13ª.-Carrancas
e maus espíritos -
José
Alberto Vasconcellos.
“O Rio
São Francisco – que os indígenas chamam Opará – é também a principal via de
comunicação das populações ribeirinhas, sendo sua cultura barranqueira. Na
região demarcada pelas corredeiras de Pirapora e a cachoeira de Paulo Afonso,
entre as porções mais navegáveis do São Francisco, está a Bacia do Corrente,
onde das mãos do carranqueiro Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany (1884-1987)
surgiram as belezas misteriosas das Carrancas.”
“As
Carrancas, obras de arte: conjunção de forças milenares, enlaçadas na mente de
Guarany, são fruto da criação de uma cultura de uma região isolada do resto do
país e ao, mesmo tempo, ligadas pelo São Francisco, cujos artistas populares, a
partir da ideia de esculpir uma figura de proa, criaram soluções plásticas
próprias, de elevado conteúdo artístico e emocional, que provocam um verdadeiro
impacto, despertando a sensibilidade e mesmo uma perturbação, na contemplação
dessa mistura singular, entre elementos naturais e humanos”.
“Segundo
os historiadores, as barcas que circulavam pelo Rio São Francisco, foram as
únicas embarcações primitivas de povos ocidentais, que usaram figuras de proa
ou carrancas. Essas esculturas surgiram na cultura nordestina, mais
propriamente no meio da civilização ribeirinha do Médio São Francisco, por
volta de 1875/1880 e durou até o ano de 1940, quando se encerrou o ciclo das
embarcações no Brasil.”
“Existem
muitas versões históricas sobre o aparecimento das carrancas, na região
nordestina. Porém a tese decorrente de estudos antropológicos, que possui maior
probabilidade, é a que defende o aspecto lendário das carrancas, que segundo a
crença e o misticismo do povo primitivo, que habitava aquela região, as
carrancas serviam de amuletos de proteção e salvaguardavam os barqueiros,
viajantes e moradores contra as tempestades, perigos e maus presságios.”
“Serviam também para espantar os animais e os duendes moradores no Rio São
Francisco que de noite saiam das profundezas das águas, para assombrar
barqueiros, tentar mulheres e roubar crianças. Esses seres ao verem as figuras
das carrancas nas proas, de olhos esbugalhados, de bocas enormes escancaradas e
agressivas, espantavam-se e se recolhiam em seus esconderijos.”
“Quanto
ao aspecto econômico, pode-se dizer que o surgimento dessas figuras
horripilantes de aspecto grosseiro, talhadas em madeira, tenha sido um dos mais
relevantes motivos para a emancipação comercial, política e social da região do
Médio São Francisco”.
“A
produção amplia-se no início do século XX quando ocorrem sucessivos naufrágios,
em face das corredeiras, das pontas de pedra do rio e a sobrecarga das
embarcações”. Dizia-se que “a rapadura, de tanta barca afundada, chegava a
adoçar o rio...”
“Essas
figuras ocupam lugar de destaque na arte popular nordestina, pela
expressividade artística e pela originalidade tipicamente brasileira.” “A forte
tendência à submissão e à crença do poder sobrenatural das carrancas, é
explicado a partir do primitivismo e ingenuidade dos habitantes, que eram povos
extremamente supersticiosos e acreditavam em várias lendas.” “Os dicionários de
língua portuguesa definem a palavra carranca, como sendo figura sombria, de
cara feia e disforme, indicativo de mau humor.”
“O
Mestre Biquiba: Francisco Biquiba Dy Lafuente Gurany, “foi o profissional de
inteligência mais multiforme que existiu na Bacia do Rio Corrente”. A natureza
permitiu-lhe viver mais de um século, a fim de que desse vencimento à sua
inesgotável capacidade inventiva, sempre em dia coma História e com a Cultura
do seu povo. Ele conjurou os seres malévolos das águas, com o poder das suas
mãos meio espanholas, meio índias, meio africanas, totalmente brasileiras.”“Com
suas carrancas as águas purificavam-se, e as viagens tornavam-se festivas aos
som das violas. As carrancas protegiam os viajantes, dos terrores do rio.”
“Francisco
Biquiba Dy Lafuente Guarany, nasceu no dia 02.04.1884. Filho de Cornélio
Biquiba Dy Lafuente e Marcelina do Espírito Santo. É bisneto de José Dy
Lafuente, ex-jesuita espanhol, refugiado no Convento da Bahia que amasiou-se
com um negra africana de Moçambique, indo morar na cidade de Curaçá, às margens
do São Francisco, próximo à cidade de Juazeiro, onde passou a trabalhar como
professor.”
“O
Mestre Biquiba apresentava os traços fisionômicos e na cor, a mistura das raças
que formaram o povo brasileiros. Faleceu em Santa Maria da Vitória (BA) em
1987. Esculpiu sua primeira obra 1901; a partir de 1910 até 1940, produziu
cerca de oitenta carrancas. Com a substituição das barcas pelas canoas
sergipanas, Guarany ficou dez anos, até 1950, sem esculpir. Seu trabalho é
exibido em grandes museus, como o Castro Maia.”
Nota: A
matéria foi pesquisada no Google.
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