O
problema da velhice: maturidade ou decadência?
Publicado
originalmente em Catolicismo Nº12, em abril de 1951
Nossa
época sente vergonha da velhice. Este sentimento está tão radicado, que mesmo o
que de longe a ele toca lhe desagrada.
Assim,
tanto quanto possível, evita-se até parecer ter idade madura. Todo o mundo quer
parecer moço. E não são raros os que almejam parecer mocinhos.
Nestas
afirmações não vai qualquer exagero. Basta que cada qual olhe em torno de si, e
quiçá até para si.
Toda a
maquilagem feminina representa um esforço não só no sentido de diminuir a
idade, mas de aparentar – tanto quanto o implacável rigor da natureza permita –
uma mocidade quase próxima da adolescência. As cores e as formas dos trajes, as
atitudes, os gestos, a linguagem, os temas de conversa, o riso, tudo enfim é
explorado no sentido de acentuar esta impressão. Os homens não usam maquilagem,
senão às vezes nos bigodes e nas têmporas. Mas cada vez mais os trajes típicos
da idade madura vão sendo por eles abandonados: as linhas severas, as cores
discretas, o feitio sóbrio vão cedendo lugar ao feitio esportivo, às cores
claras, às linhas lampeiras. Isto se nota sobretudo nas praias de banho, onde
não é raro ver graves professores, políticos de renome, banqueiros sisudos,
vestidos precisamente como os netos: pés semi-descalços, cabelos ao vento,
blusinha amarelo-canário, calção azul celeste que nem de longe chega ao joelho,
felpo à mostra nos braços e nas pernas, risinho brejeiro na boca velha, uma luz
factiça mantida à custa nos olhos cansados, e em tudo um tremendo esforço para
ocultar uma idade que pertinazmente se atesta, se afirma, se proclama a si mesma
por todos os poros.
* * *
Por que
tudo isto? Antes de tudo, porque o homem pagão de nossos dias vive para o
prazer, e a idade do prazer é por excelência a juventude; pelo menos para os
que não compreendem que a mocidade, como escreveu certo autor, não existe para
o prazer mas para o heroísmo.
Mas há
outra razão. É que a velhice, se pode representar a plenitude da alma, é
certamente uma decadência do corpo. E, como o homem contemporâneo é
materialista e tem os olhos fechados para tudo quanto é do espírito, claro está
que a velhice lhe há de causar horror.
Mas a
realidade é que, se um homem soube durante toda a vida crescer não só em
experiência, mas em penetração de espírito, em bom senso, em força de alma, em
sabedoria, sua mente adquirirá na velhice um esplendor e uma nobreza que
transluzirá em sua face e será a verdadeira beleza de seus últimos anos. Seu
físico poderá sugerir a lembrança da morte que se aproxima. Mas em compensação
sua alma terá lampejos de imortalidade.
* * *
Exemplo
memorável do que afirmamos é, em nossos dias, Winston Churchill, a cuja
inteligência rutilante de lucidez, a cuja vontade de ferro um grande povo
confiou a mais difícil das tarefas, que é reerguer um Império decadente.
Nossa
primeira gravura o apresenta aos 34 anos. É indiscutivelmente um moço bem
apessoado, inteligente, de futuro. Mas nem seu olhar tem a profundeza, nem o
porte a segurança, nem a fisionomia a força hercúlea da fotografia de Churchill
em sua velhice, que apresentamos em nosso segundo clichê.
A
mocidade sem dúvida se foi, e com ela a louçania. Mas a alma cresceu enquanto o
tempo marcava implacavelmente o corpo. E esta alma é por si só a coluna sobre a
qual repousa todo um Império.
Isto é
– ainda mesmo na ordem meramente natural – a glória e a beleza do envelhecer.
Quantos
e quão mais decisivos seriam esses comentários se quiséssemos considerar os
dados sobrenaturais do assunto!
Plinio
Corrêa de Oliveira
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