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Cientistas são ameaçados de morte; Fiocruz considera ataques inaceitáveis
Enquanto outros países investem na ciência e
consideram os pesquisadores, assim como os profissionais de saúde,
heróis no front do combate à pandemia do novo coronavírus; no Brasil, os
cientistas são alvo de uma avalanche de ataques e ameaças nas redes
sociais. Equipe médica de Manaus chegou a receber escolta policial.
Na
capital do Amazonas, Marcus Lacerda, médico infectologista da Fundação
de Medicina Tropical e pesquisador da Fiocruz-AM, sofreu ameaças de
morte. Ele e outros pesquisadores de estudo sobre cloroquina em Manaus
foram chamados de irresponsáveis e acusados de terem usado "cobaias
humanas" na pesquisa. A Secretaria de Segurança-Pública do Amazonas (SSP-AM) e a Polícia Civil investiga as ameaças.
Segundo
o médico, os ataques ocorreram após a publicação de resultados
preliminares do estudo CloroCovid-19, em que 81 pacientes participaram
da pesquisa. Os primeiros dados apontaram que uma alta dose de
cloroquina é muito tóxica para pacientes com Covid-19 em estado grave --
o que gerou a suspensão da dosagem alta. Entre os participantes, 11
pacientes morreram. Deles, sete estavam em estado grave e receberam dose
alta da medicação.
Fake news
Uma
publicação do ativista Michael Coudrey, que pôs em dúvida a veracidade
das pesquisas realizadas no Amazonas, inflamou os ataques virtuais aos
médicos e cientistas. "Todos os requisitos éticos e legais foram
rigorosamente seguidos. Todos
os registros estão disponíveis no centro, de acordo com as boas
práticas clínicas, seguidas por toda a equipe de profissionais
envolvidos no estudo", disse Marcus Lacerda, líder da pesquisa.
Marcus
Lacerda ainda ressaltou que a pesquisa não tem posicionamento político
ou ideológico, já que muitos dos ataques foram nesse sentido. Vale
lembrar que a cloroquina foi muito difundida pelo presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) como aposta no tratamento da Covid-19. Mas,
segundo o médico, isso não tinha nenhuma relação com a pesquisa. França,
China e Estados Unidos também promovem estudos com a substância.
"O
debate não apenas está tendo forte viés ideológico, mas também
prejudicando a reputação de pesquisadores com forte tradição no Brasil e
no mundo, o que pode ser um efeito deletério grave em momentos como o
que estamos vivendo", escreveu. "Os pesquisadores não possuem quaisquer
vinculações ideológicas ou partidárias e o compromisso é apenas com a
boa ciência", completou.
Fiocruz defende pesquisadores em Manaus: "Ataques inaceitáveis"
A
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) emitiu nota em apoio aos mais de 70
pesquisadores responsáveis pelo estudo CloroCovid-19. Nela, a
instituição disse que "considera inaceitáveis os ataques que alguns de
seus pesquisadores vêm sofrendo nas redes sociais". E clamou pela
tranquilidade e segurança de seus pesquisadores, requisitos essenciais
para o desenvolvimento de seus estudos.
A
Fiocruz ressaltou ainda que "estudos como esse são parte do esforço da
ciência na busca por medicamentos e terapêuticas que possam contribuir
para superar as incertezas da pandemia de Covid-19". A pesquisa CloroCovid-19 permanece em andamento e foi aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
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