terça-feira, 14 de julho de 2020

LAMPIÃO...

LAMPIÃO – A RAPOSA DAS CAATINGAS é publicação de José Bezerra Lima Irmão, JM Gráfica e Editora, 736 páginas, acerca do fenômeno, acontecimentos e circunstâncias do cangaço.
Impressionam os prismas cultural, social e humano que envolvem a história do Nordeste e do seu povo: O caráter, em seus aspectos positivos e negativos, o denodo, a coragem, o sentido extremo de vingança, perpassando as vidas dos denominados cangaceiros.
Em terras sem lei e sem ordem prevaleciam interesses pessoais, políticos, casuísticos, onde a vida pouco ou nada representava. A crueldade impunha o tom. O desrespeito à pessoa humana, e – sobretudo - às mulheres marcava as relações. Tempos difíceis.
Tinha-se um tripé formado pela policia, fazendeiros e cangaceiros em convivência promíscua, submetendo aqueles ausentes desse contexto. Pessoas, então, se atingissem esses três focos de corrupção tinham suas famílias abusadas, torturadas e assassinadas sem delongas, num vasto círculo crescente em busca de lucro e de vingança, sentimento marcante em todos os protagonistas da história do cangaço no Nordeste Brasileiro. Ao lado disso, a coragem, o destemor, a covardia, a crueldade, o sentimento religioso sem sua compreensão de fraternidade, o respeito à palavra empenhada.
O autor, homem de muitos títulos culturais, bacharel em direito, demonstra seriedade e competência ao analisar os acontecimentos,
destacando-se, na minha visão, duas figuras: Lampião, o rei do cangaço, homem diferente, estrategista, inteligente, com certo sentido de justiça e honradez e Corisco, o Diabo Louro, a antítese do Capitão Virgulino (Lampião, que se auto-intitulou governador do sertão).
O interessante e, mesmo, macabro, para mim, foi encarar no rigor exegético imposto pelo autor, o modo e a possível morte de Lampião e de sua mulher, Maria Bonita, em Angico/
Alagoas, em hipóteses conflitantes:
1. Traído por um dos seus coiteiros de confiança; 2. Morto sem reação por ação de uma volante (grupo de policiais); 3. envenenado pelo coiteiro aludido e atingido e desfigurado sem reação porque já sem vida; 4. Trama arquitetada por Lampião, a polícia e o coiteiro, ausência de envenenamento para a Raposa das Caatingas, fuga para Goiás e posterior mudança para Minas Gerais.

Impossível nesse espaço, discorrer sobre a realidade bem traçada e analisada por José Bezerra, de modo que levanto apenas a lebre para aqueles que se interessarem pelo assunto, em contribuição à cangaçologia. O certo é que a História do Brasil não estará completa se essa realidade deixar de ser considerada no modo que deve.

EM LAMPIÃO: A RAPOSA DAS CAATINGAS, quando o autor discorre a respeito do assalto à Queimadas procurei, sem sucesso, um fato, que me foi contado por uma senhora de 93 anos, Odete Wehmuth Sampaio, avó de meu genro, Paulo Roberto Vicente Lima, que viveu o drama dos queimadenses. Nele Arnaldo Sampaio, chefe do DONCS, pai de Odete, havia enganado Lampião ao esconder na calha de águas o dinheiro que iria repassar aos funcionários.

Contista, sem pretensões históricas, emoldurei os fatos reais com narrativa ficcional, com o título de “O Malogro de Lampião”, publicado em blogger. Pareceu-me importante dada à relevância funcional de Arnaldo Sampaio. Por certo, estava enganado e o caso não teve evidência ou ficou no âmbito apenas da família de Odete, esposa de Emídio Magalhães Lima, professor emérito da UFBa e artista de porte. Odete, mulher de rara beleza, sua aluna, professora de Desenho Artístico na EBA, também se notabilizou nas artes plásticas.

Geraldo Leony Machado
SSA 13.07.2020

16 h
Público

Sem comentários:

Enviar um comentário

REFLEXÃO...01

  https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=3893996704247368&id=100009112316022 ****************************************************...