segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

ESCRAVIDÃO ABRANGENTE... 12a.Parte

 

 

Escravidão na Bíblia | Israel Silva 12ª.Parte

| Quem era Escravo na Bíblia e no Novo Testamento

Quem eram os escravos na Bíblia? Como era a escravidão na Bíblia e por que Deus a permitiu? Há um trecho do livro do Êxodo que o seu texto é bastante útil para entendermos essas questões.

 

Quando a porção do Antigo Testamento conhecida como Mishpatim começa, o temor e a admiração da Revelação, ocorrida no Sinai, ainda podia ser sentida; as palavras, a visão dos relâmpagos, o som dos trovões, estavam bem presentes na mente do povo.

 

Mais do que somente receber a Lei de Deus, os acontecimentos no monte Sinai foram transformadores em diversos níveis.

 

A nação Israelita foi formada por meio das experiências compartilhadas do Êxodo e da Revelação da Palavra de Deus, e da união no propósito demonstrado aos pés daquele monte.

 

E apesar de toda aquela experiência com Deus, e da Sua Revelação, a divisão do texto bíblico que imediatamente vem após os Dez Mandamentos, muda o foco da narrativa.

 

Os Estatutos recebidos nesta parte do Êxodo, parecem expressar uma realidade muito menos idealística, e muito mais focada no que acontecia no “mundo real”, feito por pessoas.

 

“Estes são os estatutos [מִּשְׁפָּטִ֔ים mishpatim] que lhes proporás.” Êxodo 21:1

Numa clara referência à debilidade do caráter humano, as Leis presentes nesta divisão Bíblica, fala e lida com a escravidão, e com o desentendimento e discórdia entre as pessoas – até ao ponto de haver ódio entre elas.

 

O contraste com a porção anterior, a Revelação da Lei de Deus, é impressionante!

 

Mesmo se considerarmos que os Dez Mandamentos formavam as Macro-Categorias da Lei(semelhantes com as leis de Atos 15), enquanto que os Estatutos discutidos no Êxodo 21-23 (Mishpatim) constituem as Micro-Leis.

 

Ainda assim não podemos evitar o sentimento de regressão, se levado em consideração o senso que todo povo teve durante a Revelação no Sinai.

 

Há pontos nas micro leis, em que o texto fala de inimigos e de ódio:

 

Se encontrares o boi do teu inimigo, ou o seu jumento, desgarrado, sem falta lho reconduzirás.” Êxodo 23:4 “Se vires o jumento, daquele que te odeia, caído debaixo da sua carga, deixarás pois de ajudá-lo? Certamente o ajudarás a levantá-lo.” Êxodo 23:5

E quem poderia ter pensado que após uma tão grande e elevada experiência com Deus e de comunhão com os demais irmãos, o povo de Israel precisaria de leis para regular o comportamento entre pessoas que odeiam uma as outras?

 

Quem poderia imaginar que os membros de uma comunidade que foi criada em meio a magnífica voz divina, poderiam considerar o seu próximo como inimigo? Infelizmente isso só ilustra o verdadeiro conteúdo da natureza humana.

 

Essas leis refletem de forma realística o mundo em que eles viviam, e que nós vivemos, e que Deus não se engana, Ele sabe o que há interior do ser humano.

 

Por isso o Senhor lança os estatutos que serviriam como guia para o comportamento humano, “no mundo real”.

 

 

Assim, como uma nota errada em meio a sinfonia perfeita da Revelação, somos chocados aos termos que lidar com uma das mais poderosas e perturbadoras forças. Como poderia a Bíblia tolerar a escravidão?

 

Não desejaria Deus, fundamentalmente, que toda a humanidade fosse livre? Os Israelitas foram libertos da escravidão do Egito para se tornarem eles mesmos senhores de escravos?

 

Por diversas vezes a Bíblia enfatiza que a escravidão no Egito foi algo que deveria sensibilizar os Israelitas para a vulnerabilidade e o sofrimento dos outros. Como poderia então um judeu ter um escravo?

 

Os escravos do tempo bíblico

Nós certamente sentiríamos muito mais confortáveis se Deus tivesse proibido totalmente a escravidão.

 

Mas como não é esse o caso, nos sentimos obrigados a confrontar esta informação quando tentamos fazer a correlação entre a abordagem da Bíblia com a escravidão e os direitos humanos.

 

Para entendermos o que era a escravidão que o texto Bíblico se referia, primeiro temos que distinguir entre a instituição do עבד עִבְרִי eved Ivri – o servo Hebreu, e o עבד כנעני eved Cana’ani – o Cananita (o escravo não Hebreu).

 

Eved ivri – o servo hebreu

Um “Eved Ivri” não é um escravo no sentido clássico da palavra. Ele ocupa uma posição muito mais próximo a um servo contratado, um indivíduo que vende seu trabalho braçal por um período definido de tempo.

 

E há leis bíblicas, específicas que regem o status de um “eved ivri”:

 

Quando também teu irmão empobrecer, estando ele contigo, e vender-se a ti, não o farás servir como escravo. “Como diarista, como peregrino estará contigo; até ao ano do jubileu te servirá; Então sairá do teu serviço, ele e seus filhos com ele, e tornará à sua família e à possessão de seus pais.” Levítico 25:39-41

1 – Um indivíduo se tornava um “eved ivri” apenas por duas razões: Ou em caso de estar tão empobrecido, que não tinha mais condições de sustentar a si mesmo e a sua família, ou ele foi condenado por crime de roubo e não tem condições de restituir o que roubou.

No primeiro caso, a pessoa vende a si mesmo em עבדות avdut (servidão) para conseguir as provisões necessárias a sua própria sobrevivência. No segundo, a corte judicial é quem o vende.

 

Os recursos advindos do seu trabalho serviam para pagar as suas dívidas.

 

Um “eved ivri” não é um objeto possuído por seu dono. Ele simplesmente vendeu os direitos de seu trabalho braçal até o fim do período de sua servidão.

 

E aquele que foi vendido por uma corte judicial, poderia ficar no máximo seis anos em servidão.

 

Se comprares um servo hebreu, seis anos servirá; mas ao sétimo sairá livre, de graça.” Êxodo 21:2

Se o יובל Yovel – Ano Jubileu, caísse em qualquer parte do período de servidão, o “eved ivri” tinha que ser libertado.

 

Então no mês sétimo, aos dez do mês, farás passar a trombeta do jubileu; no dia da expiação fareis passar a trombeta por toda a vossa terra, E santificareis o ano quinquagésimo, e apregoareis liberdade na terra a todos os seus moradores; ano de jubileu vos será” Levítico 25:9-10

Essa era a Lei do shemitah, quando todas as dívidas eram perdoadas e os escravos eram libertados.

 

É interessante notar que com o auxílio da ferramenta de interpretação chamada Gemátria (cada letra do alfabeto hebraico equivale a um número, semelhante aos algarismos romanos), chegamos ao valor numérico das palavras:

 

עבד עִבְרִי eved Ivri “escravo hebreu” que equivale a 358 – o mesmo valor das palavras נָחָשׁ nachash “serpente” e מָשִׁ֫יחַ mashiach “messias”.

O primeiro pecado do homem foi no jardim do Éden, quando desobedeceu à voz de Deus e fez a vontade da serpente. Isto resultou na expulsão do paraíso e na consequente escravidão do pecado.

 

Mas Deus providenciou o Messias, Jesus, para nos libertar desta escravidão, e agora somos feitos servos de Deus.

 

Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado. João 8:34 Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” João 8:36

Eved canaani – o escravo não hebreu

Aparentemente a Bíblia aceita a existência da “escravidão clássica”, dentro da sociedade hebraica. Porém, por meio de uma sofisticada rede de mandamentos, a Lei judaica estabelece de fato uma “escravidão diferente”.

 

Quando da aquisição de um escravo não hebreu, o seu senhor deveria apresentar aquele escravo a possibilidade dele passar por um processo de conversão, que permitiria que ele entrasse na sociedade hebraica l’shem avdut – por meio da servidão.

 

Se o escravo concordasse, então ele seguiria passa a passo em rumo a conversão total ao judaísmo. Essa conversão elevava o status do escravo, tornando-o oficialmente um eved canaani.

 

 

E um “eved canaani” tinha suas obrigações, mas também gozava da plena proteção da Lei de Deus, e dos privilégios relativos ao seu status.

 

Havia diversas recomendações na halachá (o conjunto de Leis judaicas), com obrigações éticas de tratar um “eved canaani” com bondade e consideração.

 

Seus mestres não podiam nem mesmo envergonhá-los em público. Nas refeições, eles deveriam ser os primeiros a serem servidos. Ninguém podia insultá-los. Eles possuíam direitos que em outras culturas não teriam jamais.

 

Mesmo não tendo o total status de um cidadão hebreu, ainda assim um “eved canaani” fazia parte dessa sociedade, e como membro dela recebia a possibilidade de conhecer o Deus de Abraão, Isaque e Jacó – e de fazer parte do pacto e da aliança com Deus.

 

Não se pode ignorar que o mundo daquela época praticava a escravidão. Todas as nações em volta de Israel tinham seus escravos. E nessas nações, os escravos eram tratados como mera mercadoria, com brutalidade e horror e crueldade.

 

Permitindo que os Israelitas adquirissem estes escravos, Deus fazia com que esses homens e mulheres que não possuíam mais a sua própria vida, agora pudessem ter nova esperança, ao encontrar o Deus de Abraão e entrar em uma aliança com Ele.

 

Isso era parte da promessa que Deus havia feito com Abraão:

 

Em ti serão benditas todas as famílias da terra.” Gênesis 12:3

Evitando as práticas brutais das nações vizinhas, os Israelitas deveriam afetar positivamente o mundo em que estavam inseridos, mostrando novas práticas de vida.

 

Eles tinham que encontrar um modo concreto de mitigar, diminuir o sofrimento humano “no mundo real”.

 

E a aquisição desses homens e mulheres para dentro da sociedade Israelita, deveria ser um meio para melhorar a vida deles, principalmente por meio da conversão, do aprendizado da Lei de Deus e do entrar no pacto e na aliança com Deus, que era oferecido a esses “escravos”.

 

 

Era uma posição que ia para além das origens pagãs desses homens e mulheres, trazendo-os para uma experiência única de ter comunhão com o verdadeiro Deus.

 

A liberdade do eved canaani

E quando alguém ferir o olho do seu servo, ou o olho da sua serva, e o danificar, o deixará ir livre pelo seu olho. E se tirar o dente do seu servo, ou o dente da sua serva, o deixará ir livre pelo seu dente.” Êxodo 21:26-27

Não menos significante era a forma que um escravo não hebreu ganhava a sua liberdade. Se ele fosse ferido por seu senhor, em seu olho ou dente, sairia livre.

 

Os olhos são a janela da alma, e uma visão errada do mundo pode nos levar a pior das escravidões que é a do pecado.

 

E somente quando somos “atingidos” nos olhos, mudando a nossa visão de vida é que podemos enxergar que a verdadeira liberdade é ser “um servo” de Deus.

 

A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” Mateus 6:22-23

De forma semelhante, o conteúdo do nosso caráter é expressado por aquilo que falamos.

 

Sendo atingidos no “dente”, na nossa boca, significa experimentar uma mudança de caráter, mudança de vida que só pode ser conseguido quando nos fazemos servos de Deus.

 

O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca.” Lucas 6:45

Muitas vezes é necessário que recebamos esse “golpe santo”, de Deus. Não podemos nos esquecer das nossas origens espirituais, nós somos “avadim“, servos de Deus. Ele é o nosso Senhor e Mestre, e tem pleno direito de nos corrigir.

 

Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te.” Apocalipse 3:19 “Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.” 1 Coríntios 11:32

Nós somos servos comprados do mundo, não com o vil metal perecível, mas com algo muito superior e eterno, com o Seu precioso sangue. Temos um Mestre, temos um Senhor.

 

Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” 1 Pedro 1:18-19

 

 RESPOSTA

 

Há uma tendência de olhar para a escravidão como algo do passado. Entretanto, estima-se que hoje em dia mais de 27 milhões de pessoas estejam sujeitas à escravidão: trabalho forçado, comércio sexual, propriedade herdável, etc. Como aqueles que foram redimidos da escravidão do pecado, os seguidores de Jesus Cristo devem ser os principais defensores do fim da escravidão humana no mundo de hoje. A pergunta surge, entretanto, por que a Bíblia não fala fortemente contra a escravidão? Por que a Bíblia, de fato, parece apoiar a prática da escravidão humana?

 

A Bíblia não condena especificamente a prática da escravidão. Ela dá instruções sobre como os escravos devem ser tratados (Deuteronômio 15:12-15; Efésios 6:9; Colossenses 4:1), mas não a declara ilegal. Muitos veem isto como se a Bíblia permitisse todas as formas de escravidão. O que muitas pessoas não compreendem é que a escravidão nos tempos bíblicos era muito diferente da escravidão praticada nos últimos séculos em muitas partes do mundo. A escravidão na Bíblia não era baseada exclusivamente em raça. As pessoas não eram escravizadas por causa da sua nacionalidade ou pela cor da sua pele. Nos tempos bíblicos, a escravidão era mais um status social. As pessoas vendiam a si mesmas quando não conseguiam pagar os seus débitos ou sustentar a sua família. No Novo Testamento, às vezes, médicos, advogados e até políticos eram escravos de outra pessoa. Na verdade, algumas pessoas escolhiam serem escravas para ter todas as suas necessidades providas pelos seus senhores.

 

A escravidão dos últimos séculos era frequentemente baseada exclusivamente na cor da pele. Os negros eram considerados escravos por causa da sua nacionalidade – muitos donos de escravos realmente acreditavam que os negros eram “seres humanos inferiores” em relação aos brancos. A Bíblia definitivamente condena a escravidão baseada na raça porque ensina que todo ser humano é criado por Deus e feito em Sua imagem (Gênesis 1:27). Ao mesmo tempo, o Antigo Testamento permitia e regulava a escravidão econômica. A questão-chave é que a escravidão permitida pela Bíblia não se assemelhava de modo algum à escravidão racial que tem atormentado nosso mundo nos últimos séculos.

 

Além disso, tanto o Antigo quanto o Novo Testamento condenam a prática do "roubo de homens", que é o que aconteceu na África no século XIX. Os africanos eram atacados por caçadores de escravos, que os vendiam aos traficantes de escravos, os quais, por sua vez, os levavam ao Novo Mundo para trabalhar em plantações e fazendas. Esta prática é abominável para Deus. De fato, a pena para tal crime na Lei Mosaica era a morte: "O que raptar alguém e o vender, ou for achado na sua mão, será morto" (Êxodo 21:16). Da mesma forma, no Novo Testamento, os comerciantes de escravos são listados entre aqueles que são "ímpios e profanos" e estão na mesma categoria que aqueles que matam seus pais ou mães, homicidas, adúlteros e pervertidos, e mentirosos e perjuros (1 Timóteo 1:8-10).

 

Outro ponto crucial é que o propósito da Bíblia é apontar o caminho para a salvação, não para reformar a sociedade. A Bíblia muitas vezes aborda questões de dentro para fora. Se uma pessoa experimentar o amor, a misericórdia e a graça de Deus ao receber a Sua salvação, Deus reformará a sua alma, mudando o modo como pensa e age. Uma pessoa que experimentou o dom da salvação de Deus e a libertação da escravidão do pecado, conforme Deus reforma sua alma, perceberá que escravizar outro ser humano é errado. Ela verá, com Paulo, que um escravo pode ser "um irmão no Senhor" (Filemon 1:16). Uma pessoa que verdadeiramente experimentou a graça de Deus será, por sua vez, graciosa para com os outros. Essa seria a prescrição da Bíblia para acabar com a escravidão.

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