VALDENSES
1-Os
valdenses (francês: Vaudois; italiano: Valdesi), também chamados de
valdensianos, são uma denominação cristã ascética que teve sua origem entre os
seguidores de Pedro Valdo por volta de 1173, em Lyon, na França.
Caracterizavam-se por fazer votos de pobreza e de desapego às coisas
materiais.[1]
Introdução
O
movimento valdense rapidamente se espalhou para os Alpes Cócios, entre o que é
hoje a França e a Itália. Fiel às suas raízes históricas, o movimento valdense
hoje é centrado em Piemonte, no norte da Itália. Atualmente, subsistem como um
grupo etnorreligioso na Itália e Uruguai nas igrejas Valdense e Evangélica
Valdense do Rio da Prata, além de descendentes na Alemanha, Estados Unidos,
França e Brasil.
O
movimento originou-se no final do século XII como os Homens Pobres de Lyon,[1]
um grupo organizado por Pedro Valdo, um rico comerciante que doou seus bens por
volta de 1173, pregando a pobreza apostólica como sendo caminho para a
perfeição. Os ensinamentos valdenses entraram rapidamente em conflito com a
Igreja Católica. Em 1215, os valdenses foram declarados heréticos e sujeitos a intensa
perseguição; o grupo quase foi aniquilado no século XVII e foi confrontado com
discriminação organizada nos séculos que se seguiram. Na era da Reforma
Protestante, os valdenses influenciaram o reformador suíço Heinrich Bullinger.
Ao encontrar as ideias de outros reformadores semelhantes às deles, eles
rapidamente se fundiram no maior movimento protestante. Com as Resoluções de
Chanforan, em 12 de setembro de 1532, eles formalmente se tornaram parte da
tradição calvinista.
No
século XVI, líderes valdenses abraçaram a Reforma Protestante e uniram-se a
várias entidades regionais protestantes locais. Já em 1631, os estudiosos
protestantes e os próprios teólogos valdenses começaram a considerar os
valdenses como precursores da Reforma, que haviam mantido a fé apostólica
diante da opressão católica. Os valdenses modernos compartilham princípios
fundamentais com os calvinistas, incluindo o sacerdócio de todos os crentes, a
comunidade congregacional e certos sacramentos, como a Comunhão e o Batismo.
Eles são membros da Comunidade de Igrejas Protestantes na Europa e suas
afiliadas em todo o mundo.
A
principal denominação dentro do movimento foi a Igreja Evangélica Valdense, a
igreja original na Itália.
Parte
da série sobre a
Congregações
continuam ativas na Europa, América do Sul e América do Norte. Organizações
como a American Waldensian Society mantêm a história desse movimento e declaram
assumir como sua missão "proclamar o Evangelho cristão, servir os
marginalizados, promover a justiça social, fomentar o trabalho inter-religioso
e defender o respeito à diversidade religiosa e à liberdade de
consciência."[2]
São a
única seita da Idade Média, considerada herética pela Igreja Católica, a
subsistir até os dias de hoje.[3][4][5]
Características
da moderna Igreja Valdense
A atual
Igreja Valdense se considera uma igreja protestante da tradição reformada
originalmente enquadrada por Ulrico Zuínglio e João Calvino.[6] Reconhece como
seu padrão doutrinário a Confissão de Fé publicada em 1655 e baseada na
confissão reformada de 1559. Ela admite apenas duas cerimônias, o batismo e a
Santa Ceia. A autoridade suprema no corpo é exercida por um sínodo anual, e os
assuntos das congregações individuais são administrados por um consistório sob
a presidência do pastor.
Ao longo
dos séculos, igrejas valdenses foram estabelecidas em países distantes da
França, como o Uruguai e os Estados Unidos, onde as congregações valdenses
ativas continuam o propósito do movimento valdense. A contemporânea e histórica
herança espiritual valdense descreve-se como proclamando o Evangelho, servindo
aos marginalizados, promovendo a justiça social, promovendo o trabalho
inter-religioso e defendendo o respeito pela diversidade religiosa e pela
liberdade de consciência. Hoje, a Igreja Valdense é membro da Comunhão Mundial
das Igrejas Reformadas, do Conselho Metodista Mundial, da Federação de Igrejas
Evangélicas na Itália e do Conselho Mundial de Igrejas.[2]
História
Fontes
históricas
O
moderno conhecimento da história medieval dos valdenses origina-se quase que
exclusivamente da Igreja Católica, ou seja, a instituição que os condenava como
heréticos.[7] Por causa dessa escassez documental e desconexão da qual devemos
extrair a descrição das crenças valdenses,[8] muito do que se sabe sobre os
primeiros valdenses vem de relatos como "Profissão de Fé de Valdo de
Lyon"; Durando d'Osca (c. 1187-1200) Liber antiheresis; e o Rescriptum of
Bergamo Conference (1218).
Documentos
antigos que informam sobre a incipiente história valdense incluem Will of
Stefano d'Anse (1187), Manifestatio haeresis Albigensium et Lugdunensium (c.
1206–1208); e o Anonymous chronicle of Lyon (c. 1220). Há também outros dois
relatórios escritos para a Inquisição por Reinerius Saccho (falecido em 1259),
um ex-cátaro que se converteu ao catolicismo, publicado em 1254 como
"Summa de Catharis et Pauperibus de Lugduno" (Sobre os Cátaros e os
Pobres de Lyon).[9]
Teorias
de origens alternativas
Já foi
dito que os valdenses foram primeiramente ensinados pelo apóstolo Paulo de
Tarso, que visitou a Espanha e depois viajou para o Piemonte. Como a Igreja
Católica entregou-se a excessos dogmáticos no tempo de Constantino, os
valdenses se mantiveram fiéis à sua fé apostólica de pobreza e piedade. Essas
versões perderam crédito durante o século XIX.[10]
Há
também alegações de que os valdenses eram anteriores a Pedro Valdo. Em
"História da Igreja dos Valdenses" (1859), Antoine Monastier cita
Eberhard de Béthune, abade de Foncald, escrevendo no final do século XII, que
os valdenses surgiram durante o papado de Lúcio.[11] Monastier leva-o a
significar Lúcio II, papa de 1144 a 1145, e conclui que os valdenses estavam
ativos antes de 1145. Bernard também diz que o mesmo papa Lúcio os condenou
como hereges, mas foram condenados pelo papa Lúcio III em 1184.[12]
Monastier
também diz que Eberhard de Béthune, escrevendo em 1210 (embora Monastier diga
1160), alegou que o nome "valdense" significava habitantes do vale ou
aqueles que "moram num vale de tristeza e lágrimas" e estava em uso
antes de Pedro Valdo.[11]
Origem
Ver
artigo principal: Pedro Valdo
Pedro
Valdo, líder dos valdenses
De
acordo com relatos e com a tradição, o movimento valdense tem origem com Pedro
Valdo, um rico comerciante de Lyon. Renunciou sua riqueza como sendo um fardo
para a pregação e estilo de vida apostólico, sendo esse o caminho para a
perfeição espiritual, o que levou outros membros da Igreja Católica a seguirem
seu exemplo.[13] Devido à sua repulsa à riqueza, o movimento logo ficou
conhecido como "Os Homens Pobres de Lyon", ou "Os pobres da
Lombardia".[14]
O
movimento valdense, desde o seu início, era caracterizado pela pregação leiga.
Esta prática significava que pessoas que não possuíam cargos eclesiásticos
podiam pregar; pobreza voluntária e uma ligação extrema com as Sagradas
Escrituras. Entre 1175-1185, Pedro Valdo encomendou de um clérigo uma tradução
(ou ele mesmo traduziu, segundo fontes existentes) do Novo Testamento para o franco-provençal,
língua local na época.[15] Passou a pregar mesmo sem ser sacerdote. Desde o
início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua
própria língua, sendo esta a fonte de toda autoridade eclesiástica.[15][16]
Em
1179, Pedro Valdo e um de seus discípulos foram a Roma, onde o Papa Alexandre
III e a cúria romana os receberam. Eles tiveram que explicar sua fé diante de
três clérigos dominicanos, ordem responsável pela hermenêutica e exegese das
Sagradas Escrituras. Entre os inquisidores, estava o bispo inglês Walter Map.
Foram questionados pontos doutrinários como sacerdócio universal, evangelho em
línguas bárbaras, isto é, que não fossem latim ou grego, e a questão da pobreza
voluntária. Os resultados foram inconclusivos, e o Terceiro Concílio de Latrão,
no mesmo ano, condenou as ideias de Pedro Valdo, mas não o movimento em si.
Seus líderes ainda não haviam sido excomungados. Os valdenses prosseguiram e
desobedeceram o Terceiro Concílio de Latrão e continuaram a pregar de acordo
com a sua própria interpretação das Escrituras.[17]
Em
1184, o Papa Lúcio III excomungou Pedro Valdo e, em 1215, o Quarto Concílio de
Latrão concordou, declarando o movimento como herético e sujeito a
perseguições.[16]
Pedro
Valdo e seus seguidores desenvolveram um sistema itinerante, deslocando-se de
cidade em cidade secretamente em pequenos grupos, onde poderiam confessar os
pecados e arrumar serviços. Um pregador valdense itinerante era conhecido como
Barba. Estes eram estimulados a estudar e memorizar livros da Bíblia, para que,
em momentos de necessidade, as próprias passagens memorizadas servissem-lhes
como alimento espiritual.[18] O grupo valdense devia abrigar os barbas e
ajudá-los a prosseguir para outra cidade em segredo. Pedro Valdo possivelmente
morreu no início do século XIII, possivelmente na Alemanha. Ele nunca foi
capturado e seus restos mortais permanecem desconhecidos.
Pedro
Valdo em Roma, explicando-se aos inquisidores e ao Papa Alexandre III, em 1179.
Os
valdenses da época pertenciam a um de três grupos:[19]
Sandaliati
[carece de fontes]
Doctores:
instruíam e treinavam os missionários
Novellani:
pregavam para a população geral
Eles
também eram chamados Insabbatati, Sabati, Inzabbatati, ou Sabotiers - devido ao
sabot, um tipo de calçado que eles usavam.[20][21]
Os
valdenses deram um valor raro ao texto bíblico na Idade Média, providenciando
traduções e cópias no vernáculo.[22] Os estudantes valdenses usavam a Bíblia
como seu livro principal. Antes da invenção da prensa móvel de Johannes
Gutenberg, todas as bíblias eram copiadas à mão, e muito tempo era gasto no
processo. Portanto, poucos exemplares completos da bíblia eram estimados.[23]
Os jovens valdenses memorizavam livros inteiros das Escrituras e muitos
poderiam recitar todo o Novo Testamento, juntamente com muitas passagens do
Antigo Testamento, e exaltavam a seguinte passagem como justificativa: “Escondi
a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Salmos 119:11). Por
causa das contínuas e brutais perseguições, suas preciosas cópias das
Escrituras foram às vezes destruídas. Se isso acontecesse, eles poderiam
reproduzir o manuscrito inteiro de memória.[24][25][26]
Os
valdenses compartilham um contexto histórico comum com outros movimentos
religiosos populares na Baixa Idade Média, tais como os franciscanos,
arnoldistas, seguidores de Pedro de Bruys, dominicanos, bogomilos, cátaros,
dentre outros. Exceto alguns grupos, como os dominicanos e franciscanos, no
geral esses movimentos foram tidos como heréticos e sofrem dura
repressão.[27][28] O que é peculiar na história dos valdenses é a capacidade
deles terem sobrevivido às perseguições, mantendo-se como comunidade bem
adentro das eras moderna e contemporânea.
Crianças
valdenses
Os
valdenses compreendiam o valor da educação cristã. Seus jovens eram o futuro da
igreja, e os valdenses precisavam de um forte grupo de jovens para levar
adiante a fé apostólica. Os pais reconheciam que o maior legado que poderiam
dar a seus filhos seria levá-los ao caminho da salvação e ajudá-los a
desenvolver um caráter cristão. Em The Great Controversy, conta-se como os pais
fizeram para treinar suas crianças e prepará-las a serem fiéis a Deus:
"Os
pais, carinhosos e afetuosos como eram, amavam seus filhos sabiamente para
acostumá-los à autoindulgência. Diante deles havia uma vida de provações e
dificuldades, talvez a morte de um mártir. Eles foram educados desde a infância
para suportar a dureza, para se submeter ao autocontrole, e ainda para pensar e
agir por si mesmos. Desde muito cedo, foram ensinados a assumir
responsabilidades, a evitar falar desnecessariamente e a compreender a
sabedoria do silêncio. Uma palavra indiscreta deixada cair na audição de seus
inimigos poderia pôr em perigo não apenas a vida do falante, mas a vida de centenas
de seus irmãos; pois, como os lobos caçando suas presas, os inimigos da verdade
perseguiam aqueles que ousavam reivindicar a liberdade da fé
religiosa."[29]
Resposta
Católica
ilustrações
retratando valdenses como bruxas em Le champion des dames, de Martin Le France,
1451.
A
Igreja Católica via os valdenses como não-ortodoxos, e em 1184, no Sínodo de
Viena, sobre o comando do Papa Lúcio III, Pedro Valdo e seu movimento foram
excomungados. Papa Inocêncio III foi além, no Quarto Concílio de Latrão em
1215, no qual oficialmente denunciou os valdenses como uma seita herética. Em
1211, mais de 80 valdenses foram queimados como heréticos em Estrasburgo; esta
ação inaugurou séculos de perseguição que quase exterminou o
movimento.[30][31][32]
Em
1487, o Papa Inocêncio VIII emitiu uma bula[33] para o extermínio da heresia
valdense. Alberto de' Capitanei, arquidiácono de Cremona, respondeu à bula
organizando uma cruzada para cumprir o mandato e começar uma ofensiva nas
províncias de Delfinado e Piemonte. Carlos Emanuel I, Duque de Saboia, acabou
interferindo para salvar seus territórios de mais turbulência, e prometeu aos
valdenses paz, mas não antes da ofensiva devastar a região e muitos dos
valdenses fugirem para Provença ou para o sul da Itália.
O
teólogo Angelo Carletti di Chivasso, quem Papa Inocêncio VIII em 1491 apontou o
núncio apostólico e comissário conjunto com o bispo de Mauriana, estava
envolvido em atingir um acordo de paz entre católicos e valdenses.[34]
Reforma
Quando
notícias da Reforma Protestante chegaram aos valdenses, a távola valdense
decidiu em fazer sociedade com o protestantismo nascente. Em uma reunião
realizada em 1526, em Laus, cidade do vale Chisone, decidiu-se enviar
emissários para examinar o novo movimento. Em 1532, eles conheceram
protestantes alemães e suíços e adaptaram suas crenças com as da Igreja
Reformada.
As
Igrejas Reformadas da Suíça e da França enviaram Guilherme Farel e Anthony
Saunier para a reunião de do Sínodo de Chanforan, realizada em 12 de outubro de
1532. Farel convidou-os a se juntarem à Reforma e saírem do sigilo, então os
valdenses formalmente se tornaram parte da tradição Calvinista.[35] Uma
Confissão de Fé, com as doutrinas reformadas, foram formuladas e os valdenses
decidiram a proclamar sua fé abertamente na França. Os valdenses influenciaram
o reformador suíço Heinrich Bullinger.
A
Bíblia francesa, traduzida por Pierre Robert Olivetán com a ajuda de Calvino e
publicada em Neuchâtel em 1535, era baseada, em parte, no Novo Testamento dos
valdenses. As igrejas valdenses coletaram 1500 coroas de ouro para cobrir os
custos de sua publicação.[36]
Os
principais grupos de valdenses residiam em três regiões: Provença, Calábria e
nos Alpes. Todos sofreram perseguição.[37]
Massacre
de Mérindol (1545)
Ver
artigo principal: Massacre de Mérindol
Fora de
Piemonte, os valdenses se juntaram às igrejas protestantes locais na Boêmia,
França e Alemanha. Depois de saírem da reclusão e emitirem relatórios de
sedição, o rei francês Francisco I de França, em 1 de janeiro de 1545, emitiu o
Arrêt de Mérindol, e convocou um exército contra os valdenses de Provença. Os
líderes no massacre de 1545 eram Jean Maynier d'Oppède, primeiro presidente do
parlamento de Provença, e o comandante militar Antoine Escalin des Aimars, que
havia retornado das guerras italianas com 2000 veteranos, Bandes de Piémont.
Mortes no massacre de Mérindol varia de centenas a milhares, dependendo das
estimativas, com diversas vilas devastadas.[38]
Massacre
dos valdenses em Mérindol, 1545
No tratado
realizado em 5 de junho de 1561, foi concedida anistia aos protestantes dos
vales, incluindo liberdade de consciência e liberdade de culto. Os presos foram
libertados e os fugitivos autorizados a voltar para casa, mas, apesar desse
tratado, os valdenses, com os outros protestantes franceses, ainda sofreram
durante as guerras francesas de religião em 1562-1598.
Já em
1631, estudiosos protestantes começaram a considerar os valdenses como
precursores da Reforma, pois haviam mantido a fé apostólica diante da opressão
católica, de uma maneira similar como os seguidores de John Wycliffe e Jan Hus,
também perseguidos pelas autoridades, eram vistos.
Embora
a igreja valdense tenha recebido alguns direitos e liberdades sob o rei francês
Henrique IV, com o Édito de Nantes em 1598, a perseguição ressurgiu no século
XVII, com o extermínio dos valdenses realizada pelo duque de Saboia em 1655.
Isso levou a o êxodo e a dispersão dos valdenses para outras partes da Europa e
até mesmo para o hemisfério ocidental.
Massacre
na Calábria (1560)
Havia
muitos grupos de valdenses na Calábria. Após o sínodo de Chanforan eles se
juntaram ao movimento reformista e saíram do esconderijo. A Inquisição enviou
uma missão para esta parte da Itália em 1560. Dois pastores que morreram por
sua fé, Jacques Bonello e Giovanni Luigi Pascale, foram enviados para a
Calábria pela Igreja em Genebra. Um foi queimado vivo na fogueira em Palermo,
em 1560, e o outro em Roma no mesmo ano. O país foi então devastado por uma
campanha militar violenta e os valdenses foram dizimados; aqueles que escaparam
foram forçados a renunciar à sua fé.[37]
Os
católicos aprisionaram vários valdenses da Calábria para vender como escravos
das galés de navios europeus ou nas costas africanas.[39]
Crianças
valdenses de Piemonte separadas de seus pais.
A
Páscoa de Piemonte (1655)
Em
janeiro de 1655, o Duque de Saboia ordenou aos valdenses que assistissem à
missa ou se retirassem para os vales mais elevados de sua terra natal,
dando-lhes vinte dias para venderem suas terras. Estando no meio do inverno, a
ordem pretendia persuadir os valdenses a escolher a primeira opção; no entanto,
a maior parte da população preferiu a segunda, abandonando suas casas e terras
nos vales mais baixos e removendo-a para os vales mais elevados. Escritos
relatam que os perseguidos, incluindo homens velhos, mulheres, crianças
pequenas e os doentes "atravessavam as águas gélidas, subiam os picos
congelados e finalmente alcançavam as casas de seus pobres irmãos dos altos
vales, onde eram calorosamente recebidos."[40]
Em
meados de abril do mesmo ano, quando ficou claro que os esforços do duque para
forçar os valdenses a se conformarem ao catolicismo fracassaram, ele tentou
outra alternativa. Sob o disfarce de falsos relatos de levantes valdenses, o duque
enviou tropas para os vales superiores para reprimir a população local. Ele
exigiu que a população local dividisse as tropas em suas casas, o que a
população local cumpria. Mas a ordem de esquartejamento era um artifício para
permitir às tropas acesso fácil à população. Em 24 de abril de 1655, às 4 da
manhã, o sinal foi dado para um massacre geral.
As
forças do duque não simplesmente massacraram os habitantes. É relatado que eles
desencadearam uma campanha não provocada de saques, estupros, tortura e
assassinato. De acordo com um relatório de Peter Liegé:
Massacre
de 1655, em La Torre.
Ilustração de History of the Evangelical Churches of
the Valleys of Piedmont, Samuel Morland, Londres, 1658
"As
crianças pequenas foram arrancadas dos braços de suas mães, agarradas por seus
minúsculos pés e suas cabeças arremessadas contra as rochas; ou eram mantidos
entre dois soldados e seus membros trêmulos, dilacerados pela força. Seus
corpos mutilados eram então jogados nas estradas ou campos, para serem
devorados por feras. Os enfermos e os idosos foram queimados vivos em suas
moradas. Alguns tiveram suas mãos e braços e pernas cortados, e fogo aplicado
às partes cortadas para estancar o sangramento e prolongar seu sofrimento.
Alguns foram esfolados vivos, alguns foram assados vivos, alguns estripados; ou amarrados a árvores em seus próprios pomares e seus corações cortados. Alguns foram
terrivelmente mutilados e, de outros, os cérebros
foram cozidos e comidos por esses canibais. Alguns foram presos nos sulcos de
seus próprios campos e arados no solo, enquanto homens lançavam estrume sobre
ele. Outros foram enterrados vivos. Pais foram levados à morte com as cabeças
dos filhos suspensas no pescoço. Os pais foram obrigados a olhar enquanto seus
filhos foram primeiro ultrajados (estuprados), depois massacrados, antes de
serem autorizados a morrer."[41]
Esse
massacre ficou conhecido como a "Páscoa de Piemonte". Uma estimativa
de cerca de 1700 valdenses foram assassinados; o massacre foi tão brutal que
provocou indignação em toda a Europa. Governantes protestantes no norte da
Europa ofereciam refúgio aos remanescentes valdenses. Oliver Cromwell, então
governante na Inglaterra, começou a peticionar em nome dos valdenses;
escrevendo cartas, levantando contribuições, convocando um jejum geral na
Inglaterra e ameaçando enviar forças militares para o resgate. O massacre
incitou o poema de John Milton sobre os valdenses: "No final do massacre
no Piemonte".[42] Os calvinistas suíços e holandeses montaram uma
"estrada de ferro subterrânea" para levar muitos dos sobreviventes
para o norte até a Suíça e até a República Holandesa, onde os vereadores da
cidade de Amsterdã fretaram três navios para levar cerca de 167 valdenses para
a Colônia da Cidade no Novo Mundo (Delaware) no Natal de 1656.[43] Aqueles que
ficaram para trás na França e no Piemonte formaram um movimento de resistência
de guerrilha liderado por um fazendeiro, Joshua Janavel, que durou até a década
de 1660.[44]
Revogação
do Édito de Nantes e o "Retorno Glorioso"
O Édito
de Fontainebleau, revogação do Édito de Nantes, em 1685.
Em
1685, Luís XIV revogou o Édito de Nantes de 1598, que garantia a liberdade de
religião a seus súditos protestantes na França. As tropas francesas enviadas
para as áreas valdenses francesas dos vales de Chisone e Susa no Dauphiné
forçaram 8000 valdenses a se converter ao catolicismo e outros 3000 a partirem
para a Alemanha.
Em
Piemonte, o primo de Luís, o recém ascendido Duque de Saboia, Vítor Amadeu II
da Sardenha, seguiu seu tio para remover a proteção dos protestantes em
Piemonte. Na perseguição renovada, e em um eco do "Massacre da Páscoa do
Piemonte" de apenas três décadas antes, o Duque emitiu um decreto em 31 de
janeiro de 1686 que anunciava a destruição de todas as igrejas valdenses e que
todos os habitantes dos Vales deveriam anunciar publicamente seu erro na
religião dentro de quinze dias, sob pena de morte e banimento. Mas os valdenses
continuaram resistentes. Após os quinze dias, um exército de 9000 soldados
franceses e piemonteses invadiu os vales contra os estimados 2500 valdenses,
mas descobriu-se que todas as aldeias haviam organizado uma força de defesa que
mantinha os soldados franceses e piemonteses afastados.
Em 9 de
abril, o duque de Saboia emitiu um novo decreto, ordenando aos valdenses que
deixassem as armas no prazo de oito dias e fossem exilados entre 21 e 23 de
abril. Se capazes, eles eram livres para vender suas terras e posses para o
maior lance.
O
pastor valdense Henri Arnaud (1641-1721), que havia sido expulso do Piemonte
nos primeiros expurgos, voltou da Holanda. No dia 18 de abril, ele fez um apelo
inicial diante de uma assembleia em Roccapiatta, conquistando a maioria em
favor da resistência armada. Quando a trégua expirou em 20 de abril, os
valdenses foram preparados para a batalha.
Eles
lutaram bravamente durante as seis semanas seguintes, mas quando o duque se
retirou para Turim, em 8 de junho, a guerra parecia decidida: 2000 valdenses
haviam sido mortos; outros 2000 haviam "aceitado" a teologia católica
do Concílio de Trento. Outros 8000 foram presos, dos quais mais da metade
morreria de fome deliberadamente imposta, ou de doença dentro de seis meses.
Mas
cerca de duzentos ou trezentos valdenses fugiram para as colinas e começaram
uma guerra de guerrilha no ano seguinte contra os colonos católicos que
chegaram para tomar as terras dos valdenses. Esses "Invencíveis"
continuaram seus ataques até que o duque finalmente cedeu e concordou em negociar.
Os "Invencíveis" ganharam o direito de os valdenses aprisionados
serem libertados da prisão e receberem passagem segura para Genebra. Mas o
duque, concedendo essa permissão em 3 de janeiro de 1687, exigiu que os
valdenses partissem imediatamente ou se convertessem ao catolicismo. Este
decreto levou a cerca de 2800 valdenses deixando o Piemonte para Genebra, dos
quais apenas 2490 sobreviveriam à viagem.
Luís
XIV de França, símbolo do absolutismo europeu.
Henri
Arnaud e outros procuraram agora ajuda das potências aliadas europeias. Arnaud
apelou para Guilherme de Orange diretamente de Genebra, enquanto outros, entre
os quais o jovem L'Hermitage, foram enviados para a Inglaterra e outras terras
para pedir apoio. Orange e os aliados estavam contentes com qualquer desculpa
para contrariar a França, cujas invasões territoriais em todas as frentes eram
intoleráveis. A Liga de Augsburg foi formada em 1686 sob Orange, que prometeu
apoio a Arnaud. Em agosto de 1689, no meio das guerras entre a Liga de Augsburg
e a França, Arnaud liderou 1000 imigrantes suíços, armados com armas modernas
fornecidas pelos holandeses, de volta ao Piemonte. Mais de um terço da força
pereceu durante a jornada de 130 milhas. Eles conseguiram restabelecer sua
presença no Piemonte e expulsaram os colonos católicos, mas continuaram a ser
sitiados pelas tropas francesas e piemontesas.
Em 2 de
maio de 1689, com apenas 300 soldados valdenses remanescentes, e encurralados
em um pico alto chamado Balsiglia, por 4000 soldados franceses com canhões, o
assalto final foi retardado pela tempestade e depois pela cobertura de nuvens.
O comandante francês estava tão confiante em concluir seu trabalho na manhã
seguinte que enviou uma mensagem a Paris de que a força valdense já havia sido
destruída. No entanto, quando os franceses acordaram na manhã seguinte,
descobriram que os valdenses, guiados por um deles, familiarizado com a
Balsiglia, já haviam descido do pico durante a noite e agora estavam a
quilômetros de distância.
Os
franceses perseguiram, mas apenas alguns dias depois uma súbita mudança de
aliança política do duque, da França à Liga de Augsburg, acabou com a
perseguição francesa dos valdenses. O duque concordou em defender os valdenses
e pediu que todos os exilados valdenses voltassem para casa para ajudar a
proteger as fronteiras do Piemonte contra os franceses, no que veio a ser
conhecido como o "Retorno Glorioso".[45]
Liberdade
religiosa após a Revolução Francesa (1789)
Depois
da Revolução Francesa, em 1789, os valdenses de Piemonte tiveram assegurada a
liberdade de consciência e, em 1848, o governante de Sabóia, o rei Carlos
Alberto da Sardenha proclamou o edito de emancipação garantindo liberdade de
culto e direitos individuais para os valdenses no Piemonte (então parte do
Reino da Sardenha e depois para toda o Reino de Itália).[46]
Igreja
Valdense em Roma
O
crescimento populacional e busca de maior liberdade econômica e religiosa
fizeram os valdenses emigrarem em massa no final do século XIX. Na época da
Unificação italiana, os valdenses tinham congregações em toda a península,
algumas originadas pela pregação, outras pela migração.[47] Contudo, a pobreza,
a discriminação social e a pressão demográfica levaram os valdenses a
emigrarem, primeiro como trabalhadores sazonais para a Riviera Francesa e a
Suíça, e depois para Colônia Valdense no Uruguai, Jacinto Aráuz em La Pampa,
Argentina e finalmente para os Estados Unidos.[48] Aqueles que permaneceram na
Itália experimentaram mobilidade social ascendente. As empresas valdenses
dominaram a indústria de chocolate de Turim na segunda metade do século XIX e
são geralmente creditadas pela invenção do gianduja (chocolate de avelã).[49]
A
erudição valdense também floresceu no século XIX. Cópias da versão de Romaunt
do Evangelho de João foram preservadas em Paris e Dublin. Os manuscritos foram
usados como a base de um trabalho de
William Stephen Gilly publicado em 1848, no qual ele descreveu a história do
Novo Testamento em uso pelos valdenses.[50] O Waldensian College começou a
treinar ministros em 1855, primeiro em Torre Pellice. Alguns anos depois, o
Waldensian College mudou-se para Florença e, em 1922, para Roma. A integração
econômica e social facilitou a aceitação dos valdenses étnicos na sociedade
italiana. Escritores como Italo Calvino e políticos como Domenico Maselli e
Valdo Spini são de origem valdense. A igreja também atraiu intelectuais como
novos adeptos e apoiadores, como o filósofo Gianni Vattimo, e goza de apoio
financeiro significativo de italianos não aderentes.
Papa
Francisco sobre as perseguições
Em 22
de junho de 2015, após uma visita histórica a uma Igreja Valdense em Turim, o
Papa Francisco, em nome da Igreja Católica, pediu perdão aos cristãos valdenses
pelas perseguições realizadas no passado:
“Da
parte da Igreja Católica, peço-vos perdão pelas atitudes e comportamentos não
cristãos, por vezes não humanos, que tivemos contra vós, na história. Em nome
do Senhor Jesus Cristo, perdoai-nos”.
Francisco
evocou os “amigos” da Igreja Evangélica Valdense do Rio da Prata, dos quais
lembrou “a espiritualidade e a fé” e com os quais, disse, pôde aprender “tantas
coisas boas”. Segundo o Papa, o diálogo ecumênico tem permitido uma
“redescoberta da fraternidade” entre os cristãos e a valorização do que têm em
comum, apesar das suas “diferenças”. No final do encontro, o Papa recebeu uma
cópia da primeira Bíblia em francês encomendada pelos valdenses quando, em
1532, aderiram à Reforma de Genebra (Calvinismo).[51]
O papa
Francisco foi o primeiro pontíficie a entrar num templo valdense.[52][53]
Avaliação
pelos protestantes
Alguns
dos primeiros protestantes sentiram um parentesco espiritual com os valdenses e
escreveram positivamente sobre eles. John Milton, por exemplo, escreveu em seu
soneto "Sobre o último massacre no Piemonte" do massacre de 1655 e da
perseguição aos valdenses.[42]
A cruz
huguenote, um dos símbolos valdenses
Alguns
autores anabatistas e batistas têm apontado os valdenses como um exemplo de
cristãos antigos que não faziam parte da Igreja Católica, e que mantinham
crenças que interpretavam como similares às suas. Alguns historiadores
acreditam que suas crenças vieram de missionários do início da Igreja e que sua
história remonta à era apostólica, embora esta ideia em si derive do
sucessionismo batista, uma ideia que era muito popular entre o século XIX mas
que tem sido rejeitada por especialistas na área. A base dessa tal teoria seria
uma especulação do inquisidor romano Reinerus Sacho, que escreveu em 1230 que a
seita dos valdenses remontava à antiguidade, precedendo Pedro Valdo em vários
séculos. Nos séculos XVII a XIX, os escritores menonitas holandeses e alemães,
como van Braght, Martyrs Mirror (1660)[54] e Steven Blaupot ten Cate,
Geschiedkundig onderzoek (1844),[55][56] ligaram as origens anabatistas aos
valdenses. Autores batistas como John L. Waller também ligaram suas origens aos
valdenses.[57][58][59][60][61][62] James Aitken Wylie (1808–1890) também
acreditava que os valdenses preservaram a fé apostólica e suas práticas durante
a Idade Média.[63]
Ainda
mais tarde, a adventista Ellen G. White acreditava que os valdenses eram
preservadores da verdade bíblica durante a Grande Apostasia da Igreja
Católica.[29] Ela argumentava que os valdenses mantiveram o sábado do sétimo
dia,[64] engajados em ampla atividade missionária, e "plantaram as
sementes da Reforma na Europa".[65] Contudo, tal suposição, de que
guardavam o sábado, foi refutada pela historiografia dos próprios
valdenses.[66]
O
erudito Michael W. Homer relaciona a crença em uma antiga origem dos valdenses
a três pastores do século XVII, Jean-Paul Perrin, da Igreja Reformada da
França, e os pastores valdenses Pierre Gilles e Jean Léger, que afirmavam que
os valdenses eram descendentes do cristianismo primitivo.[67]
Alguns
autores[68][69] tentam datar uma confissão valdense da fé da era da Reforma de
volta à Idade Média em 1120 para afirmar sua reivindicação da antiguidade
doutrinal.[70] No entanto, na atual historiografia dos próprios valdenses,
afirma-se que essa confissão foi elaborada em 1531.[71][72]
A
teologia protestante na Alemanha estava interessada na antiguidade doutrinal e
na continuidade apostólica expressa pela fé valdense. A alta independência das
comunidades, a pregação leiga, a pobreza voluntária e a adesão estrita à Bíblia
e sua tradução inicial por meio de Pedro Valdo foram creditados para provar uma
origem antiga do protestantismo como a verdadeira interpretação da fé. Em
"História da Reforma" (1830), de Heinrich Gottlieb Kreussler, contém
uma balada sobre o destino dos valdenses e cita "História dos
Valdenses" de Jean Léger (1750) (autoria conjunta com Siegmund Jakob Baumgarten,
publicado por Johann Jacob Korn) como prova de um início origem dos
valdenses.[73][74][75] O forte apoio dos protestantes alemães à comunidade da
diáspora valdense na Itália - o líder da União Gustavo II Adolfo da Suécia os
elogiou como uma das igrejas mais interessantes de todas - não se limitou a um
fascínio teológico. Isso levou a um amplo apoio financeiro, empréstimos, troca
de sacerdotes e comunidades, missões de ajuda e intervenções políticas para os
valdenses italianos e seus esforços de caridade, a partir do século
XVII.[76][77] Após a Segunda Guerra Mundial, a Igreja Evangélica na Alemanha
contribuiu ativamente para os esforços de reconciliação com a Itália e a França
com base em sua relação com a comunidade valdense.[76]
Valdenses
por região
Itália
Em
1848, após muitos séculos de perseguição, os valdenses adquiriram liberdade no
Piemonte, então parte do Reino da Sardenha como resultado das reformas
liberalizantes que se seguiram à concessão de uma constituição por Carlos
Alberto da Sardenha. Posteriormente, a Igreja Evangélica Valdense, como ficou
conhecida, se desenvolveu e se espalhou pela península Itálica.
A
igreja valdense conseguiu ganhar convertidos construindo escolas em algumas das
regiões mais pobres da Itália, incluindo a Sicília. Há ainda uma igreja
valdense na cidade de Grotte, no sudoeste da ilha.[78] Protestantes alemães têm
apoiado os valdenses na Itália desde o século XVII.
A
igreja Valdensa em Milão, construída em 1949, incorporou elementos góticos da
demolida igreja de San Giovanni in Conca.
Durante
a ocupação nazista do norte da Itália na Segunda Guerra Mundial, os valdenses
italianos foram ativos na salvação dos judeus que enfrentavam a extradição,
escondendo muitos deles no mesmo vale da montanha, onde seus próprios
antepassados valdenses haviam encontrado refúgio nas gerações anteriores.[79][80]
Depois
de 1945, a Igreja Evangélica na Alemanha liderada por Theophil Wurm (que também
era bispo de Württemberg) emitiu a Declaração de Culpa de Stuttgart e
contribuiu ativamente para os esforços de reconciliação com a Itália (e França)
com base nas relações com a diáspora. As festividades do centenário de 1948 da
declaração de direitos civis da Saboia foram usadas para os esforços da equipe
líder da EKD em apoiar a reconciliação alemã italiana depois da Segunda Guerra
Mundial.[76] A cooperação mais frutífera foi estabelecida a nível comunitário,
com delegados valdenses de ambos os lados pioneiros. Em 1949, Guglielmo Del
Pesco (1889-1951), moderador da Távola Valdense (mesa redonda valdense), foi
convidado de volta a Maulbronn, celebrando o 250º aniversário da emigração
valdense para a Alemanha. Ele foi incapaz de vir por razões de saúde, mas
enviou A. Jalla, um professor, descrito como sendo cheio de rancor e ódio
contra todas as coisas alemãs depois de 1945, mas que se juntou ao esforço de
reconciliação de 1949.[76] Com base nessas experiências, a primeira parceria de
geminação de cidades entre a Alemanha e a França foi assinada em 1950, entre
Ludwigsburgo e o enclave protestante Montbéliard, novamente baseada em uma
conexão especial da Württemberg Landeskirche. A União Alemã Gustavus Adolphus
apoia os projetos dos valdenses e os esforços de caridade na Itália até o
presente.[81]
Em
1975, a Igreja Valdense se uniu à Igreja Metodista Evangélica na Itália para
formar a União das Igrejas Valdense e Metodista. Tem 50000 membros (45000
valdenses, dos quais 30000 na Itália e cerca de 15000 divididos entre Argentina
e Uruguai e 5000 metodistas).
O
imposto de oito por mil, introduzido em 1985 na Itália, ajudou muito a
comunidade valdense. A lei Oito por mil (italiano: otto per mille) permite que
os contribuintes escolham a quem devolver 0,8% compulsório ("oito por
mil") de sua declaração anual de imposto de renda. Eles podem escolher uma
religião organizada reconhecida pela Itália ou um esquema de assistência social
administrado pelo Estado italiano. Enquanto os valdenses têm apenas cerca de 25
000 membros alistados, mais de 60 000 italianos estão dispostos a apoiar a
comunidade valdense e suas obras de caridade.[82] A ordenação de mulheres e,
desde 2010, a bênção de uniões do mesmo sexo[83][84] são permitidas.
Uruguai
e Argentina
Celebração
do aniversário de 150 anos da imigração italiana para Colonia Valdense, Uruguai
Os
primeiros colonos valdenses da Itália chegaram à América do Sul em 1856. A
partir dessa data houve várias migrações, especialmente para a Argentina, como
a cidade de Jacinto Aráuz, na parte sul da província de La Pampa, onde chegaram
por volta de 1901. A partir de 2016, a Igreja Valdense do Rio de La Plata (que
forma uma igreja unida com a Igreja Evangélica Valdense) tem aproximadamente 40
congregações e 15000 membros compartilhados entre o Uruguai e a Argentina.[85]
A
cidade uruguaia Colonia Valdense, no departamento de Colônia, é o centro
administrativo da Igreja Evangélica Valdense do Rio da Prata. Em 1969, a Igreja
estabeleceu uma missão no Barrio Nuevo, que se tornou uma cozinha de sopa para
os sábados e domingos, para 500 famílias pobres. A atividade missionária levou
à conversão de novos povos sem ascendência valdense, que são chamados de
"novos valdenses".
Em
1975, a Igreja Evangélica Valdense, então com 35000 membros na Itália e 15000
no Uruguai se uniram com a Igreja Metodista Italiana (com 5000 membros) para
formar a União das Igrejas Valdense e Metodista.[86]
Estados
Unidos
Desde
os tempos coloniais houve valdenses que navegaram para a América, marcados pela
presença deles em Nova Jersey e Delaware. Muitos valdenses, tendo escapado da
perseguição em suas terras natais ao se dirigirem à tolerante República
Holandesa, cruzaram o atlântico para recomeçar na colônia Nova Holanda,
estabelecendo a primeira igreja na América do Norte em Staten Island, em
1670.[87]
No
final do século XIX, muitos italianos, entre eles os valdenses, emigraram para
os Estados Unidos. Eles fundaram comunidades nas cidades de Nova York; Boston;
Chicago; Monett, Missouri; Galveston, Texas; Rochester, Nova Iorque; Hunter,
Utah; e Ogden, Utah.[88] A congregação Monett foi uma das primeiras a se
estabelecer nos Estados Unidos, em 1875, por cerca de 40 colonos que haviam
formado o assentamento sul-americano original no Uruguai na década de 1850. Com
a eclosão da Guerra Civil uruguaia, eles fugiram da violência no interior do
Uruguai, viajando de volta à Europa, atravessando o Atlântico Norte até Nova
York e de trem para o sul do Missouri. Os valdenses que viviam na região dos
Alpes Cócios, no norte da Itália, continuaram a migrar para Monett até o início
de 1900, aumentando a colônia original, e fundaram outro assentamento maior em
Valdese (Carolina do Norte), em 1893. Ambas as congregações de Monett e Valdese
usam o nome Igreja Presbiteriana Valdense.
A
Igreja Presbiteriana Valdense na cidade de Valdese, Carolina do Norte. Esta congregação
pertence à Igreja Presbiteriana (EUA).
Em
1853, um grupo de aproximadamente 70 valdenses, incluindo homens, mulheres e
crianças, deixaram suas casas nos vales do Piemonte e migraram para Pleasant
Green, Hunter e Ogden, Utah, após terem sido convertidos ao mormonismo por
Lorenzo Snow. Esses valdenses mantiveram sua herança cultural, passando sua
mistura de fé mórmon e valdense a seus descendentes. Seus descendentes ainda se
consideram mórmons e valdenses, e se encontraram ocasionalmente ao longo de
muitas décadas para celebrar ambas as heranças.[89][90][91][92]
Em
1906, por iniciativa das forças da igreja na cidade de Nova York, grupos de
interesse valdenses foram convidados a se unirem em uma nova entidade, a
American Waldensian Aid Society (AWS), organizada para arrecadar fundos e
aplicá-los à ajuda dos valdenses na Igreja na Itália e em outros lugares, e
para despertar e manter interesse em todo os EUA no trabalho da referida
Igreja". Hoje, esta organização continua como a sociedade americana valdensa.
A American Waldensian Society recentemente marcou seu centenário com uma
conferência e celebrações em Nova York.
Na
década de 1920, a maioria das igrejas e missões valdenses fundiu-se na Igreja
Presbiteriana devido à assimilação cultural da segunda e terceira gerações.
O
trabalho da American Waldensian Society continua nos Estados Unidos hoje. A
American Waldensian Society visa fomentar o diálogo e a parceria entre as
Igrejas Valdensas na Itália e na América do Sul e as igrejas cristãs na América
do Norte, a fim de promover uma visão convincente do testemunho cristão
valdense para a América do Norte.Assim, a American Waldensian Society torna
público o patrimônio histórico e contemporâneo com o qual a espiritualidade
valdense está comprometida: "Conte a história; Encoraje Cruzamentos";
e fornecer suporte financeiro".[93]
As mais
conhecidas Igrejas Valdenses na América estavam em Nova York, Monett, Missouri
e em Valdese (Carolina do Norte). A igreja em Nova York foi dissolvida em
meados da década de 1990.[94]
A
American Waldensian Society auxilia igrejas, organizações e famílias na
promoção da história e cultura valdenses. A sociedade se alia àqueles que
trabalham para preservar sua herança milenar entre seus descendentes. Por
exemplo, ao longo de 45 anos, os Old Colony Players em Valdese, Carolina do
Norte, encenaram From This Day Forward, um drama ao ar livre contando a
história dos valdenses e a fundação de Valdese.
As
igrejas presbiterianas valdenses nos Estados Unidos e a American Waldensian Society
têm ligações com a Igreja Evangélica Valdense de base italiana, mas, ao
contrário das comunidades valdenses sul-americanas, hoje são instituições
independentes da organização europeia.
Alemanha
Brasão
de Le Bourcet (parte de Althengstett) em Württemberg.
Milhares
de valdenses fugiram da Itália e da França para a Alemanha. Henri Arnaud
(1641–1721), pastor e líder dos valdenses de Piemonte, resgatou seus
correligionários de sua dispersão sob a perseguição de Vítor Amadeu II da
Sardenha, o duque de Sabóia. Eberhard Louis, duque de Württemberg, convidou os
valdenses para o seu território. Quando os valdenses foram exilados pela
segunda vez, Arnaud acompanhou-os em seu exílio a Schönenberg e continuou a
atuar como seu pastor até a morte. Aqueles que permaneceram na Alemanha foram
logo assimilados pelas Igrejas do Estado (Luterana e Reformada) e fazem parte
de vários Landeskirchen (igrejas nacionais) na Igreja Evangélica da Alemanha.
Os novos colonos estavam livres em seus serviços religiosos e os mantiveram em
francês até o século XIX. A comunidade valdense é frequentemente negligenciada,
pois os huguenotes estavam em maior número. A casa de Henri Arnaud em
Schönenberg, perto de Ötisheim, é hoje um museu. Uma placa comemorativa
refere-se à introdução de batatas em Württemberg pelos valdenses.
Partes
dos refugiados valdenses encontraram um novo lar em Hessen-Darmstadt, Kassel,
Homburg, Nassau-Dillenburg e no então Grão-Duque-Württemberg. As novas
comunidades fundadas em Rohrbach, Wembach e Hahn (hoje parte de Ober-Ramstadt),
Walldorf (hoje Mörfelden-Walldorf), Bad Homburg-Dornholzhausen, Gottstreu e
Gewissenruh (Oberweser), Charlottenberg. Ainda hoje, os nomes de família
franceses (Gille, Roux, Granget, Conle, Gillardon, Comum, Jourdan, Pistão,
Richardon, Servay, Conte, Baral, Gay, Orcellet ou Salen) mostram o passado da
Saboia. Stuttgart abriga também uma comunidade valdense italiana com cerca de
100 membros.
Busto
de Henri Arnaud em Rutesheim,Württemberg
Municípios
como Pinache, Serres (ambos agora parte de Wiernsheim), Großvillars,
Kleinvillars (parte de Oberderdingen), Perouse mostram a herança francesa, as
últimas comunidades estão perto de Maulbronn e de seu monastério e escola.
Maulbronn era o lugar das festividades para o 250º aniversário da emigração
valdense para a Alemanha,[76] que desempenhou também um papel importante na
reconciliação da Itália e Alemanha após a Segunda Guerra Mundial.[76]
A
comunidade valdense é ativa e possui várias associações que mantêm o patrimônio
específico e mantêm relações com seus pares na Itália e na América do
Sul.[95][96][97][98] Isso inclui também um olhar atento sobre o ecumenismo, com
os teólogos de influência valdense sendo mais duvidosos sobre uma cooperação
mais forte com a Igreja Católica do que outros.
Brasil
No
Brasil houve um pequeno fluxo imigratório, principalmente para o Rio Grande do
Sul, unindo-se com denominações evangélicas locais.[99] Outros valdenses se
estabeleceram no Rio de Janeiro e em São Paulo. Não formaram congregações como
no Rio Grande do Sul, antes aderindo a diversas denominações evangélicas ou
adotando uma postura secular.[100] A maior denominação protestante com
elementos de herança valdense no Brasil é a Congregação Cristã no Brasil,[101]
e, de acordo com o censo realizado pelo IBGE em 2010, constitui-se como a 3ª
maior denominação evangélica no país, com 2,2 milhões de membros.[102]
Doutrina
Dentre
as doutrinas que os valdenses guardavam e pregavam, estão incluídas:[15]
A morte
expiatória e justificação de Cristo
A
divindade de Jesus Cristo (ousia)
A queda
do homem pelo pecado original
A
encarnação do Filho
Negação
do purgatório
O valor
da pobreza voluntária
Rejeitavam
uma série de dogmas que eram amplamente mantidos na Europa cristã medieval. Por
exemplo, afirmavam que as relíquias guardadas pela Igreja Católica eram apenas
ossos e não deveriam ser tratados como especiais ou santos; peregrinações
religiosas apenas gastavam dinheiro; carne poderia ser comida sem restrição de
datas; água benta era tão eficaz quanto a água da chuva; e que um pregador no
celeiro tinha o mesmo valor de um na Igreja. Celebravam a Santa Ceia uma vez
por ano. Negavam a supremacia de Roma e consideravam o papado como o
Anticristo; rejeitavam o culto às imagens vistas por eles como idolatria e se
diziam guardadores da doutrina cristã apostólica. Eles foram acusados, além
disso, de terem ridicularizado a doutrina da Transubstanciação e de terem se
referido blasfemamente à Igreja Católica como sendo a "prostituta do
Apocalipse".[103]
O poema
La nobla leyczon, escrito língua occitana, falada no sul da França, dá um
exemplo da crença valdensa. Acredita-se que este poema foi escrito entre 1190 e
1240, mas há evidências de que talvez tenha sido escrito na primeira parte do
século XV. O poema ainda existe em quatro manuscritos: dois estão na
Universidade de Cambridge, um no Trinity College (Dublin) e o outro em Genebra,
na Suíça.[104]
Estudo:
Dionê
Leony Machado
Salvador
//Bahia // Brasil
Sem comentários:
Enviar um comentário