o candomblé, alvo de preconceito
DISCRIMINAÇÃO
“Há
muitos preconceitos contra o candomblé vinculados à maldade. Esse projeto mostra
que alguns ingredientes inseridos no candomblé, de certa forma, estão na vida
das pessoas”, destaca. Ele cita o exemplo do quiabo, presente no prato dedicado
a Xangô, e o acarajé, na comida de Iansã.
Por sua
vez, o aluá tem “teor energético”. Não é utilizado apenas como bebida, mas como
banho de limpeza, harmonização e remédio, além de oferenda. “Toda casa de
candomblé precisa ter essa bebida, porque quando o orixá chega, é uma forma de
agraciá-lo”, explica.
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