666 - Uma análise crítica das especulações sobre o
número da besta 4ª. Parte
"Aqui há sabedoria. Aquele que tem
entendimento calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu
número é seiscentos e sessenta e seis" (Ap 13.18)
Por Paulo Cristiano Silva
Sociólogo e vice-presidente do Centro Apologético
Cristão de Pesquisas
As pessoas esperavam o fim do mundo em 1666, que
seria a soma do fim dos mil anos (quando, então, Satanás seria solto, conforme
Apocalipse 20.3) com o terrível número da besta. Mas, para decepção dos
prognosticadores de plantão, o fim não veio.
Entretanto, quem pensa que a superstição e a
especulação em torno do número 666 ficaram restritas à Idade Média está muito
enganado. Esses algarismos apocalípticos continuam em alta, principalmente nos
meios religiosos. E, diga-se de passagem, até mesmo os católicos romanos
arriscam um palpite cabalístico em cima desse misterioso número, como podemos
ver no livro do padre Léo Persch.
A referida interpretação vem de Vassula, vidente
católica, que diz receber visões e orientações de Jesus e Maria a respeito do
fim dos tempos. Numa dessas interpretações, ela associa o anticristo com a
maçonaria. Vejamos: "Com a inteligência iluminada pela luz divina,
consegue-se decifrar o número 666, o nome de um homem, e esse nome, indicado
por tal número, é o anticristo [...] O número 666 indicado três vezes, isto é,
multiplicado por três, exprime o ano de 1998. Nesse período histórico, a
francomaçonaria, aliada com a maçonaria eclesiástica, conseguirá o seu grande
intento...".
Contudo, a fama do número 666 extrapolou os limites
da religião e foi parar na boca dos profanos. "The number of the beast" é a faixa musical
do grupo Iron Maiden. Uma música com letras satânicas. A
propósito, este é o número preferido dos satanistas e virou até nome de revista
em Marselha/França.
Sem dúvida, ultimamente, há muito barulho não só em
torno desse número como também do nome "besta", que no Brasil, tempos
atrás, ganhou fama com um automóvel, a VAN, Besta, fabricada por uma montadora
coreana. Já em Bruxelas, na Bélgica, um computador gigantesco foi batizado com
o mesmo nome.
Há alguns anos, a popularização do código de barras
fez brilhar o imaginário religioso. Começou-se a divulgar nos meios cristãos
que este código trazia nas extremidades e no meio, de modo oculto, o número
666, o qual seria marcado na mão direita dos consumidores. Épocas atrás, houve
um verdadeiro pandemônio entre milhares de sacerdotes, monges e fiéis cristãos
ortodoxos russos que se recusavam a aceitar os novos números do cadastro de
contribuintes dados pelo governo (equivalente ao CPF no Brasil), afirmando que
o código de barras no formulário continha a marca da besta.
Contudo, isso já é coisa do passado, tendo sido
abandonado de vez, pois, há algum tempo, a coqueluche do momento é o chamado
"bio-microchip". Criado pelo dr. Carl Sanders, é, atualmente,
produzido por várias empresas, inclusive a Motorola, para o Mondex SmartCard.
Uma década atrás, certos periódicos afirmaram que
os cientistas que trabalharam neste projeto descobriram que os melhores lugares
do corpo humano para ser implantado o tal "chip" seriam na testa e na
mão direita. Seria essa a marca da besta ou mais um boato sensacionalista? Seja
como for, o caso é que esta notícia causou pânico em alguns meios evangélicos
e, ainda hoje, causa certo frisson.
De fato, muita contra-informação pode ser
encontrada, especialmente na Internet, sobre este assunto. Apocalipse 13 tem
trabalhado com o imaginário de cristãos e não cristãos desde a época
pós-apostólica. Muito se tem escrito sobre isso, sem, contudo, haver consenso.
Este trecho foi assunto nos escritos de alguns vultos da patrística, mereceu
atenção no pensamento dos reformadores e chegou até o turbulento século 19 com
força total.
O caso é que, para muitos, isso continua se
transformando numa verdadeira esquizofrenia escatológica. Até mesmo o próprio
versículo que traz o número, dizem esconder o 666, isto é, o versículo 18 seria
o produto de 3 x 6 (6+6+6=18).
Especulações populares
Muitas coisas já foram identificadas com o número
666. Exemplos foram extraídos do código da Internet: www, onde convertem o W em
número romano VI = 6; VI VI VI = 666. O sinal da besta seria o computador na
testa (com o monitor) e na mão direita (com o mouse). Também encontraram o
número na frase "Viva, Viva, Viva a Sociedade Alternativa", da música
do ex-roqueiro Raul Seixas, onde transformaram a sílaba VI em algarismo romano
V + I = 6. Então, VIva VIva VIva, virou 666. "Marquei um X, um X, um X no
seu coração", da cantora Xuxa, também se enquadraria na famosa continha.
Segundo dizem, a letra X pronunciada em português seria XIS, lendo de trás para
frente vira SIX, que em inglês é 6. Então, SIX,SIX,SIX = 666.
Especulações escatológicas
É notório a todos que literaturas orientais,
principalmente as antigas, quando vertidas para o ocidente, tendem a apresentar
não só dificuldades linguísticas. Isso porque, quando lemos tais livros, não
estamos apenas lendo simples caracteres, mas absorvendo também seus costumes,
crenças, filosofias, enfim... toda uma bagagem cultural diferente e estranha a
nós, ocidentais. Em se tratando de matéria religiosa, a coisa tende a complicar
ainda mais. A Bíblia, o livro dos cristãos, é uma literatura também oriental
com uma riquíssima linguagem simbólica, poética e cultural, não fazendo exceção
à regra.
Não obstante, há de se esclarecer que a Bíblia,
comoo portadora da mensagem de salvação, em sua essência, é de fácil
compreensão (Is 35.8). Mas, à margem da mensagem essencial, que é o evangelho,
existem as exceções que se encontram no livro sacro. Essas exceções são
passagens não tão claras que, por vezes, envolvem o conhecimento do contexto
sociocultural e religioso da época para uma real compreensão. Quando não, são
passagens no campo das profecias a serem ainda cumpridas num futuro próximo.
Quanto a essa última categoria, entendemos que poucas passagens merecem tanta
atenção quanto Apocalipse 13.16-18, quando o assunto é especulação.
Os intérpretes que se aventuram a decifrar o número
e o nome da besta, geralmente, procuram se basear em grandes personagens da
história mundial para impingir o famigerado título bestial. As interpretações,
como não poderiam deixar de ser, são as mais variadas possíveis, assim como os
métodos utilizados para decifrar o enigma apocalíptico.
No afã de se conseguir tal intento, às vezes, os
pressupostos empregados forçam tais intérpretes (até mesmo os mais cautelosos)
a sair do eixo bíblico, tornando suas interpretações um verdadeiro malabarismo,
destituídas de qualquer análise contextual mais lata. Os princípios
fundamentais da boa exegese bíblica são deixados de lado em detrimento de
interpretações forçadas, oriundas de uma mentalidade preconceituosa. A história
mundial é forçada ao máximo, para não dizer adulterada, a fim de se encaixar em
pressupostos doutrinários.
A matemática como ferramenta especulativa
Os estudiosos em geral entendem que João estava
usando a gematria, um sistema criptográfico (ato de escrever em cifra ou em
código), que consiste em atribuir valores numéricos às letras.
É sabido que o latim, o grego e o hebraico usavam
letras em lugar de algarismos para compor números. Assim sendo, as letras
funcionavam como números. Troca-se as letras pelos números e consegue-se chegar
ao famigerado 666.
Na época de João, este era um método vulgar. Foi
descoberto pela arqueologia o nome de moças em valores numéricos. Na cidade de
Pompeia, sobre um muro, aparece a inscrição: Phílo hes arithmós phme ("Amo
aquela cujo número é phme", onde ph=500 + m = 40 + e = 5 total = 545).
Tanto pagãos como judeus e cristãos usavam o simbolismo numérico. Os
"Oráculos sibilinos" do século 2° d.C. apontavam o valor do nome de
Cristo como sendo 888. Já os gregos invocavam o deus Júpiter, cujo número do
nome era 717. Os gnósticos viam no número 365 algo de místico, pois,
transferidos para o alfabeto grego, traduzia a palavra Abrasaks, "o senhor
dos céus". Por seu turno, Clemente e Orígenes jogavam com o significado do
número 318, que seria a abreviação do nome de Cristo - IHT.
O que é a gematria?
É o método hermenêutico de análise das palavras
bíblicas somente em hebraico, atribuindo um valor numérico definido a cada
letra. É conhecido como "numerologia judaica" e existe na Torah
(Pentateuco). A cada letra do alfabeto hebraico é atribuído um valor numérico,
assim, uma palavra é o somatório dos valores das letras que a compõem. As
Escrituras são, então, explicadas pelo valor numérico das palavras. Tal lógica
estava presente na produção de Midrash e consolidou-se durante a Idade Média,
próximo à época das cruzadas, mas ainda é utilizada, compilada primeira no
Talmude e, posteriormente, em tratados da Cabala.
Especulações entre os cristãos primitivos
Parece que o primeiro escritor cristão a tentar
decifrar a besta do apocalipse usando este método foi Ireneu, em sua obra
"Adv. Haer. V, 30,3". Ele sugeriu vários nomes que supostamente
poderiam se "enquadrar", dentre os quais "lateinos"
(latino) e "teitan" (titã). A transliteração desses nomes somados
resulta no valor 666. Também o nome Neron Caesar (César Nero) em grego vertido
para o hebraico resulta em 666. Vejamos:
NVRNRSQ666
5062005020060100
Em forma latina (tirando-se o "n"), o
número varia para 616. Parece que esta era a interpretação mais convincente
para os cristãos primitivos. Tanto é assim que dois pequenos manuscritos do
Apocalipse, que hoje já não mais existem, traziam 616 no lugar de 666.
Com a chegada da Reforma Protestante, alguns
reformadores viam no papa a figura do anticristo, a besta do Apocalipse. A
propósito, a expressão Italika Ekklesia ("Igreja Italiana") daria o
número 666, o que faziam muitos pensar que a besta sairia dessa igreja. Lutero
chegou a conjecturar: "São seiscentos e sessenta e seis anos; é o tempo
que já dura o papado secular". Ainda outras expressões contextualizadas ao
catolicismo romano como "signal da crvx" (sinal da cruz),
"latinvs rex sacerdos" (rei e sacerdote latino) e "Ioannes
Pavlvs Secvndo" (João Paulo Segundo) também resultam em 666.
Em seu livro, Guerra e paz, Leon Tolstoi, escritor
russo, especula sobre a ideia de Napoleão Bonaparte ser a besta com o número
666. O teólogo Petrelli aplicou esse número a Joseph Smith, fundador da Igreja
mórmon. Diocleciano, Lutero, Calvino, Hitler e outros foram igualmente vítimas
dos matemáticos do Apocalipse. O último grande nome cogitado para engrossar
essa lista foi Bill Gates, dono da Microsoft, que, segundo dizem, também daria
666.
E a lista parece sem-fim. Constantino, reverendo
Pat Robertson, reverendo Moon, Yasser Arafat, Aiatolá Khomeini, Saddan Hussein,
Kennedy, Mussolini, Balaão, Ronald Reagan, César, Calígula, Juan Carlos (rei da
Espanha), Ismet (o pai da Turquia moderna), imperador Frederico II (da
Alemanha), George II (rei da Inglaterra), Nikita Kruschev, Joseph Stalin e
Mussolini. Até mesmo o nome Jesus de Nazaré em hebraico (YRSN VSY) dá 666.
Também, o próprio termo "besta" em grego (thérion) escrito com letras
hebraicas (TRYVN) soma 666.
Especulações entre as seitas
Como já dissemos a Bíblia, de fato, possui alguns
pontos obscuros. As seitas aproveitam essa "dificuldade" usando
justamente essas passagens para extrair delas novas revelações até então
"desconhecidas" para o mundo. As seitas alimentam essa utopia teológica
baseadas na suposição de que Deus esteja, por meio delas, revelando
"mistérios" para os tempos do fim. Isso é sintomático entre esses
movimentos e figura como patologia teológica incurável em algumas seitas que
têm feito especulações absurdas sobre o número 666. Vejamos algumas:
O número da besta e o adventismo do sétimo dia
Segundo esse grupo, o papa é a besta. Para os
adventistas, o papa é inquestionavelmente o anticristo. Embora não se possa
achar nada de concreto nos escritos de Ellen Gould White sobre este cálculo, alguns
pioneiros adventistas, como Uriah Smith, em seu livro, As profecias do
Apocalipse, já trazia o cálculo do número 666 aplicando-o ao papa.
Fazem isso partindo da premissa de que o papa mudou
a lei de Deus, principalmente o quarto mandamento, então, chegam à conclusão de
que ele deve ser o anticristo, conforme fala Daniel 7.25. Para confirmar tal
fato, foi preciso forjar uma ligação entre o nome do papa e o número 666.
Como não conseguiram o resultado usando o nome de
nenhum papa, inventaram um título latino que o papa, supostamente, usaria em
sua tiara, o "VICARIUS FILII DEI" ("Vigário do Filho de
Deus"). Daí a famosa soma que passou a fazer parte da teologia adventista
até hoje:
VICARIVSFILIIDEI666
51100**15**15011500*1
Ocorre, porém, que essa soma enfrenta algumas
dificuldades incontornáveis. A primeira delas é que a soma correta não resulta
em 666, mas em 664. Veja o cômputo correto:
VICARIVSFILIIDEI664
51100**4**15011500*1
A segunda questão é que isso não é o "nome de
um homem", mas o título de uma suposta função que o líder católico exerce.
Além disso, temos de levar em consideração que não se pode provar que tal
título existia de fato na tiara papal. E, ao que tudo indica, nem mesmo este
corresponde ao nome correto do título, o qual seria, corretamente, chamado de
"Vigário de Cristo" e não "Vigário do Filho de Deus".
Ainda é importante destacar que o Apocalipse foi
escrito em grego e não em latim. Consequentemente, o cálculo deveria ser feito
por letras gregas e não latinas. É temeroso acreditar que os destinatários de
João conhecessem o latim, já que este era um idioma usado apenas nos
territórios do Ocidente Europeu.
Por fim, por mais paradoxal que pareça, usando este
mesmo cálculo pode-se até encaixar a profetisa dos adventistas nele. Vejamos:
ELLENGOVLDWHITE666
*5050****5505005+5*1**
Diante disso, atualmente, muitos teólogos
adventistas já não mais associam o número da besta com o título papal.
Curiosamente, a lição da Escola Sabatina de 20 a 27/05/2000, que tratava sobre
a famosa tríplice mensagem angélica, omitiu que a besta do Apocalipse é o papa.
Os termos "falsos sistemas religiosos" e "falsos sistemas de
adoração" são utilizados para substituir os costumeiros termos
"Roma" e "poder papal", tão marcantes no livro O grande
conflito, um dos principais escritos de Ellen Gould White.
O número da besta e o jeovismo
Segundo esse grupo, a besta é o sistema político do
mundo. Depois de mudarem diversas vezes suas doutrinas a respeito do
Apocalipse, as testemunhas de Jeová chegaram à conclusão, no livro Revelação:
seu grande clímax está próximo , que a besta seria apenas o mundo em sua forma
organizada politicamente, sendo a ONU a imagem da besta. Afirmam, ainda:
"Assim, como seis é inferior a sete, assim 666 - seis em três estágios - é
um nome apropriado para o gigantesco sistema político do mundo".
É claro que esta interpretação é descabida e vai
contra o próprio texto que diz que é o "nome de um homem" e não de um
sistema político. O que muitos não sabem é que hoje a ONU já não é mais vista
como a imagem da besta pelas testemunhas de Jeová. Essa mudança ocorreu porque
a Sociedade Torre de Vigia, entidade jeovista, tentou se filiar à ONU. É a
velha tática da seita de reciclar constantemente sua doutrina.
O número da besta e o movimento do nome sagrado
Para esse grupo, o nome Jesus representa a besta. A
principal preocupação desse movimento é com o homônimo escrito e oral do nome
sagrado: Yahweh para Deus e Yahshua, para Jesus. Dessa ênfase, deriva o nome
desse movimento, cujos representantes principais aqui no Brasil são conhecidos
como "testemunhas de Yehoshua".
Como o grupo repugna o nome Jesus, seus adeptos
resolveram encontrar o equivalente numérico para o nome fatídico da besta em
cima do nome do Filho de Deus. Demonstram isso empregando a expressão latina
Iesus Cristvs Filii Dei ("Jesus Cristo Filho de Deus").
IESUSCRISTVSFILIIDEI666
1**5*100*1**5**1502500*1
Em primeiro lugar, gostaríamos de lembrar que IESVS
CRISTVS FILII DEI é IESVS CRISTVS + FILII DEI, ou seja, trata-se de uma frase
que vai muito além de um nome. Em segundo lugar, o nome IESVS CRISTVS, sozinho,
equivale apenas a 112. Em terceiro lugar, FILII (genitivo masculino singular)
deveria ser FILIVS (nominativo masculino singular). Assim sendo, teríamos:
FILIVSDEI558
*15015*500*1
Logo, temos I E S U S C R I S T V S = 112 + F I L I
V S D E I = 558 = 670, um número bem diferente de 666. Percebemos, portanto, a
necessidade da presença de títulos ou apostos - sem contar com a presença de
FILII, ao invés da forma correta FILIVS - para se chegar ao número 666.
Outros, no entanto, levados por uma obstinação
mórbida, preferem usar apenas o nome Jesus e transliterá-lo em caracteres
hebraicos, fazendo valer 666. Esse foi o artifício exposto por outra variante
deste movimento, conhecida como Comunidade Judaica Messianitas. Vejamos:
JESUS666
Não existe em hebraicoNão possui valor numérico em
hebraico6
(60 sem o zero)660 (60 sem o zero)
Não é necessário ser teólogo para perceber que os
erros e as interpretações forçadas neste cálculo estão às escâncaras. Primeiro,
porque a soma correta desses números é 126 e não 666. Segundo, porque esse
cálculo faz arbitrariamente 60 valer 6 e, depois, usa uma palavra portuguesa,
transformando-a em numerais hebraicos. Isso é simplesmente inaceitável para a
aplicação do sistema de numeração hebraica.
Quem é a besta, afinal?
Há comentaristas que acreditam que a figura de Nero
preenche perfeitamente o cumprimento da profecia. Contudo, o Apocalipse é uma
revelação para o futuro. O alcance dos eventos descritos nesse livro terão um
cumprimento bem mais amplo do que qualquer um já visto na história. Nesse caso,
acreditamos que Nero pode ser visto apenas como mais um tipo do anticristo e
não como o próprio anticristo.
Por outro lado, há os que enxergam nesse número
apenas um simbolismo da imperfeição humana. Assim, o número da besta seria só o
número do homem, ou seja, do homem terreno, em contraste com o divino, mas
também significa a imperfeição e a rebelião contra Deus. Satanás sempre quis
imitar a Deus. Como o número de Deus é sete, o número da perfeição, o inimigo
de Deus também terá seu número. Enquanto Deus marca nas testas de seus servos o
seu nome, a besta deixará sua marca naqueles que a servirão, significando que o
anticristo procurará chegar à perfeição, mas sempre ficará aquém dela.
Mas, o que essa sabedoria e esse conhecimento
permitem que os crentes façam? A passagem diz que podemos "calcular".
Mas, calcular o quê? Podemos calcular o número da besta. O principal propósito
de alertar os crentes sobre a marca é permitir que saibam que, quando em forma
de número, o nome da besta será 666. Assim, os crentes que estiverem passando
pela tribulação, quando lhes for sugerido que recebam o número 666 na fronte ou
na mão direita, deverão rejeitá-lo, mesmo que isso signifique a morte.
Outra conclusão que podemos tirar é que qualquer
marca ou dispositivo oferecido antes dessa época não é a marca da besta, que
deve ser evitada. Todos saberão e aderirão conscientemente a ela, enquanto
outros a rejeitarão e sofrerão as consequências por isso. O que o nome e o número
da besta significam será conhecido dos santos que estiverem na terra na época
em que a besta estiver aqui em pessoa. Assim, de uma coisa temos certeza:
ninguém na terra, atualmente, tem sabedoria suficiente para compreender o
número da besta.
Considerações finais
Admitimos que, no momento, é impossível averiguar a
identidade desse diabólico personagem, pelos motivos já expostos. Quanto às
interpretações mencionadas neste artigo, é praticamente inútil tentar abordar,
ainda que por alto, todos os aspectos ou analisar suas contradições. Todos os
cálculos que se apresentaram até agora se mostraram falhos. Isso porque, com um
pouco de criatividade, é fácil impingir o número da besta em qualquer um. Se
não funciona com letras hebraicas, troca-se por latinas ou gregas.
Acrescentam-se e tiram-se títulos. Existem vários modos de se obter o número,
principalmente quando usamos líderes mundiais, os quais possuem vários títulos.
Mas, até mesmo aplicado a um nome tão comum quanto João da Silva esse número
pode se encaixar. Os vários recursos disponíveis tornam as chances bastante
altas. É o malabarismo do "estica-encolhe exegético", a fim de forçar
o número 666 a se encaixar no personagem de sua escolha. Isso posto, repudiamos
tal irresponsável teologia escatológica especulativa que serve mais para
confundir do que para elucidar a questão. Eis uma característica típica de
quase todos os "caçadores da besta": preferem ignorar os fatos a
abdicar de suas ideias preconcebidas.
"Os pressupostos empregados por alguns intérpretes
são forçados e tornam suas interpretações um verdadeiro malabarismo,
destituídas de qualquer análise contextual"
"Com a chegada da Reforma Protestante, alguns
reformadores viam no papa a figura do anticristo, a besta do Apocalipse"
"Os crentes que estiverem passando pela
tribulação, quando lhes for sugerido que recebam o número 666 na fronte ou na
mão direita, deverão rejeitá-lo, mesmo que isso signifique a morte"