A
quarta fronteira: os exterminadores do futuro
Publicado
originalmente no Jornal Inconfidência, Belo Horizonte, MG
“…eu
pensava estar trabalhando em uma história de mudanças climáticas. Eventualmente
constatei que, na verdade, estava
trabalhando numa história sobre política global, sobre como grandes interesses
trabalham para esvaziar as democracias em benefício próprio e sobre como eles
fazem uso de ONGs – neste caso grupos ambientais – como cobertura política. (…)
… é de todo conveniente recordar que, às vezes, aqueles que dizem que querem
fazer o Bem estão (mais) preocupados em se dar bem” — Elaine Dewar, Uma demão de
verde
A
história deste livro, muito bem contada, começa quando a autora, uma renomada
jornalista canadense, comparece a uma reunião na Igreja Anglicana de São Paulo
em Toronto em 1988 na qual o orador principal era o índio caiapó Paulinho
Paiakan. O evento era patrocinado por várias ONGs ambientais, principalmente
pela WWF-C (World Wildlife Fund Canada) e era um protesto contra a construção
pela Eletronorte de 22 usinas no Rio Xingú sem consulta aos índios que veriam
inundado seu habitat ancestral. O projeto
vinha da “ditadura militar”, altamente condenável, portanto. A plateia ficou
estarrecida e enfurecida com o tratamento dado às “vítimas” que sequer podiam
reclamar e temeram pelo retorno de Paiakan ao Brasil. A luta dos Caiapós em
defesa da sobrevivência de seu povo foi então divulgada para todo o mundo para
criar uma teia de proteção ao pobre coitado, ameaçado de morte.
Elaine
Dewar simpatizou com a causa de Paiakan, mas como boa jornalista investigativa
foi a fundo e chegou a conclusões que jamais imaginara a princípio. O subtítulo
do seu livro diz tudo: os laços entre grupos ambientais, governos e grandes
negócios. Confessa a autora que seu interesse maior era com o futuro, pois há
tempos já era bombardeada com o mal que a humanidade estava causando ao
planeta, através do “efeito Estufa”, a destruição das florestas equatoriais, o
derretimento das calotas polares, a destruição da camada de ozônio, etc.
Meu
interesse aqui, no entanto, não é fazer mais denúncias sobre a cobiça em
relação à Amazônia, algumas já bem conhecidas. Como esclareci no artigo
anterior deixo as fronteiras físicas para os especialistas e me dedicarei a
explorar a invasão do que denominei quarta fronteira, a fronteira mental e
ideológica que prepara o caminho para aquelas. No caso em apreço,
diferentemente do anterior, o caminho percorrido já foi muito longe.
A
agenda ambientalista vai muito além da problemática de nosso território e faz
parte de um plano de globalização que visa a dominação por parte de um governo
mundial. Para isto é necessário exterminar o futuro possível: aumento da
prosperidade mundial através do incremento da produção alimentar pelo
agronegócio e da produção de energia por combustíveis fósseis e físseis.
Pretende-se fazer a humanidade retornar a um estado de escassez tanto de
alimentos como de combustíveis, renunciar ao conforto do automóvel particular,
o maior vilão, com as promessas idílicas de alimentos “saudáveis”, combustíveis
“renováveis” e/ou biodegradáveis e fim da poluição. Como uma das sugestões é de
investimento maciço na tal energia eólica, chamo a estes planos idiotas de
promessas de vento!
Segundo
Larry H. Abraham, autor de The Greening: the environmentalists drive for global
power todos os projetos e programas por ele estudados são apresentados como
“necessários” ou “vitais”, alguns como “salva-vidas” ou por “ameaças à vida”.
‘A luta pela “preservação do meio ambiente” ou para “acabar com a poluição”
significa a maior capitulação de toda a história da humanidade, ao transferir
poder e recursos naturais para um pequeno grupo de homens, a elite mundial ou
Establishment’.
Como é
possível que a maior parte da humanidade acredite piamente nestas bobagens
ambientalistas e tomem a sério alimentos “orgânicos”, energias renováveis e
outras?
Como o
assunto é muito vasto limitar-me-ei aqui a uma prévia do que ocorreu em nosso
País nas últimas décadas.
Nas
décadas de 70/80 o antropologista do Environmental Defense Fund (EDF) Dr.
Stephan Schwartzman, inventou o primeiro mito ambientalista brasileiro: Chico Mendes,
que influenciado por Schwartzman passou a defender o extrativismo familiar da
borracha no Seringal São Luis de Remanso. Em 1987 Schwartzman e o EDF
convidaram Chico Mendes a comparecer à reunião anual do Inter-American
Development Bank (IDB), onde ele foi apresentado a importantes Membros do
Congresso Americano. O IBD criou a Chico Mendes Sustainable Rainforest
Campaign. Não sei quem matou Chico, mas quem o fez criou o que faltava: um
mártir. Desde então grupos empresariais e ONGs dedicaram-se a invadir a
fronteira mental dos brasileiros que, hoje, estão plenamente doutrinados para
apoiar irrestrita e cegamente qualquer campanha “ambientalista”, sem enxergar
as fortunas que crescem aos olhos de quem quer ver. A maioria não fará um único
protesto contra a fragmentação do País em “nações” indígenas para a “proteção
de nossas florestas”. (CONTINUA)
Heitor
De Paola
Heitor
De Paola é escritor e comentarista político, membro da International
Psychoanalytical Association e Clinical Consultant, Boyer House Foundation,
Berkeley, Califórnia.
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