A
doutrinação ideológica da juventude e a modificação do senso comum
Escrito
em 5 de janeiro de 2012
Num
artigo anterior chamei de quarta fronteira, invisível aos olhos de quem não
estudou a matéria, que é tão ou mais importante (do que as geográficas) aquela
que, na falta de um termo melhor, denomino genericamente fronteira ideológica.
Não me refiro ao conceito hegeliano de ideologia, mas à infiltração muitas
vezes subliminar, de ideias que minam não somente o conceito de nacionalidade,
como também as crenças religiosas, os valores pátrios e as tradições nacionais,
a moral e os costumes e a linguagem – enfim, tudo o que mantém nosso país uno e
indivisível.
O mesmo
pode-se dizer da civilização ocidental: as fronteiras geográficas, físicas,
estão sendo derrubadas através do galopante avanço da globalização. Focalizarei
aqui especificamente a fronteira ideológica que, como qualquer uma, tem seus
pontos fortes e fracos. Os antigos guerreiros descobriram que mesmo muralhas
aparentemente inexpugnáveis, sempre tinham pontos fracos por onde o inimigo
podia penetrar. Além das fraquezas físicas, é clássica a invenção grega do
Cavalo de Tróia, até mesmo em internáutica existem programas com este nome,
invasores que se alojam no interior da máquina e enviando dados para outras
máquinas. Além da traição, um método talvez mais eficiente seja a quinta coluna
[1]: um grupo de simpatizantes secretos que apoiam o inimigo, realizando atos
de espionagem e sabotagem contra as defesas de seu país.
Como
não se trata aqui de guerra militar, mas invasão de consciências, as muralhas a
derrubar são aquelas comuns que mantém a universalidade da Civilização
Ocidental, baseada em três pilares principais: a tradição religiosa e moral
Judaico-Cristã, a filosofia Grega e o legado Medieval, e o Direito Romano.
Delas derivam um conceito que apareceu pela primeira vez na história: a noção
dos direitos fundamentais e inalienáveis do indivíduo à vida, à liberdade e à
busca da felicidade, base para o rule of law.
AS
NOVAS ROUPAS DO IMPERADOR
A
clássica obra de Hans Christian Andersen é bem conhecida, portanto basta
resumir brevemente seu argumento principal. Um rei idiota gastou fortunas com
vigaristas travestidos de alfaiates para reformar seu guarda-roupa. Estes nada
fizeram, embora parecessem estar numa azáfama febril. Inspecionados por uma
comissão de ministros, mostraram um tear vazio, perguntando se aquele não era
um tecido magnífico. Embaraçados por sua “falta de visão da realidade” os
ministros não somente acreditaram como convenceram o rei quando ele viu que não
havia nada para vestir. Como a corte inteira enxergava, o rei terminou por se
convencer e exclamar: “que vestes magníficas, perfeitas!” e saiu à rua.
Enquanto toda a população elogiava a linda vestimenta uma criança pequena, intrigada,
exclamou: “mas ele não tem nada sobre o corpo!” Popularmente usa-se tal
alegoria para dizer: o Rei está nu!
As
crianças realmente têm a característica de ainda manter uma mente livre de
mentiras e cheia de curiosidade em relação a um mundo que começam a conhecer.
Mas, ao mesmo tempo, constituem o terreno fértil ideal para semear ideias,
verdadeiras ou falsas. Por esta razão é o ponto fraco da fronteira ideológica e
facilmente são transformados numa quinta coluna eficiente, contras as tradições
e mesmo seus pais.
Como
dizia minha avó Mantovana: é de pequenino que si torci il pepino! Não é à toa
que todos os grupos revolucionários, inevitavelmente totalitários, escolhem a
infância e a juventude como seu alvo principal de doutrinação. À infância, onde
se molda o caráter, segue-se a puberdade e a adolescência. Para cada uma destas
faixas etárias existe um tipo específico de doutrinação. Na mais tenra idade
predomina a curiosidade em relação a si mesmo, ao seu corpo, à família e ao
mundo em geral. É a hora de torcer o pepino inundando a criança com mensagens
que geram a descrença na sabedoria dos pais, insinuando uma “moralidade”
depravada que, no Brasil, grande parte coube à televisão: há anos a mais
pérfida, deletéria e cruel atuação contra nossas crianças vêm da apresentadora
Xuxa, com seus programas, filmes e rede de lojas para transformar as meninas em
simulacros de “cachorras”, e os meninos em andróginos [2]. Meninas de tenra
idade são estimuladas a usar micro-saias com calcinhas à vista, pintar os lábios
e os olhos e usar sapatos de saltos altos ou do estilo plataforma. Todos sabem
que as meninas adoram imitar as mães, mas no senso comum tradicional elas são
desestimuladas de fazê-lo antes da idade apropriada, que chegará na
adolescência. No senso comum modificado elas são estimuladas desde idades
inapropriadas para servirem de objetos sexuais a quem, já que os meninos custam
mais a desenvolver seus apetites sexuais e são estimulados à androginia? A
resposta óbvia é: aos pedófilos!
A isto
se acrescentam estratégias psicológicas para condicionar um novo sistema de
crenças, valores e modos de pensar e são introduzidas noções falsas de
moralidade e comportamento, através do “respeito” à natureza, à mãe-Terra
(Gaia) para minar o respeito pelos pais e as crenças religiosas do lar. Nada
mais fascinante do que a noção de multiculturalismo e do relativismo cultural:
a criança deve permanecer aberta a ideias pluralistas, menos aquelas derivadas
das crenças judaico-cristãs, instilando um sistema de crenças pagãs, validando
feitiçarias, preparando as crianças para a aceitação do ocultismo (Xuxa e suas
crenças em Duendes, saudações ao “deus” sol, etc.) e da espiritualidade dos
povos primitivos, ensinando danças e tradições indígenas [3]. É fundamental
instilar a ideia de que os sentimentos são pilares de sabedoria, não mais a
Religião nem mesmo a ciência: a ciência comandava a “modernidade” contra as
religiões, os sentimentos comandam a “pós-modernidade” em oposição a ambas:
tanto às crenças religiosas, como à racionalidade científica. Técnicas
psicoterápicas [4] que exaltam os sentimentos como medida de pensamento
conceitual e estimulam a dependência ao pensamento grupal visando eliminar a individualidade, viraram
moda. Na psicanálise são as idéias de Donald Winniccott transmitidas através da
Tavistock Clinic, filiada ao Tavistock Institute of Human Relations, uma das
maiores e mais antigas instituições globalistas de manipulação mental.
Medicação psiquiátrica para conter a curiosidade e a genuína busca da verdade, criando
diagnósticos que tornam patológicas as personalidades indagadoras e atentas ao
mundo como um todo (hiperatividade, distúrbio do déficit de atenção,
bipolaridade, etc.), faz parte do pacote “transformador” [5].
A
doutrinação da adolescência, pelo que existe de idealismo, imaturidade e
necessidade de contestar as gerações anteriores, é a primeira e a mais urgente
tarefa de todo movimento revolucionário que deseja dominar o poder. Já mostrei
como age um dos mais importantes “líderes educacionais” (sic) do Brasil. Foi
apenas um exemplo de como a dominação de nossa juventude via uma educação
corrompida, farsesca e depravada está ocorrendo desde a gestão de Paulo Renato
Souza, Ministro da Educação do governo de Fernando Henrique Cardoso, sendo
ampliada a aprofundada nos mandatos de Lula e Dilma. É estarrecedora a proposta
de unificação total dos currículos escolares, inicialmente para a escola
pública, mas que em breve interferirá dramaticamente nas particulares, laicas
ou religiosas. Terrível também a notícia de que em São Paulo, governado por
tucanos sociais-democratas, que não passam de marxistas envergonhados [6],
diminuirão as horas/aulas de Matemática, Português, Ciências em geral, e haverá
aumento das disciplinas mais facilmente usadas para doutrinação, como
filosofia, sociologia, psicologia, ecologia, etc., através de métodos
construtivistas montessorianos (ver nota 5), pois nada mais eficaz do que o
doutrinado acreditar que inventou a doutrina. O Tavistock Institute foi
pioneiro no uso da psicologia e outras ciências sociais para formar e conformar
a opinião pública de modo que o público achasse que essas opiniões fabricadas,
eram suas mesmo.
Todas
as medidas preparam os futuros adultos para a pior prisão que existe: a prisão
mental, pois esta é muito mais efetiva por não necessitar de guardas ou grades.
A mentalidade escrava se acostuma facilmente com o fato das raposas serem as
guardiãs do galinheiro, na verdade, conferem a elas este poder por não saberem
mais como sair sozinhos.
TOTALITARISMO
E JUVENTUDE
Por uma
grata coincidência Leonardo Bruno publicou há poucos dias o excelente artigo O
Espectro da KGB Mirim onde aborda com lucidez a real finalidade totalitária “da
PL–7670/2010, ou a “lei da palmada”, proposta pelo governo federal e adocicada por
picaretas notáveis, como as deputadas Teresa Surita e Maria do Rosário (com a
inevitável e devida defesa por parte da Xuxa e da Rainha da Suécia), visando
medidas punitivas para pais que dão palmadas nos filhos”, que fez lembrar “de
Pavlik Morozov, o garoto soviético que delatou o pai para a GPU-NKVD, (…) A
cultura de delação é a mesma. Mudam-se tão somente os pretextos ideológicos.
Antigamente era a “defesa da revolução” contra os “inimigos do povo”. Agora são
os “direitos humanos”, com a delação em massa dos pais “agressores”, pelo
simples fato de darem umas palmadas nos garotos levados”. Em breve serão as
noções ecologicamente “corretas”. Já existem escolas maternais e de jardim que
escolhem mensalmente um(a) “representante da natureza” a quem cabe vigiar não
somente seus coleguinhas, mas também delatar casos ocorridos fora dela.
Deixo
para depois o exame mais atento das atividades de Lavrentiy Pavlovich Beria
contra a juventude soviética, passando ao estudo do fascismo italiano e do
nazismo, chamando a atenção para o texto de Olavo de Carvalho Que é o
fascismo?. Por princípio todos os totalitarismos precisam retirar o pátrio
poder dos pais e atacar a família para desmembrá-la, e a escola certamente é
uma das armas mais eficientes neste combate de tornar os filhos inimigos dos
pais. Mas não é a única, como veremos na próxima parte.
O
CONTROLE FASCISTA DAS ESCOLAS: A CARTA DELLA SCUOLA
“A
finalidade da presente reforma é a de transformar a escola, até agora submetida
a uma sociedade burguesa, numa escola do povo fascista (…) e do Estado
Fascista: do povo que possa frequentá-la (todo o povo deveria estar na escola
para tornar-se fascista, para aprender os princípios que justificam o domínio
da classe político-burocrática fascista), do Estado (isto é, a própria
burocracia política), para que possam servir aos quadros, aos seus fins (e,
portanto, seus meios)” — Giuseppe Bottai .Relazione al Duce e ai Camerati
del Gran Consiglio del Fascismo
(19/01/1939)
Coube a
Giovanni Gentile, um filósofo idealista neo-hegeliano, a primazia de propor uma
reforma escolar em moldes totalitários. Gentile é considerado o principal
filósofo do fascismo e foi o primeiro Ministro da Educação Pública (Ministro
della Pubblica Istruzione) fascista e ghostwriter do livro A Doutrina do
Fascismo, atribuído a Benito Mussolini. Em 1923 deu início a uma reforma do
ensino que leva seu nome, que perdurou com algumas modificações até 31/12/1962,
não tendo sido afetada pelo armistício, e que serviu de modelo para diversos
governos fascistas, inclusive o Brasil do Estado Novo.
O
princípio basilar era “a unidade moral, política e econômica da Nação Italiana,
que se realiza integralmente no Estado Fascista, sendo a escola o fundamento
primeiro da solidariedade de todas as forças sociais, a família, as
Corporações, o Partido, como forma de consciência humana e política das novas
gerações. A escola fascista, em virtude do estudo, concebido como formação da
maturidade, atua com a concepção de uma cultura popular, inspirada nos eternos
valores da raça italiana e da sua civilização, engajando-se na virtude do
trabalho, na atividade concreta das profissões, das artes, da ciência e das armas”.
Os
princípios gerais incluíam:
1-
Submissão da toda a educação escolar ao controle estatal, com Exames estatais
para ascensão aos graus mais avançados
2-
Seleção dos profissionais de ensino por meio de concurso público
3-
Incremento da hierarquia dentro dos Institutos de ensino com os seguintes
postos: Diretor (para a escola elementar), Presidente (para a escola média) e
Reitor por nomeação Real (Rettori di nomina Regia) para a Universidade.
Instituía também, um controle hierárquico rígido através de Provveditori di
nomina Regia e Sottosegretari executivos.
4-
Orientação escolástica baseada em princípios burocráticos e meritocráticos
submetidos a uma rígida hierarquia que se sobrepunha: escola primária e
elementar, escola complementar profissionalizante, liceus femininos, clássico
ou científico e instituto de magistratura (curso normal).
A
reforma foi posteriormente endossada com modificações por Bottai, Ministro da
Educação, Ministro das Corporações e prefeito de Roma, e também um dos
elaboradores da Carta del Lavoro [7], na qual está baseada nossa famigerada
CLT, uma versão bastante piorada da original. Ambas, somadas à Carta della
Razza constituíam o subsídio teórico para a organização do Estado Fascista.
A nova
escola fascista deveria ser uma escola socialista, mas também uma escola
corporativa porque o socialismo fascista se diferencia do marxista por ser
corporativo. Este é o motivo que impulsionou Bottai a introduzir as três novas
escolas em substituição à escola pós-elementar da Reforma Gentile:
1) uma
escola média, que dava aceso aos estudos superiores para aqueles que no futuro
deveriam constituir os novos quadros da burocracia política fascista
2) a
escola profissional, para aqueles que eram destinados a ser inseridos na
condição de empregados
3) a
escola artesanal, que serve para formar as crianças provenientes da classe
operária e camponesa.
A Carta
della Scuola objetivava criar uma escola dividida em diferentes gradações para
selecionar “os melhores”, isto é, os que mais facilmente se sujeitavam às
categorias mentais da ideologia burocrática fascista, com a finalidade de
formar no futuro os quadros intermediários desta burocracia dominante. Na Ordem
do Dia aprovada pelo Gran Consiglio em 15/02/1939 se afirmava a necessidade de
colocar a escola pública italiana nas mãos das organizações da juventude do
Partido Fascista e, indiretamente nas mãos da burocracia política: “Este
documento fundamental consagra a estreita colaboração entre a Escola e as
organizações juvenis do Partido”. Na segunda Declaração se afirmava também que,
“na ordem fascista, a idade escolar coincide com a idade política: Escola,
G.I.L. (Gioventú Italiana del Littorio) [8] e G.U.F (Grupo Universitario
Fascista) formam juntos um instrumento de educação fascista.
[1] A
origem da expressão remonta a Emílio Mola Vidal, general nacionalista espanhol
que atuou na Guerra Civil Espanhola. Quando quatro de suas colunas marchavam
rumo a Madri, ele se referiu aos militares madrilenhos que o apoiavam como
“quinta coluna”.
[2] Ver The War Against Boys: how misguided feminism
is harming our young men, Christina Hoff Sommers, Simon & Schuster
Paperbacks, NY. Da mesma autora Who stole Feminism?: how women have betrayed
women
[3] Denunciado nos EUA em 1995 por Berit Kjos em seu
livro Brave New Schools: guiding your child through the dangers of the changing
school system (Harvest House Publishers, Eugene, Oregon).
[4] One Nation Under Therapy: How the Helping Culture
Is Eroding Self-Reliance, Christina Hoff Sommers & Dr Sally Satel, St.
Martin Press, NY
[5] Já
abordei estes assunto em Desarmamento Infantil e Androginia
[6]
Ver, de Olavo de Carvalho, Em parte alguma
[7]
Esta carta teve diversas versões, mas nem mesmo a versão oficial final chegou a
ser plenamente aplicada, pois era apenas uma carta de intenções e por causa da
guerra não chegou a ser regulamentada, segundo Renzo De Felice, no clássico
Mussolini Il Fascista: L’organizzazione dello Stato Fasciscta, 1925-1929,
Einaudi, Torino, 1968
[8]
Lictores eram funcionários públicos encarregados, na Roma antiga, de ir a
frente de um magistrado com feixes de varas denominados fasces, de onde vem
fascismo, abrindo espaço para que esse pudesse passar. O seu número variava de
acordo com o grau de importância do magistrado.
Heitor
De Paola
Heitor
De Paola é escritor e comentarista político, membro da International
Psychoanalytical Association e Clinical Consultant, Boyer House Foundation,
Berkeley, Califórnia, e Membro do Board of Directors da Drug Watch
International. Possui trabalhos publicados no Brasil e exterior. É ex-militante
da organização comunista clandestina, Ação Popular (AP).
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