Anjos
Estudos Diversos:
Origem:
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Anjo da
guarda
Anjo
(do latim angelus e do grego ángelos (ἄγγελος), mensageiro), segundo a
tradição judaico-cristã, a mais divulgada no ocidente, conforme relatos
bíblicos, são seres celestiais e espirituais, conservos de Deus como os homens
(Apocalipse 19:10),[1][2][3] que servem como ajudantes ou mensageiros de Deus. Na
iconografia comum, os anjos geralmente têm asas de ave, um halo e tem uma
beleza delicada, emanando forte brilho. Por vezes são representados como uma
criança, por sua inocência e virtude. Os relatos bíblicos e a hagiografia
cristã contam que os anjos muitas vezes foram autores de fenômenos milagrosos e
a crença corrente nesta tradição é que uma de suas missões é ajudar a
humanidade em seu processo de aproximação a Deus.
Os
anjos são ainda figuras importantes em muitas outras tradições religiosas do
passado e do presente e o nome de "anjo" é dado amiúde
indistintamente a todas as classes de seres celestes. Os muçulmanos,
zoroastrianos, espíritas, hindus e budistas, todos aceitam como fato sua
existência, dando-lhes variados nomes, mas às vezes são descritos como tendo
características e funções bem diferentes daquelas apontadas pela tradição
judaico-cristã, esta mesma apresentando contradições e inconsistências de
acordo com os vários autores que se ocuparam deste tema.
Além
disso, a cultura popular em vários países do mundo deu origem a um copioso
folclore sobre os anjos que, muitas vezes, se afasta bastante da descrição
mantida pelos credos institucionalizados dessas regiões.
Antes
da tradição judaico-cristã, no mundo grego, a deusa Nice e os deuses Eros e
Tânato também eram representados em forma humana com asas.
Anjos
no cristianismo
No
cristianismo os anjos foram estudados de acordo com diversos sistemas de
classificação em coros ou hierarquias angélicas. A mais influente de tais
classificações foi estabelecida pelo Pseudo-Dionísio, o Areopagita entre os
séculos IV e V, em seu livro De Coelesti Hierarchia.[4]
A fonte
primária ao estudo dos anjos são as citações bíblicas, como quando três anjos
apareceram a Abraão em Gênesis 6:1, embora existam apenas sugestões ambíguas
para a construção de um sistema como se ele se tivesse desenvolvido em tempos posteriores.
[5] Isaías fala de serafins (Isaías 6:2; outro anjo acompanhou Tobias; Maria
(mãe de Jesus) também recebeu uma visita angélica na Anunciação do futuro
nascimento de Cristo e o próprio Jesus fala deles em vários momentos, como
quando sofreu a Tentação no deserto e na cena do Horto das Oliveiras, quando um
anjo lhe fortaleceu antes da Paixão.
São
Paulo faz alusão a cinco ordens de anjos em Efésios 1:21. Depois foi Dionísio,
o Areopagita, um dos primeiros a propor um sistema organizado do estudo dos
anjos e seus escritos teve muita influência, mas foi precedido por outros
escritores, como São Clemente, Santo Ambrósio e São Jerônimo. Na Idade Média
surgiram muitos outros esquemas, alguns baseados no de Dionísio, outros
independentes, sugerindo uma hierarquia bastante diferente. Alguns autores
acreditavam que apenas os anjos de classes inferiores interferiam nos assuntos
humanos.
Hierarquia
angelical
As três
tríades
De
todas estas ordenações a mais corrente, derivada do Pseudo-Dionísio e de Tomás
de Aquino, divide os anjos em nove coros, agrupados em três tríades.
Primeira
tríade
A
primeira tríade é composta pelos anjos mais próximos de Deus, que desempenham
suas funções diante do Pai.
Serafins
O nome
serafim vem do hebreu saraf (שרף), e do grego, séraph, que
significam "abrasar, queimar, consumir". Também foram chamados de
ardentes ou de serpentes de fogo. É a ordem mais elevada da esfera mais alta.
São os anjos mais próximos de Deus e emanam a essência divina em mais alto
grau. Assistem ante o Trono de Deus e é seu privilégio estar unido a Deus de
maneira mais íntima, e são descritos em Isaías como cantando perpetuamente o
louvor de Deus e tendo seis asas.
O
Pseudo-Dionísio diz que sua natureza ígnea espelha a exuberância de sua
atividade perpétua e infatigável, e sua capacidade de inflamar os anjos
inferiores no cumprimento dos desígnios divinos, purificando-os com seu fogo e
iluminando suas inteligências, destruindo toda sombra.[7] Pico della Mirandola
fala deles em sua Oração sobre a Dignidade do Homem (1487) como incandescentes
do fogo da caridade, e modelos da mais alta aspiração humana[8]
Querubins
Do
hebreu כרוב - keruv, ou do plural כרובים - keruvim, os querubins são seres misteriosos,
descritos tanto no Cristianismo como em tradições mais antigas às vezes
mostrando formas híbridas de homem e animal. Os povos da Mesopotâmia tinham o
nome karabu e suas variantes para denominar seres fantásticos com forma de
touro alado de face humana, e a palavra significa em algumas daquelas línguas
“poderosas”, noutras "abençoado".
No
Gênesis aparece um querubim como guardião do Jardim do Éden, expulsando Adão e
Eva após o pecado original (Gênesis 3:23–24). Ezequiel os descreve como
guardiões do trono de Deus e diz que o ruflar de suas asas enchia todo o templo
da divindade e se parecia com som de vozes humanas; a cada um estava ligada uma
roda, e se moviam em todas as direções sem se voltar, pois possuíam quatro
faces: leão, (O leão sempre foi reconhecido como forte, feroz, majestoso, ele é
o rei dos animais e essa face simboliza então sua força). touro, (o touro é
reconhecido como um animal que trabalha pacientemente para seu dono. Ele é
forte, podendo carregar um urso, e conhece o seu dono). Águia, (como um anjo,
este pássaro voa acima das tempestades, enquanto abaixo delas existem
tristezas, perigos, e angústias. Um pássaro ligeiro e poderoso, elegante,
incansável) e homem, Esta face fala da mente, razão, afeições, e todas as
coisas que envolvem a natureza humana, isso, para alguns estudiosos, significa
que eles assim como os homens possuem o livre arbítrio. E eram inteiramente
cobertos de olhos, significando a sua onisciência (Ezequiel 10). Mas as imagens
querubins que Moisés colocou sobre a Arca da Aliança tinham forma humana,
embora com asas (Êxodo 25:10–21; Êxodo 37:7–9).
Os
Querubins, para alguns teólogos, ocupam o topo da hierarquia, pois alguns não
consideram os serafins como anjos , uma vez que a palavra hebraica para anjo é
"malak" (mensageiro) e da mesma forma no grego, anjo é
"angelus" (mensageiro) e estas figuras
aladas
que aparecem, na Bíblia, apenas em Isaías capítulo 6, onde exaltam a Deus mas
não comunicam mensagens ao profeta.
São
Jerônimo e Santo Agostinho interpretam seu nome como "plenitude de
sabedoria e ciência". São representados muitas vezes como crianças
pequenas dotadas de asas, chamados putti (meninos) em italiano. Têm o poder de
conhecer e contemplar a Deus, e serem receptivos ao mais alto dom da luz e da
verdade, à beleza e à sabedoria divinas em sua primeira manifestação. Estão
cheio do amor divino e o derramam sobre os níveis abaixo deles.[9]
Satanás
é descrito como o querubim ungido, sendo chamado antes pelo nome de Lúcifer ou
Belial.
Tronos
ou Ofanins
Os
Tronos têm seu nome derivado do grego thronos, que significa
"anciãos". São chamados também de "erelins" ou
"ofanins", ou algumas vezes de Sedes Dei (Trono de Deus), e são
identificados com os 24 anciãos que perpetuamente se prostram diante de Deus e
a Seus pés lançam suas coroas (Apocalipse 11:16–17. São os símbolos da
autoridade divina e da humildade, e da perfeita pureza, livre de toda
contaminação.[9]
Segunda
tríade
A
segunda tríade é composta pelos príncipes da corte celestial.
Dominações
As
Dominações ou Domínios (do latim dominationes) têm a função de regular as
atividades dos anjos inferiores, distribuem aos outros anjos as funções e seus
mistérios, e presidem os destinos das nações. Crê-se que as Dominações possuam
uma forma humana alada de beleza inefável, e são descritos portando orbes de
luz e cetros indicativos de seu poder de governo. Sua liderança também é
afirmada na tradução do termo grego kyriotes [küriotés], que significa
"senhor", aplicado a esta classe de seres.
São
anjos que auxiliam nas emergências ou conflitos que devem ser resolvidos logo.
Também atuam como elementos de integração entre os mundos materiais e
espirituais, embora raramente entrem em contato com as pessoas.
Virtudes
As
Virtudes são os responsáveis pela manutenção do curso dos astros para que a
ordem do universo seja preservada. Seu nome está associado ao grego dunamis,
significando "poder" ou "força", e traduzido como
"virtudes" em Efésios 1:21, e seus atributos são a pureza e a
fortaleza. Pseudo-Dionísio diz que eles possuem uma virilidade e poder
inabaláveis, buscando sempre espelhar-se na fonte de todas as virtudes e as
transmitindo aos seus inferiores.[9]
Orientam
as pessoas sobre sua missão. São encarregados de eliminar os obstáculos que se
opõe ao cumprimento das ordens de Deus, afastando os anjos maus que assediam as
nações para desviá-las de seu fim, e mantendo assim as criaturas e a ordem da
Divina providência. Eles são particularmente importantes porque têm a
capacidade de transmitir grande quantidade de energia divina. Imersas na força
de Deus, as Virtudes derramam bênçãos do alto, frequentemente na forma de
milagres. São sempre associados com os heróis e aqueles que lutam em nome de
Deus e da verdade. São chamados quando se necessita de coragem.
Potestades
As
Potestades ou Potências são também chamadas de "condutores da ordem
sagrada". Executam as grandes ações que tocam no governo universal. Eles
são os portadores da consciência de toda a humanidade, os encarregados da sua
história e de sua memória coletiva, estando relacionados com o pensamento
superior - ideais, ética, religião e filosofia, além da política em seu sentido
abstrato.
Também
são descritos como anjos guerreiros completamente fiéis a Deus. Seus atributos
de organizadores e agentes do intelecto iluminado são enfatizados pelo
Pseudo-Dionísio, e acrescenta que sua autoridade é baseada no espelhamento da
ordem divina e não na tirania. Eles têm a capacidade de absorver e armazenar e
transmitir o poder do plano divino, donde seus nomes.[9]
Os
anjos do nascimento e da morte pertencem a essa categoria. São também os
guardiões dos animais.
Terceira
tríade
A
terceira tríade é composta pelos anjos ministrantes, que são encarregados dos
caminhos das nações e dos homens e estão mais intimamente ligados ao mundo
material.
Principados
Os
Principados, do latim principatus, são os anjos encarregados de receber as
ordens das Dominações e Potestades e transmiti-las aos reinos inferiores, e sua
posição é representada simbolicamente pela coroa e cetro que usam. Guardam as
cidades e os países. Protegem também a fauna e a flora. Como seu nome indica,
estão revestidos de uma autoridade especial: são os que presidem os reinos, as
províncias, e as dioceses, e velam pelo cultivo de sementes boas no campo das
ideologias, da arte e da ciência.
Arcanjo
O nome
de arcanjo vem do grego αρχάγγελος, arkangélos, que significa "anjo
principal" ou "chefe", pela combinação de archō, o primeiro ou
principal governante, e άγγελος, aggělǒs, que quer dizer "mensageiro".
Este título
é
mencionado no Novo Testamento por duas vezes e a esta ordem pertencem os únicos
anjos cujos nomes são conhecidos através da Bíblia: Miguel, Rafael e Gabriel.
Miguel é especificamente citado como "O" arcanjo,[10] ao passo que,
embora se presuma pela tradição que Gabriel também seja um arcanjo, não há
referências sólidas a respeito. Rafael descreve a si mesmo como "um dos
sete que estão diante do Senhor" em Tobias 12:15, uma classe de seres
mencionada também Apocalipse 1:4
Considerado
canônico somente pela Igreja Ortodoxa da Etiópia, o "Livro de Enoque"
fala de mais quatro arcanjos, Uriel, Ituriel, Amitiel e Samuel, responsáveis
pela vigilância universal durante o período dos nefilim, os "anjos
caídos". Contudo em outras fontes apócrifas estes são por vezes chamados
de querubins. A igreja Ortodoxa faz de Uriel um arcanjo e o festeja com Rafael,
Gabriel e Miguel na festa de "Miguel e os outros Poderes
Incorpóreos", em 21 de novembro.
Seu
caráter de mensageiros, ou intermediários, é assinalada pelo seu papel de elo
entre os Principados e os Anjos, interpretando e iluminando as ordens
superiores para seus subordinados, além de inspirar misticamente as mentes e
corações humanos para execução de atos de acordo com a vontade divina.[11]
Atuam assim como arautos dos desígnios divinos, tanto para os Anjos como para
os homens, como foi no caso de Gabriel na Anunciação a Maria. A cultura popular
faz deles protetores dos bons relacionamentos, da sabedoria e dos estudos, e
guerreiros contra as ações do Diabo.
Anjos
Anunciação
Os
anjos são os seres angélicos mais próximos do reino humano, o último degrau da
hierarquia angélica acima descrita e pertencentes à sua terceira tríade. A
tradição hebraica, de onde nasceu a Bíblia, está cheia de alusões a seres celestiais
identificados como anjos, e que ocasionalmente aparecem aos seres humanos
trazendo ordens divinas. São citados em vários textos místicos judeus,
especialmente nos ligados à tradição Merkabah. Na Bíblia são chamados de מלאך אלהים (mensageiros de Deus), מלאך יהוה (mensageiros do Senhor), בני אלוהים (filhos de Deus) e הקדושים (santos).[12] São dotados de vários poderes
supernaturais, como o de se tornarem visíveis e invisíveis à vontade, voar,
operar milagres diversos e consumir sacrifícios com seu toque de fogo. Feitos
de luz e fogo (Jó 15:15; Salmos 104:4), sua aparição é imediatamente
reconhecida como de origem divina também por sua extraordinária beleza.
Anjos
especiais:
Anjo da
guarda
Dentre
os anjos da tradição cristã está o tipo do anjo da guarda, chamado
"fravaxi" pelos seguidores de Zoroastro, e ao anjo da guarda, como o
nome diz, é confiada individualmente cada pessoa ao nascer, protegendo-a do mal
até onde a ordem divina o permita, fortalecendo corpo e alma e inspirando-a à
prática das boas ações.
O Anjo
do Senhor
Ver
artigo principal: Anjo do Senhor
Na
Bíblia, sobretudo no Antigo Testamento há várias menções à aparição do Anjo do
Senhor. A expressão "Anjo do Senhor" causa curiosidade por tratar-se
não apenas de mais um anjo e sim de um anjo específico, considerando a
antecedência do artigo definido o.
De
acordo com algumas posições teológicas, o Anjo do Senhor que fez vários
contatos com personagens bíblicos, entre os quais Abraão, Hagar, Gideão, sendo
aparições do próprio Deus e constituindo, portanto, uma espécie de teofania ou
até mesmo uma cristofania.[13]
Também
é conhecido como o "Anjo da Presença", embora este termo tenha em
certas filosofias um significado bem específico. O Anjo da Presença, segundo o
pensamento gnóstico e cristão esotérico, não é um ser com vida própria, mas sim
uma forma-pensamento que representa Cristo durante o sacramento da Eucaristia e
é um veículo da Sua consciência e das Suas bênçãos.[14][15]
Lúcifer
Segundo
diversas tradições, Lúcifer seria um Querubim que se rebelou contra o Arcanjo
Miguel, e contra o próprio Deus, sendo posto por Miguel para fora do Céu. Com
Lúcifer foram todos seus seguidores.
Outros
teólogos e alguns grupos cristãos como as Testemunhas de Jeová, afirmam que
"a única referência a Lúcifer na Bíblia aplicava-se a Nabucodonosor II,
rei de Babilônia. E embora a arrogância dos governantes babilônicos realmente
refletisse a atitude de Satanás que também anseia ter poder e deseja colocar-se
acima de Deus, a Bíblia não atribui claramente o nome Lúcifer a
Satanás".[16]
Os
anjos em outras tradições
Judaísmo
Anjo
(em hebraico: מַלְאָךְ, malach,
"mensageiro") é um ente no mor das vezes espiritual que serve de elo
transmissor entre o homem e o Criador. Sua existência é denotada em vários
trechos da Bíblia hebraica e em diversos textos da literatura rabínica e do
folclore judaico. Alguns anjos são citados por nome, até mencionados em
excertos da liturgia religiosa, e também servem de protetores da humanidades e
das pessoas individualmente. São entes inteligentes mas vinculados e
dependentes do poder Divino, que podem assumir diversos tipos de tarefas, que,
aos olhos humanos, podem ser boas ou más.
Budismo
e hinduísmo
O
Budismo e o Hinduísmo descrevem os anjos, ou devas, como os chamam, de maneira
semelhante às outras religiões ocidentais. Seu nome deriva da raiz sânscrita
div, que significa "brilhar", e seu nome significa, então, os
"seres brilhantes" ou "auto-luminosos". Dizem que alguns
deles comem e bebem, e podem construir formas ilusórias para poderem se
manifestar em planos de existência diferentes dos seus próprios. O Budismo
estabelece uma categorização bastante completa para os seus devas, em grande
parte herdada da tradição hinduísta.
Islamismo
A
angelologia islâmica é largamente devedora às tradições do zoroastrianismo, do
judaísmo e do cristianismo primitivo, e divide os anjos em dois partidos
principais, os bons, fiéis a Deus, e os maus, cujo chefe é Iblis ou
Ash-Shaytan, privados da graça divina por terem se recusado a prestar
homenagens a Adão.[17]
Por
outro lado, existe também no Islamismo uma categorização hierárquica. Em
primeiro lugar estão os quatro Tronos de Deus, com formas de leão, touro, águia
e homem. Em sequência, vêm o querubim, e logo os quatro arcanjos: Jibril ou
Jabra'il, o revelador, intermediário entre Deus e os profetas e constante
auxiliador de Maomé; Mikal ou Mika'il, o provedor, citado apenas uma vez no
Corão (2:98) e quem, segundo a tradição, ficou tão horrorizado com a visão do
inferno quando este foi criado que jamais pôde falar de novo; Izrail, o anjo da
morte, uma criatura espantosa de dimensões cósmicas, quatro mil asas e um corpo
formado de tantos olhos e línguas quantas são as pessoas da Terra, que se posta
com um pé no sétimo céu e outro no limite entre o paraíso e o inferno; e
Israfil, o anjo do julgamento, aquele que tocará a trombeta no Juízo Final; tem
um corpo cheio de pelos e feitos de inumeráveis línguas e bocas, quatro asas e
uma estatura que vai desde o trono de Deus até o sétimo céu.[18] Por fim, os demais
anjos. Como uma classe à parte estão os gênios, ou djins, que possuem muitas
características humanas, como a capacidade de se alimentar, propagar a espécie,
e morrer, e cujo caráter é ambíguo.[19]
Espiritismo
O
Espiritismo faz uma descrição em muito semelhante à judaico-cristã,
considerando-os seres perfeitos que atuam como mensageiros dos planos
superiores, sem, no entanto, tentar atribuir forma ou aparência a tais seres:
seria apenas uma visão de suas formas morais. A diferença da visão espírita se faz
apenas pelo raciocínio de que Deus, sendo soberanamente justo e bom (atributos
que seguem-lhe a perfeição, ou seja, Deus não precisa evoluir, já é e sempre
foi perfeito e imutável), não os teria criado perfeitos, pois isso seria
creditar a Deus a capacidade de ser injusto, face à necessidade que os homens
enfrentam de experimentação sucessiva para aperfeiçoarem-se. O Espiritismo
apresenta a visão de que tais seres angélicos, independente de suas hierarquias
celestiais, estão nesse ponto evolutivo por mérito próprio, são espíritos
santificados e livres da interferência da matéria pelas próprias escolhas que
fizeram no sentido evolutivo e de renúncia de si mesmos ao longo do tempo,
sendo facultado também aos homens atuais - ainda muito materializados - atingirem,
através de seus esforços morais e intelectuais nas múltiplas reencarnações,
tais pontos de perfeição.[20]
Segundo
Allan Kardec, os anjos seriam os espíritos elevados de benignidade superior que
são protetores dos necessitados e mensageiros do amor.[21] Seriam, portanto,
aqueles que trazem mensagens do mundo incorpóreo. Por este motivo seriam
chamados de anjos, palavra que significa mensageiros, os quais aparecem
inúmeras vezes nos textos sagrados de religiões judaico-cristãs, indicando a
comunicabilidade entre vivos e mortos. Ainda segundo o Espiritismo, os anjos,
em sua concepção mais comumente conhecida e aceita - criaturas perfeitas, a
serviço direto de Deus - seriam os espíritos que já alcançaram a perfeição
passível de ser alcançada pelas criaturas. Estes, ao fazê-lo, passariam a
dedicar a sua existência a fazer cumprir a vontade de Deus na Criação, por
serem capazes de compreendê-la completamente.
Entretanto,
a alma, qual criança, é inexperiente nas primeiras fases da existência, e daí o
ser falível. Não lhe dá Deus essa experiência, mas dá-lhe meios de adquiri-la.
Assim, um passo em falso na senda do mal é um atraso para a alma, que,
sofrendo-lhe as consequências, aprende à sua custa o que importa evitar. Deste
modo, pouco a pouco, se desenvolve, aperfeiçoa e adianta na hierarquia
espiritual até ao estado de puro Espírito ou anjo. Os anjos são, pois, as almas
dos homens chegados ao grau de perfeição que a criatura comporta, fruindo em
sua plenitude a prometida felicidade. Antes, porém, de atingir o grau supremo,
gozam de felicidade relativa ao seu adiantamento, felicidade que consiste, não
na ociosidade, mas nas funções que a Deus apraz confiar-lhes, e por cujo
desempenho se sentem ditosas, tendo ainda nele um meio de progresso.[22]
De toda
a eternidade tem havido, pois, puros espíritos ou anjos; mas, como a sua
existência humana se passou num infinito passado, eis que os supomos como se
tivessem sido sempre anjos de todos os tempos. Realiza-se assim a grande lei de
unidade da Criação; Deus nunca esteve inativo e sempre teve puros Espíritos,
experimentados e esclarecidos, para transmissão de suas ordens e direção do
Universo, desde o governo dos mundos até os mais ínfimos detalhes. Tampouco
teve Deus necessidade de criar seres privilegiados, isentos de obrigações;
todos, antigos e novos, adquiriram suas posições na luta e por mérito próprio;
todos, enfim, são filhos de suas obras.
Teosofia
Anatomia
esquemática do anjo patrono do santuário de Borobudur, Java, segundo indicações
do teosofista Geoffrey Hodson em seu livro O Reino dos Deuses. Sua forma é na
verdade esférica, com feixes de luz irradiante, e aqui se mostra em corte. Os
círculos regulares concêntricos de sua aura indicam sua avançada evolução.
Muitos detalhes foram omitidos
A
Teosofia admite a existência dos seres angélicos, e várias classes dentre eles,
embora existam relativamente poucos estudos neste campo que as sistematizem
profundamente, dos quais os de Charles Leadbeater e sobretudo Geoffrey Hodson
são as fontes mais ricas e interessantes.
Charles
Leadbeater diz que, sendo um dos muitos reinos da criação divina, o reino
angélico também está, como os outros, sujeito à evolução, e que existem grandes
diferenças em poder, sabedoria, amor e inteligência entre seus integrantes.
Pelo mesmo motivo, o de constituírem um reino independente, com interesses e
metas próprias, diz que os anjos não existem mormente em função dos homens e
seus problemas, como reza a cultura popular, apesar de assisti-los de uma
variedade imensa de formas, como por exemplo na ministração dos sacramentos das
igrejas, na cura espiritual e corporal dos seres humanos, e na sua inspiração,
encorajamento, proteção e instrução.[23][24] Mesmo que o reino angélico como um
todo esteja envolvido em muitas tarefas que não dizem respeito ao homem,
Leadbeater afirma em A Ciência dos Sacramentos que existe uma classe deles
especialmente associada aos seres humanos, a dos anjos da guarda, na verdade
uma espécie de silfos, à qual se confia uma pessoa por ocasião de seu batismo,
e que por seu serviço conquistam a individualização, tornando-se serafins.[25]
Os
anjos são descritos por Hodson como tendo uma atitude em relação a Deus
completamente diversa da humana, não concebendo uma existência personalizada
individual, mas sim uma consciência única central e ao mesmo tempo difusa e
onipresente, de onde suas próprias consciências derivam e à qual estão
inextrincavelmente ligadas. Sentem-se unidos a esta consciência e para eles não
é possível, exatamente por esta unidade, experimentarem egoísmo,
separatividade, desejo, possessividade, ódio, medo, revolta ou amargura. Apesar
de serem essencialmente seres amorosos, seu amor é impessoal, sendo
extremamente raras associações estreitas com quaisquer indivíduos. Em seus
estudos Hodson os divide em quatro tipos principais, associados aos quatro
elementos da filosofia antiga: terra, água, fogo e ar.
Hodson
faz também uma associação dos anjos com a Árvore Sefirotal, derivada da
tradição Cabalística, definindo dez ordens. Afirma que um dos aspectos do Logos
é de natureza angélica e acrescenta que ao reino angélico pertencem os chamados
espíritos da natureza. Muitos destas classes estão envolvidos em processos
naturais básicos como a formação celular e cristalização mineral, sendo por
isso de dimensões microscópicas, constituindo os primeiros degraus da sua longa
evolução em direção aos anjos planetários e formas ainda mais grandiosas como
os grandes arcanjos solares, de estatura verdadeiramente colossal, a ponto de
poderem ser percebidos de pontos próximos à extremidade externa do sistema
solar. Outros tipos são os silfos, as salamandras, as fadas, dríades, ondinas e
os variados espíritos da natureza conhecidos desde a antiguidade em várias
culturas. Suas descrições dão uma vívida ideia da importância destes seres na
manutenção da ordem cósmica e na manifestação do universo desde sua origem
insondável até as formas físicas, passando por todos os degraus intermédios. Em
seu livro O Reino dos Deuses oferece uma série de ilustrações do aspecto dos
vários tipos de anjos, diferindo radicalmente das tradicionais representações
angélicas da cultura ocidental, e diz que apesar disso ambos, anjo e homem,
derivam suas formas de um mesmo arquétipo.[26][27][28]
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