A operação Lava-Jato, iniciada no Brasil no ano de
2014, revelou um grande esquema de tráfico de influência, lobby e favorecimento
político. Além de: um enorme volume de pagamentos de propinas, financiamento de
campanhas de membros do Foro de São Paulo e investimento em obras de
infraestrutura com o Brasil como fiador. Hoje vamos abordar uma obra famosa: O
Porto de Mariel em Cuba.
Através da operação, foi possível confirmar o papel
de destaque que exercia Hugo Chávez no Foro de São Paulo. Um dos casos mais
emblemáticos é o do Porto de Mariel, que é lembrado como um “presente” do então
governo brasileiro ao regime cubano. Mas, segundo o próprio Emílio Odebrecht, o
projeto era venezuelano e foi ele quem pediu a “garantia” brasileira. Em sua
delação premiada no âmbito da operação Lava-Jato, o patriarca da família
relatou que visitou Hugo Chávez em Caracas no ano de 2007, e que ele lhe
solicitara que construísse um porto em Cuba, missão que ele aceitou com a
condição de que o Brasil financiasse o projeto. Emílio Odebrecht queria
garantir o recebimento do quinhão, pois, segundo o próprio empreiteiro, “em
condições normais” nem mesmo a Odebrecht cogitaria construir um porto em Cuba e
nem o BNDES financiaria uma obra para a ditadura de Fidel Castro. Odebrecht ainda
relata que somente a intermediação de Hugo Chávez e posteriormente de Lula foi
o que possibilitou que a obra acontecesse. Lula inclusive teria manobrado para
interferir nas decisões do BNDES para liberação do financiamento. Veja um
trecho da delação:
“Chávez tinha uma relação muito intensa com Fidel,
ao ponto de fazer preços camaradas na venda de barris de petróleo para Cuba.
Ele me pediu que nós procurássemos viabilizar um programa de um porto lá em
Cuba, porque era muito importante para os cubanos. Eu disse: “Olha chefe, nós
trabalhamos nos Estados Unidos, um assunto desse de dinheiro, com tudo que Cuba
tem de restrição, não é fácil viabilizar o esquema financeiro. Um pedido do
senhor é algo que vou encontrar uma forma de atender. Agora, eu precisaria que
o governo brasileiro estivesse engajado nesse projeto e também solicitasse [a
construção do porto] a Odebrecht. Eu não gostaria de tomar essa iniciativa
sozinho. O senhor, que tem uma boa relação com o presidente Lula, poderia ligar
para ele e transmitir isso”. De fato, Chávez fez a ligação. Logo depois desse
encontro, o Lula me convocou dizendo que tinha recebido um telefonema do Chávez
transmitindo o encontro que teve comigo e que estava na linha de apoiar o
programa de Cuba do Porto de Mariel.”
A preocupação de Emílio Odebrecht não era à toa:
dadas as sanções financeiras, o custo para a empreiteira poderia prejudicar não
somente o seu negócio lícito, mas também o famoso “Departamento de Operações
Estruturadas”, utilizado para irrigar todo o esquema de corrupção ao nível
internacional. É importante ressaltar que, devido à lei Helms-Burton, qualquer
navio que atracar em portos cubanos fica impedido de atracar nos EUA por um
período de 180 dias. Além disto, na região do Caribe, à época da inauguração do
porto em evento que contou com a presença da Presidente Dilma Rousseff, havia
65 portos ativos e sem restrições críticas de atuação e com regras para as
Zonas de Processamento de Exportação (ZPE) juridicamente desimpedidas de
funcionar. Nos anos 1990, Fidel Castro fechou a única ZPE ativa em Cuba,
deixando diversos investidores e empresas literalmente a “ver navios”,
aumentando o risco e a instabilidade de investimentos em Cuba.
BÔNUS de curiosidade histórica: o Porto de Mariel
foi o responsável pela recepção dos armamentos soviéticos durante a Crise dos
Mísseis de 1962, envolvendo Cuba diretamente na Guerra Fria entre Estados
Unidos e União Soviética.
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