9ª.-Os
mistérios da Cabala
O
misticismo - a busca da verdade suprema por meio de rituais misteriosos e
experiências subjetivas - há séculos exerce fascínio sobre a humanidade. Sob a
alegação de proporcionar uma compreensão mais profunda dos segredos complexos e
enigmáticos do Universo, o misticismo promete aos interessados a sua inclusão
num grupo de elite, seduz ao oferecer garantias de elucidar o sentido da vida e
fascina com a promessa de levar a pessoa a uma relação mais íntima com Deus.
Durante
toda a história humana, as culturas têm produzido suas versões do misticismo. O
povo judeu não é exceção. A forma mais influente e expressiva de misticismo
judaico se desenvolveu em Israel, na Babilônia e em certas regiões da Europa,
entre os séculos 10° e 18 d.C. Em grande parte, originou-se de uma reação
contra o judaísmo estéril e filosófico daqueles dias. E ficou conhecida como
Cabala ("Tradição"). O rabino Meyer Waxman descreveu a Cabala como
"uma síntese desordenada de todos os elementos do misticismo que sempre
achou expressão no judaísmo".
Na
verdade, existem duas correntes de pensamento na Cabala: a prática e a
especulativa. A Cabala prática enfoca o uso de fórmulas místicas para realizar
milagres ou obras sobrenaturais. Pela manipulação dos nomes de Deus, de anjos e
das próprias letras de palavras da torah (a lei ou Pentateuco), a Cabala
prática alega que certas combinações podem ser feitas para produzir qualquer
feitiço, encantamento ou resultado que se deseje, seja a cura de um doente,
seja o sucesso nos negócios.
A
Cabala especulativa, que incorpora e se impõe sobre a Cabala prática, é mais
teórica. Lida com certas questões, tais como: a maneira pela qual um Deus
infinito pode criar e se relacionar com um mundo físico e finito. Segundo a
Cabala, a resposta para tal questão é: pela mediação.
A
mediação é efetuada por intermédio de anjos, bem como por intermédio das dez
emanações de Deus, denominadas "sephiroth". Essas sephiroth, conforme
escreveu o rabino Waxman, "são manifestações tanto da essência (de Deus)
quanto dos agentes de sua vontade" na terra. É por meio dessas
manifestações que o mundo veio a existir e tem sido preservado, organizado e
governado". As dez sephiroth juntas são simbolicamente representadas pela
figura de um corpo humano, ou pela árvore da vida, ou por círculos
concêntricos, ou, ainda, pela luz em suas diversas gradações.
Outra
influente doutrina da Cabala é a concepção de que tudo possui dois poderes ou
energias inerentes: a ativa e a passiva, e são simbolizadas por macho e fêmea.
A Cabala apregoa que a própria alma humana constitui-se tanto de uma parte
masculina quanto de outra parte feminina. Os adeptos creem que a alma
preexistente, ao descer dos mundos superiores, se subdivide nessas duas partes:
a parte masculina entra num homem e a parte feminina entra numa mulher. Se um
homem vive uma vida justa, ele se casará com aquela mulher que possui a outra
parte de sua alma; ou seja, a sua "alma gêmea".
A
principal obra escrita da Cabala é o Zohar ("Esplendor"). Trata-se de
um enigmático comentário da torah, cuja ênfase recai na busca de um significado
oculto ou místico que esteja além do sentido normal e literal do texto bíblico.
O povo
judeu já estuda a Cabala há muito tempo. Contudo, nas últimas quatro décadas, o
interesse por ela cresceu de maneira significativa, especialmente entre certos
artistas de Hollywood, como Madonna, por exemplo, que assumiu publicamente ser
praticante da Cabala. O estilo pop da Cabala dessas celebridades, defendido por
uma organização sem fins lucrativos sediada em Los Angeles, denominada The
Kabbalah Centre (Centro da Cabala), tem sido censurado pelos cabalistas
tradicionais pelo fato de franquear os ensinos secretos da Cabala aos que não
são judeus e por banalizar suas doutrinas. Os tradicionalistas também criticam
o The Kabbalah Centre por sua visão comercial e busca de lucros (por exemplo,
por vender amuletos da sorte, tais como o popular cordão vermelho que está na
última moda, ou a pulseira dobrável que se ajusta ao pulso para proteger do mau-olhado.
E por fazer propaganda de uma nova bebida energética cabalística).
A
Cabala contraria totalmente os ensinos da Bíblia. No que se refere à mediação,
a Palavra de Deus declara: "Porquanto há um só Deus e um só mediador entre
Deus e os homens, Cristo Jesus, homem" (1Tm 2.5). No que diz respeito aos
segredos, o apóstolo Paulo lembra aos crentes em Cristo de Colossos que nenhum
segredo místico pode ter a pretensão de se comparar ao segredo revelado por
Deus. A saber: Jesus, o Messias, "em quem todos os tesouros da sabedoria e
do conhecimento estão ocultos" (Cl 2.3).
Moisés
declarou: "As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as
reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que
cumpramos todas as palavras desta lei" (Dt 29.29).
Há
certas coisas que Deus reservou para si e não revelou. Entretanto, não temos
necessidade de nos preocupar com elas. Pelo contrário, a nossa atenção e
obediência devem estar voltadas para aquilo que Ele revelou em sua Palavra
escrita. Deus planejou para nós o ensino claro das Escrituras e não esse
amontoado de bobagens sutis reservadas a poucos de uma "elite" (1Tm
6.20; 2Tm 1.13).
As dez
sephiroth
Segundo
os estudos cabalísticos, sefirot (também grafado sephiroth, cujo singular é
sephira ou sefira) são as dez emanações de ain soph na cabala. Segundo a
cabala, ain soph é um princípio que permanece não manifestado e é
incompreensível à inteligência humana. Desse princípio, emanam as sefirot em
sucessão. Esta sucessão de emanações forma a árvore da vida. As sephiroth
emanadas são, na sequência:
1.
Kether - Coroa
2.
Chokmah - Sabedoria
3.
Binah - Entendimento
4.
Chesed - Misericórdia
5.
Geburah - Julgamento
6.
Tipareth - Beleza
7.
Netzach - Vitória
8. Hod
- Esplendor
9.
Yesod - Fundamento
10.
Malkuth - Reino
Há,
ainda, um décimo primeiro sefira chamado Ddaath, que representa o abismo, o
caos e, normalmente, não é representado na árvore da vida, sendo considerado um
portal para as qliphoth, que são as sephiroth adversas. Conforme creem os
místicos cabalistas, na árvore da vida, as Sefirot estão alinhadas em três
pilares conectados entre si por meio de vinte e duas ligações. Também se
dispõem em três camadas triangulares e sucessivas, cada uma delas associada a
um mundo (atziluth, o mundo das emanações; beriah, o mundo das criações; e
yetzirah, o mundo das formações), mais malkuth na base (correspondendo a
asiyah, o mundo das ações).
Por
Bruce Scott
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