Senta a Púa! Conheça a
história da Força Aérea Brasileira na Segunda Guerra
O 1º
Grupo de Aviação de Caça se mostrou indispensável em diversos episódios na
Itália durante a Segunda Guerra Mundial
Publicado:
16/04/2019 11:00
Fonte:
Agência Força Aérea, por Tenente Bueno
Edição:
Agência Força Aérea - Revisão: Capitão Monteiro
A Segunda Guerra Mundial já acontecia na Europa
quando o Presidente Getúlio Vargas sancionou, em 20 de janeiro de 1941, o
decreto-lei nº 2.961, criando o Ministério da Aeronáutica. Joaquim Salgado
Filho, designado primeiro Ministro da pasta, buscava, primeiramente, estruturar
o setor aéreo no Brasil, aprimorando sistemas de controle do espaço aéreo e
fundando aeródromos. Ainda em 1941, foi criada a Diretoria de Rotas com o
objetivo de promover o desenvolvimento da infraestrutura e da segurança da
navegação aérea. No entanto, ainda em seus primeiros passos - fundando escolas
e aeródromos - a Força Aérea Brasileira (FAB) foi obrigada a ingressar em um
teatro de operações extracontinental. Nele, a Aviação de Caça brasileira teve
seu batismo de fogo – e papel fundamental no cumprimento de missões em solo
italiano.
Até então, o Brasil adotava uma posição neutra em
relação aos embates relacionados à Segunda Guerra. A Declaração do Panamá
estabelecia, desde 1939, uma zona de segurança de 300 milhas onde os países
americanos se comprometiam a manter a neutralidade – incluindo o litoral do
Brasil. Mas tudo mudou quando navios brasileiros começaram a ser atacados durante
o episódio que ficou conhecido como a Batalha do Atlântico Sul. Em 28 de
janeiro de 1942, o Brasil rompeu as relações diplomáticas com os países do
Eixo, marcando o apoio aos Aliados. Mais tarde foi a vez da Aviação de Caça da
FAB entrar no conflito: desta vez, em território italiano, junto aos aliados.
A declaração de guerra do Brasil aos países do
Eixo, em 22 de agosto de 1942, determinou uma mobilização geral. Em 18 de
dezembro de 1943, foi criado o Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA) e,
em 20 de julho de 1944, a Primeira Esquadrilha de Ligação e Observação (1a
ELO). Para comandar as unidades aéreas na Itália, foram designados,
respectivamente, o Major Aviador Nero Moura e o Capitão Aviador João Affonso
Fabrício Belloc. Ambos chegaram à Europa em outubro de 1944. Assim, em três
anos, o Brasil fundou uma Força Aérea, investiu em formação, infraestrutura e
aumento do efetivo e, enfim, desembarcou em um cenário de guerra real.
O 1º GAVCA saiu do Brasil com 350 homens, incluindo
43 pilotos, e chegou a Livorno integrando o 350th Fighter Group da Força
Aérea Americana. Antes disso, o grupo aliado havia realizado a Operação Torch,
no Norte da África, e seguiu até a Itália. Além do 1º GAVCA, eram três
esquadrões, todos norte-americanos: 345th, 346th e 347th Fighter Squadron.
Para eles, o 1º GAVCA, equipado com os P-47 Thunderbolt, era conhecido como “1st
Brazilian Fighter Squadron (1st BFS)”, com o código “Jambock”. A partir de
sua base, em Tarquínia, na Costa Oeste da Itália, o 1º GAVCA passou a planejar
suas próprias operações em 11 de novembro. O Brasil ainda enviou uma equipe de
médicos e enfermeiros à Itália, atuando junto ao Esquadrão e no US 12th
General Hospital, em Livorno.
O símbolo do Grupo foi idealizado a bordo do navio
a caminho da Itália. Dos elementos: a moldura auriverde simboliza o Brasil; o
céu vermelho, a guerra; o avestruz, o piloto de caça brasileiro, que precisou
se adaptar a diferentes alimentos em suas missões; o escudo azul com o Cruzeiro
do Sul é o símbolo das Forças Armadas do Brasil; e a arma empunhada pelo
avestruz, o poder de fogo do P-47. “Senta a Púa!” é o grito de guerra do 1º
GAVCA. Já o Hino da Aviação de Caça foi composto após uma missão bem sucedida
na quarta-feira de cinzas de 1945 – o “Carnaval em Veneza”.
Durante a Guerra, o 1º GAVCA operou como unidade
independente, e as missões em fevereiro de 1945, quando os caças da FAB
atacaram o inimigo em Monte Castelo, contribuíram para a vitória dos
combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Nos Estados Unidos, os
brasileiros haviam sido treinados para operações de caça, mas a Luftwaffe
(Força Aérea Alemã) executava poucas missões na região. Logo, o esquadrão atuou
como unidade de caça-bombardeiro, em missões de reconhecimento armado e
interdição, em suporte às forças terrestres aliadas. O clímax da atuação da
Força Aérea Brasileira foi em 22 de abril de 1945, quando uma grande ofensiva
dos Jambocks contabilizou 44 decolagens em 11 missões em um único dia.
O dia amanheceu nublado. As três esquadrilhas
(verde, azul e vermelha) do Grupo levantaram voo a partir das 8h30 com o
objetivo de atacar estruturas e veículos próximos a San Benedetto. Uma delas
decolou pouco depois em direção ao sul de Mantua, para uma missão de reconhecimento
armado - mais de 80 veículos foram destruídos, além de fortes, tanques e
balsas. Ao fim do dia, o Grupo acumulou 44 missões individuais e destruiu mais
de 100 alvos. 22 de abril de 1945 foi o dia com o maior número de missões de
combate despachadas, sendo celebrado até hoje como o Dia da Aviação de Caça.
Dois P-47 foram avariados e um abatido e seu piloto capturado pelas forças
alemãs.
Além do 1º GAVCA, a 1ª ELO apoiou a Artilharia
Divisionária (AD) da FEB, realizando missões de observação, ligação,
reconhecimento e regulagem de tiro. A 1ª ELO realizou 684 missões em quase 200
dias de operações.
Quatro décadas depois, em 1986, os feitos do 1º
GAVCA na Itália foram novamente reconhecidos. O Grupo recebeu do Embaixador dos
Estados Unidos no Brasil e do Secretário da Força Aérea Americana, a Presidential
Unit Citation, comenda concedida pelo governo norte-americano. Além do 1º
GAVCA, só duas unidades estrangeiras foram agraciadas com a medalha – ambas da
Força Aérea Australiana.
Fotos: Arquivo CENDOC e Sargento Johnson Barros /
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