Autoridades americanas comemoram 'efeito certeiro' de remédio contra coronavírus
No mesmo dia, entretanto, uma publicação no periódico Lancet colocou dúvida sobre eficácia do remdesivir
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O remdesivir é um antiviral tipicamente usado no tratamento do ebola
O remdesivir foi originalmente desenvolvido para tratar o vírus ebola. É um antiviral que funciona atacando uma enzima de que o vírus precisa para se replicar dentro das células.
"Os dados mostram que o remdesivir tem um efeito certeiro, significativo e positivo na diminuição do tempo de recuperação", anunciou Fauci e assessora a Casa Branca em assuntos de saúde desde a gestão Ronald Reagan.
O médico comemorou afirmando que os resultados "abrem as portas para o fato de que agora existe a capacidade de tratar" pacientes.
Dúvidas persistem
Também não ficou claro, do anúncio de Fauci, quem exatamente estaria se beneficiando do tratamento. Ele permitiu ou acelerou a recuperação de pessoas que já se recuperariam de qualquer maneira? Ou evitou que pessoas precisem de internação? O medicamento funcionou melhor em pessoas mais jovens ou mais velhas? Ou aqueles com ou sem outras comorbidades?
Outro sinal de que é preciso cautela para avaliar os resultados deste estudo comandado pelo Niaid é a publicação de um outro, conduzido por pesquisadores chineses e reproduzido na revista médica Lancet também nesta quarta-feira (29).
Nele, a primeira publicação de um estudo clínico randomizado sobre o medicamento, pesquisadores não encontraram diferenças significativas entre o remdesivir e um placebo no tempo de recuperação ou mortalidade.
O estudo publicado no Lancet envolveu 237 adultos internados em estado grave por covid-19 em dez hospitais em Wuhan, na China. Mas os testes acabaram sendo insuficientes pois, com as medidas de isolamento, ficou mais difícil recrutar pacientes para o estudo. Assim, os próprios autores reconhecem que esta dificuldade pode ter influenciado nos resultados com o remdesivir.
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Estudo publicado no Lancet não detectou diferenças significativas do remdesivir no tratamento de pacientes internados com covid-19
"Enquanto isso, vamos obtendo mais e mais dados a longo prazo deste estudo, e de outros, buscando saber se a droga também evita mortes por covid-19".
O professor Peter Horby, da Universidade Oxford, está conduzindo o maior teste do mundo sobre medicamentos para covid-19.
Sobre a descoberta anunciada por Fauci, ele comentou: "Precisamos ver os resultados completos, mas se confirmado, seria algo fantástico, uma ótima notícia na luta contra o novo coronavírus."
"Os próximos passos são obter os dados completos e, conforme for, trabalhar no acesso universal ao remdesivir."
Aprovação rápida?
"Os dados são promissores e, como ainda não temos tratamentos comprovados para a covid-19, eles podem levar à aprovação rápida do remdesivir para o tratamento da doença", disse Javid.
"No entanto, (os resultados) também mostram que o remdesivir não é uma 'varinha mágica' nesse contexto: o benefício geral na sobrevivência foi de 30%."
Outros tratamentos estão sendo pesquisados para a covid-19, incluindo alguns tipicamente usados contra a malária e o HIV, que miram o vírus. Em outra frente, estão em estudo outros tratamentos que agem no sistema imunológico do corpo humano.
Acredita-se que os antivirais sejam mais úteis nos estágios iniciais da doença, e os medicamentos imunológicos, na fase mais tardia.
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