9-Criança
Tem Anjo da Guarda? Ditos Difíceis de Jesus - III
“Vede,
não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus
anjos nos céus veem incessantemente a face de meu Pai celeste” (Mateus 18:10).
Em
certa ocasião, desejando dar aos discípulos uma lição sobre humildade (Mt
18.1), o Senhor Jesus chamou uma criança para perto de si (v. 2) e ensinou aos
discípulos a necessidade de alguém se tornar como uma delas para entrar no
Reino (v. 3-4). Receber uma criança no nome do Senhor significa receber ao
próprio Senhor (v. 5). Em seguida, o Senhor falou do castigo dos que colocam
tropeços diante dos “pequeninos” que crêem nEle (v. 6-9) e advertiu os
discípulos a que não os desprezassem, diante do cuidado vigilante de Deus por
eles, através dos anjos (v. 10).
Este
dito é difícil porque sugere a existência de “ anjos da guarda” de crianças,
que estariam constantemente na presença de Deus, velando e cuidando das
crianças. O conceito de que cada crente tem um anjo da guarda enviado por Deus
sempre foi popular entre os cristãos, e tem se tornado ainda mais popular com a
crescente onda de fascínio pelos anjos que tem invadido as igrejas evangélicas,
acompanhando o aumento do misticismo e do ocultismo no mundo.
Há
várias interpretações para este dito difícil de Jesus.
1. Os
anjos no céu são as almas das crianças quando morrem.
De
acordo com este entendimento, Jesus ensinou que as almas das crianças (os
“anjos” delas) vão para o céu após a morte das crianças, e ficam continuamente
na presença de Deus. De acordo com esta interpretação, Jesus mandou que os
discípulos não desprezassem as crianças pois elas, quando morrem, vão, na forma
de anjos, morar na presença de Deus. Alegam que Jesus se referiu aos “seus
anjos no céu”, indicando que se refere ao que acontece após a morte. A
dificuldade óbvia com esta interpretação é que identifica alma com anjo, uma
associação impossível à luz do Novo Testamento. A alma faz parte da
personalidade humana, enquanto que um anjo é um ser distinto do homem. As pessoas
não se transformam em anjos quando morrem, conforme a crendice popular, mas
suas almas comparecem, como almas, à presença de Deus.
2. Cada
criança tem um anjo da guarda.
Outra
interpretação entende que a expressão “seus anjos” se refere a anjos destacados
por Deus para guardar cada criança, e que neste labor, eles ficam subindo
constantemente ao céu, na presença de Deus, para dar relatórios de suas
atividades e interceder em favor das crianças. Esta doutrina é defendida pela
Igreja Católica, que diz que no batismo cada criança recebe seu anjo da guarda,
que é enviado por Deus para proteger e aconselhar esta criança toda a sua vida.
Esse anjo é também chamado, na teologia católica, de "anjo custódio".
Há
várias passagens bíblicas usadas para defender esta interpretação. “O anjo do
SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem e os livra” (Salmo 34:7) é uma das
mais conhecidas. Também Gênesis 48.16, onde Jacó se refere a um anjo que o
teria livrado de todo o mal (na verdade, refere-se ao anjo do Senhor). Menciona-se
também o anjo que veio em socorro de Daniel (Dn 6.22). Estas e outras passagens
entretanto não provam o ponto, apenas mostram que Deus envia anjos para
proteger e salvar seus servos em determinados momentos. A idéia de “ anjo da
guarda” para cada criança é bastante estranha à luz da doutrina bíblica, muito
embora esteja claro que uma das funções dos anjos é proteger os filhos de Deus.
Nenhuma das passagens geralmente usadas para provar a existência de “anjo da
guarda” realmente prova coisa alguma. Ao final, existe muita influência da
crendice e da superstição popular sobre o assunto.
3. Os
“pequeninos” são os crentes em Jesus Cristo.
A outra
interpretação defende que a chave para entendermos este dito difícil de Jesus é
a palavra “pequeninos”. A quem Jesus se refere? O termo pode ser tomado
literalmente como se referindo às crianças, como as duas interpretações acima o
fazem, ou figuradamente, como se referindo aos discípulos de Jesus. Esta última
possibilidade resolve o problema e tem apoio bíblico. Primeiro, Jesus usa
regularmente o termo “pequeninos” para se referir aos discípulos, cf Mt 10.42;
18.6; Mc 9.42; Lc 17.2. Note que nos versos 1-5 Ele se referiu claramente às
“crianças”, e nos versos 6-10 Ele menciona os “pequeninos”. Segundo, os discípulos são comparados com
crianças, no que diz respeito à confiança em Deus. Terceiro, a passagem se
encaixa no ensino geral do Novo Testamento sobre o ministério dos anjos em
favor dos filhos de Deus, como Hebreus 1.14. Portanto, a melhor explicação para
esta passagem é que Jesus está ensinando que Deus envia seus anjos para
assistir aos “pequeninos”, que são os seus discípulos, os filhos de Deus pela
fé, comparados a crianças, e que, portanto, nós não devemos desprezar estes
“pequeninos”. Esse ministério angélico para com os “pequeninos” faz parte do
cuidado geral que os anjos desempenham, pelo povo de Deus (cf. Sl 91.11; Hb
1.14; Lc 16.22).
A
passagem não está ensinando que cada crente ou criança tem seu próprio “anjo da
guarda”, como era crido popularmente
entre os judeus na época da igreja primitiva. Fazia parte desta crença
que o “anjo guardião” poderia tomar a forma do seu protegido (cf. At 12.15).
Ela simplesmente expressa o cuidado geral de Deus por seu povo através dos
anjos.
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