sexta-feira, 28 de julho de 2023

REFLEXÃO 01

 

|   Paulo Henrique Araujo: Carta ao Leitor PHVox #41 |

 

Expurgos comunistas de 2023 — Parte I: Venezuela

 

Olá, Dionê Machado. Tudo bem contigo? Muitas vezes quando estudamos temas como o comunismo, temos a tendência dia achar que as práticas destes regimes estão apenas no passado. Mas e seu eu te disser que os expurgos estão acontecendo no ano atual?

 

Os expurgos (ou purgas) comunistas são bem conhecidos ao longo do tempo. Trata-se basicamente de expulsar e/ou eliminar politicamente, por vezes fisicamente, um aliado político ideológico. Nas fileiras comunistas, este processo é utilizado desde a primeira internacional socialista com o caso entre Karl Marx e Mikhail Bakunin. Stálin e Mao Tsé Tung são conhecidos por suas diversas purgas. Todavia, da mesma que o comunismo é tratado como algo inexistente atualmente, os expurgos não poderiam ser diferentes.

 

Nosso personagem de hoje é Tareck El Aissami, que apesar do nome pouco comum, é venezuelano. Filho de Zaidan El Aissami, mais comumente conhecido como Carlos Zaidan, imigrante da Síria. Seu pai foi líder do Baath iraquiano na Venezuela, sim, aquele mesmo do partido de Saddam Hussein. Carlos Zaidan foi preso em 1992 com Hugo Chávez na tentativa de Golpe de Estado de 04 de fevereiro.

 

Tareck El Aissami, é advogado criminologista formado pela universidade de Los Andes, onde teve como professor o Sr. Adán Chávez, irmão do finado Hugo Chávez. Em 2005 foi eleito deputado da Assembleia Nacional pelo estado de Mérida. Apesar de sua posse, foi chamado pelo governo para ocupar o cargo de vice-ministro da Segurança Cidadã, que dirigiu de 2007 a 2008, quando Chávez o nomeou ministro do Interior e da Justiça, gestão que assumiu por 4 anos. Além disto, foi governador do Estado de Aragua, membro da direção nacional do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e chegou até mesmo ocupar o cargo de vice-presidente de Nicolás Maduro.

 

El Aissami é conhecido por ser um repressor eficiente, desde a sua entrada como ministro, foi o indicado como mandante de diversos casos de abuso de autoridade e uso da polícia para perseguição política de opositores, principalmente estudantes. Como governador de Aragua, utiliza as forças policiais para todo e qualquer tipo de repressão, tornando a força sob seu comando a mais violenta e abusiva do país.

 

El Aissami, também é apontado como um dos principais líderes, ao lado de Diosdado Cabello, do Cartel de Los Soles. O super cartel de drogas opera dentro das forças armadas venezuelanas, chegou a escoar 90% de toda cocaína produzida dentro da Colômbia e atualmente é responsável por 25% de toda droga distribuída no mundo, segundo a Secure Free Society.

 

Donald Trump, ainda nos primeiros 30 dias de governo, anunciou sanções contra El Aissami, classificando-o como o “Chefão das drogas”. O comunicado do Departamento do Tesouro Americano apontou que a sanção estava sendo aplicada por Aissami “desempenhar um papel significativo no tráfico internacional de narcóticos”. Assim, ele foi impedido de negociar com indivíduos e empresas americanas, além de ter todos os seus ativos congelados.

 

Ainda em 2017, Nicolás Maduro nomeou El Aissami como o ministro do Petróleo, área responsável pela sustentação do chavismo, mas que estava em crise desde 2013, sendo um dos fatores que fez o regime chavista colocar a Venezuela no arcabouço de miséria atual.

 

Em 20 de março de 2023, Tareck El Aissami, renunciou ao seu cargo por suspeitas de corrupção. O movimento ocorre dias depois que a Procuradoria-Geral da República e o Governo anunciaram que haveria processos judiciais para prender e investigar um número indeterminado de funcionários. El Aissami declarou o seguinte nas suas redes sociais:

 

“Em virtude das investigações que foram iniciadas sobre graves atos de corrupção na PDVSA, tomei a decisão de apresentar minha renúncia como ministro do Petróleo, com o objetivo de apoiar, acompanhar e apoiar plenamente este processo” e, em uma segunda mensagem, prosseguiu: “Da mesma forma, na minha qualidade de militante revolucionário, coloco-me à disposição da direção do PSUV para apoiar esta cruzada que o Presidente @NicolasMaduro empreendeu contra os antivalores que somos obrigados a combater, mesmo com as nossas vidas.”

 

Nesta mesma oportunidade, El Aissami colocou uma foto de Nicolás Maduro como a foto de perfil em suas redes e nunca mais postou algo ou mesmo foi visto publicamente.

 

No dia 21 de março, o regime venezuelano anunciou mais três prisões de pessoas ligadas a El Aissami, que além da acusação de “corrupção administrativa e desvio de fundos”, também iriam responder por envolvimento em uma rede de prostituição. O gabinete de Maduro declarou que iriam perseguir quem estivesse utilizando o grande Estado da Venezuela para enriquecimento próprio.

 

Como nos exemplos que citei no início do texto, quanto no atual caso da Venezuela, o que nos chama a atenção é o motivo utilizado para todos os expurgos: A corrupção. Seja o motivo principal ou correlacionado, a corrupção e o combate a ela são sempre postos como a justificativa moral para prisões arbitrárias, sequestros e até mesmo assassinatos por justiçamentos.

 

O ex-ministro de Chávez, Andrés Izarra, disse que o verdadeiro motivo do expurgo não tem absolutamente nada de elevado moralmente ou de luta “pelo povo”. Segundo Izarra, o que estava acontecendo “é uma disputa de poder” entre Maduro e um dos homens mais importantes do regime: Tareck El Aissami.

 

“Tareck El Aissami, que era o ministro do petróleo até agora e que acaba de renunciar, era uma pessoa de grande poder dentro da estrutura do madurismo. Não só foi presidente da PDVSA, que lhe deu muito acesso aos principais recursos que o país tem, como também controlou uma importante estrutura política. Tinha vários governadores que eram da equipe dele, ministros… Ou seja, ele controlava o poder dentro do Executivo, poder econômico, serviços de inteligência, corpos armados…”, disse Izarra, que está “exilado” na Alemanha, sem poder retornar ao seu país.

 

Izarra, também destacou que El Aissami possui importantes relações internacionais, principalmente com o russos, turcos, sírios e o Hezbollah. O ex-ministro frisou que Maduro sempre permitiu que seu círculo íntimo se beneficiasse da estrutura criminosa que montou no desde sua chegada ao governo, “mas o que Maduro não permite é que eles disputem o poder”, disse.

 

Segundo ele, o ditador iniciou o expurgo de oficiais chavistas após descobrir “que o que havia era um poder muito grande, construído em suas sombras”. “Agora Nicolas está indo atrás da cabeça de Tareck El Aissami para decapitar esse poder”, alertou.

 

Izarra, também informou que fontes do chavismo revelam uma suposta briga interna entre os irmãos Jorge e Delcy Rodríguez contra El Aissami. Sim, a mesma Delcy Rodríguez que há poucos dias se reuniu com o Lula e Macron na Europa para tratar da idoneidade do processo eleitoral da Venezuela com a oposição venezuelana.

 

Tareck El Aissami não é visto e não se tem notícias de seu paradeiro por meses, também não se sabe qual o tamanho e profundidade do expurgo realizado por Maduro. Em verdade, não é possível nem mesmo afirmar que El Aissami esteja vivo… o tempo nos trará respostas.


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