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Cristo e a sociedade
Publicado originalmente em “O Legionário”, 17 de março de
1935, N. 167
Não podem os brasileiros, e em especial os católicos,
iludir-se no momento que passa. Quando vemos a indisciplina generalizar-se
desde os quartéis até às ruas, e uma indisciplina que implanta suas raízes no
princípio da dissolução social, temos que abandonar o nosso comodismo e
desprezar o nosso bem-estar, para enfrentar, não com algum símbolo morto, mas
com a mesma vida: com Jesus Cristo. Na verdade, só Ele pode curar todos os
males da nossa sociedade.
Até agora, os doutrinadores políticos ignoraram a Cristo.
Conheciam todas as doutrinas filosóficas anteriores à sua vinda, e desses
pensamentos desencontrados tiravam algo para suas concepções, ditas modernas.
Depois, desconheciam a sociedade medieval, com sua organização política
perfeita, inspirada toda no Cristianismo, com seus doutores, com seus
filósofos, com seu pensamento único, reto, católico. Para eles, essa época não
existiu, e toda a glória do mundo se reduziu a estes últimos quatro séculos,
quando a humanidade, retrogradando das alturas a que chegara, iniciava sua
volta ao paganismo de onde fora arrancada pelo Cristianismo. Esse o pensamento
político que plasmou a sociedade contemporânea e que chegou, como corolário
mesmo de seu agnosticismo, à crise moral do presente.
Lembraram-se então os homens de que Cristo existira e foram
buscar o que Ele ensinara, não para o dar lealmente como alimento às multidões
famintas de ideal, mas para o adaptar às suas próprias idéias e fazer de Jesus
o testemunho de seu ensino. E assim viram nEle, uns, apenas o homem que
apostrofava os ricos e poderosos e exaltava os humildes, e o tomaram como o
primeiro socialista, o primeiro comunista. Outros, viram apenas o homem que
mandava dar a César o que é de César, o homem que mandava respeitar e obedecer
aos superiores; e transformaram no primeiro endeusador do Estado absoluto e, ao
contrário dos socialistas e comunistas, pretenderam usar da Igreja de Cristo
como colaboradora do seu despotismo e do seu autoritarismo.
Só a Igreja Católica manteve e mantém, entretanto, a
verdadeira doutrina de Cristo, e só Ela tem de seu Fundador a verdadeira
concepção, adorando-O como Deus e anunciando-O como Redentor dos homens, sem
exceção. Só Ela se submete a Cristo e não deforma, à vontade de seus membros, a
doutrina que Ele pregou. E só Ela dá por isso mesmo a disciplina que salva, a
que vem da submissão integral da criatura ao seu Criador, verdade que tem que
ser repetida diariamente contra o orgulho humano que se julga único no Universo
inteiro. Por isso mesmo, só a sociedade formada pela Igreja de Cristo será
perfeita, porque só esta prega o verdadeiro Jesus. Inútil é querer galvanizar a
matéria sem o espírito; sem este, aquela será sempre e só matéria. Do mesmo
modo, a sociedade, a matéria viva que quer subir ao alto, ao ideal perfeito por
excelência; só Cristo, só o Catolicismo, podem dar-lhe o espírito que vivifica
e que salva. Esse, pois, o grande programa dos católicos no Brasil e também
fora dele, nesta época agitada e trágica, de rebeliões, de crimes, de
decadência moral.
Plinio Corrêa de Oliveira
Nasceu em 1908 na cidade de Paulo. Fez os seus estudos
secundários no Colégio São Luiz e diplomou-se em 1930 em ciências jurídicas e
sociais na Faculdade de Direito de São Paulo.
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