Apresentação
de uma filosofia integral
Em
estudos filosóficos, uma precaução comum é prevenir-se de ideias consideradas
perniciosas. A fragmentação da sociedade nas mais diversas correntes de
pensamento, fez com que os estudiosos mais puristas tomassem todo o cuidado
para não serem enredados naquilo que consideram “falácias de filosofias
corruptoras”.
Uma
forma de proteção é posicionar-se no interior das fronteiras de uma filosofia
determinada, procurando assim manter uma coerência interna e marcando
claramente os limites do seu pensamento. Sentem-se, com isso, abrigados e
seguros.
O
problema é que a vida não apresenta fronteiras claras e é muito difícil saber
onde termina a zona segura e começa o território minado. A existência
caracteriza-se por sua complexidade, que se manifesta em sutileza e
contradições. Um pensamento linear, portanto, que não permite-se
ziguezaguear-se fora das margens conhecidas não será capaz de abarcar qualquer
realidade existente fora do curso esperado do seu rio de ideias.
Quem se
alberga sob conceitos inabaláveis e previamente determinados não tem olhos para
o que ultrapassa o que espera. São eles que, quando surpreendidos por uma
realidade inesperada, apressam-se em interpretá-la de forma a fazê-la coerente
com suas próprias ideias, em vez de corrigi-las para que reflitam devidamente a
nova realidade.
Sem o
reconhecimento dessa sinuosidade existencial é impossível começar a fazer
verdadeira filosofia. Até porque, para decifrar minimamente a realidade é
preciso ser capaz de movimentar-se nela, o que é impossível para um pensamento
hermético e linear.
Ironicamente,
quem mais erra não é quem se arrisca em desenvolver outros olhares,
aparentemente contraditórios e fora de sua zona de segurança teórica, mas sim
quem, para manter-se coerente, se isola em caixas herméticas de pensamento.
Este falha por ignorar a realidade, mantendo sua teoria inalterada; aquele
acerta por se dispor a considerá-la antes de tudo, consertando sua teoria
quando preciso.
Por
isso, quando eu apresento uma filosofia que se diz integral, ofereço mais que
uma teoria, mas um método, uma forma de refletir a existência, que propõe
pensar a vida por perspectivas diferentes, além daquelas nas quais estamos
acostumados e nos sentimos mais seguros. Na verdade, uma filosofia integral
simplesmente se dispõe a aceitar a realidade como ela se apresenta, ainda que
se apresente de forma inaudita.
Isso
não significa que é preciso partir do zero, como uma tábula rasa, sem quaisquer
convicções iniciais. Filosofar exige princípios, mas isso não impede que os
questionemos em determinado momento.
O
objetivo, enfim, de uma Filosofia Integral, é capacitar o pensador a alcançar a
existência em sua multiplicidade e considerar o humano em sua integralidade,
não deixando por preconceito, parcialidade ou medo nada de fora.
Fábio
Blanco
Fabio
Blanco é professor de Oratória, Retórica e Argumentação, além de instrutor de
escrita argumentativa. Desde 2010 é idealizador do NEC - Núcleo de Ensino e
Cultura...
Sem comentários:
Enviar um comentário