domingo, 29 de outubro de 2023

TUPINAMBÁS... 10a. Parte

 

'Histórias de alimentar a alma' abordam culinárias indígenas e do candomblé

Seriado on-line ensinará a fazer aluá, bebida dedicada aos orixás, e peixe assado tanto na brasa quanto na folha de banana.

Frederico Gandra

Peixe assado na folha de bananeira, tradição da culinária indígena que remete à defesa dos rios e do meio ambiente.

Peixe assado na folha de bananeira, tradição da culinária indígena que remete à defesa dos rios e do meio ambiente.

A segunda temporada da série on-line “Histórias de alimentar a alma” vai abordar a tradição gastronômica ligada a manifestações e festejos populares de Minas Gerais. Na quarta-feira (11/08) e no dia 18, dois novos episódios trarão receitas relacionadas às culturas indígena e africana.

 

Amanhã, Orú, que vive na Aldeia Sede Pataxó, reserva localizada no município de Carmésia, no Vale do Rio Doce, ensina duas formas de preparar o peixe: assado na brasa e na folha de bananeira. No dia 18, Pai Sidney D’Oxóssi, sacerdote à frente do terreiro Quetu Ilé Wopo Olójúkàn, em Belo Horizonte, prepara a bebida aluá, oferecida aos orixás.

 

''Há muitos preconceitos contra o candomblé vinculados à maldade. Esse projeto mostra que alguns ingredientes inseridos no candomblé, de certa forma, estão na vida das pessoas''

Pai Sidney D'Oxóssi, sacerdote do terreiro Quetu Ilé Wopo Olójúkàn

 “No trabalho feito no primeiro ano do Circuito Municipal de Cultura, nós compreendemos uma característica muito forte em todas as regionais: a possibilidade de explicitar as singularidades das identidades de cada uma delas através da cultura alimentar”, explica Aline Vila Real, diretora de Promoção das Artes da Fundação Municipal de Cultura.

 

Em 10 episódios, a primeira temporada da série apresentou pratos típicos de cada regional de Belo Horizonte. Indicados pelas respectivas comunidades, moradores compartilharam histórias da cultura local enquanto cozinhavam. Biscoitinho da vovó, quentão de ervas sem álcool, doce de pão, frango caramelizado, bambá de frango e ora-pro-nóbis e molho de feijão com bacalhau são algumas das receitas da temporada que foi ao ar em 2020. Os episódios estão disponíveis no YouTube.

 

Se a primeira leva de episódios abordou o território físico, a segunda temporada, com apresentação de Stanley Albano e Carol Dini, exibe oito novos capítulos sobre a variedade de manifestações populares em Minas, como as culturas quilombola, do congado e do arraial.

 

“É uma forma de abrir espaço para conhecermos mais sobre culturas que também nos formam e fazem parte das várias identidades brasileiras”, explica Aline Vila Real.

 

O público vai conhecer as receitas da canjica de São João (da quadrilha Pipoca Doce, campeã do grupo especial do Arraial de Belo Horizonte em 2019), do caruru de Vunji (da Comunidade Religiosa e Quilombola Manzo Ngunzo Kaiango, em celebração a São Cosme e Damião) e do tradicional frango com arroz, feijão, macarrão e salada, prato que dá sustança aos participantes da Guarda de Congo Feminina de Nossa Senhora do Rosário.

 

“A gente tem retornos muito afetivos (do público), inclusive porque a série tem a ver com nossa cultura mineira. A comida é um motivo para a gente poder falar sobre as manifestações culturais de uma forma ais ampla, falar sobre a vida mesmo”, afirma Aline.

 

Nesta quarta-feira (11/08), Orú, genro do cacique Mesaque, da Aldeia Sede Pataxó, reserva localizada na Fazenda Guarani, ensinará a preparar peixe à moda indígena.

 

ecologia “Falar da importância do peixe na alimentação das populações indígenas é discutir a valorização do meio ambiente. A gente passou por vários desastres que mataram nossos rios. Resgatar a importância das receitas que vêm do rio, o alimento base dos povos indígenas, é uma forma de trazer um alerta para além da culinária”, destaca Aline Vila Real.

 

No episódio da próxima quarta-feira (18/08), Pai Sidney D'Oxossi relembra a trajetória do primeiro terreiro de candomblé de Belo Horizonte, tombado em 1995 pela prefeitura da capital.

 

“O candomblé é uma religião que sempre oferece alguma oferenda aos orixás, o que é diferente das outras religiões. A culinária africana é muito vasta, com sabor inigualável, bem diferenciado da nossa culinária tradicional”, explica Pai Sidney, de 63 anos, autor do livro “Sabores da África no Brasil” (2002), que ganha nova edição no final deste ano.

 

O aluá é uma bebida fermentada em pote de barro a partir de milho, gengibre, canela, cravo e rapadura. De acordo com Pai Sidney, ensinar essa receita na série é uma forma de desmistificar o candomblé.

 

Pai Sidney D%u2019Oxóssi diz que ensinar a preparar a bebida aluá é também defender o candomblé, alvo de preconceito

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DISCRIMINAÇÃO

“Há muitos preconceitos contra o candomblé vinculados à maldade. Esse projeto mostra que alguns ingredientes inseridos no candomblé, de certa forma, estão na vida das pessoas”, destaca. Ele cita o exemplo do quiabo, presente no prato dedicado a Xangô, e o acarajé, na comida de Iansã.

 

Por sua vez, o aluá tem “teor energético”. Não é utilizado apenas como bebida, mas como banho de limpeza, harmonização e remédio, além de oferenda. “Toda casa de candomblé precisa ter essa bebida, porque quando o orixá chega, é uma forma de agraciá-lo”, explica.

 

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