Crianças
Brancas, Babás Negras...
Por:
Manu Gama -
Criança
branca e babá negra durante período da escravidão-
Estudando
e trabalhando em uma escola particular, você percebe que a maioria dos
estudantes e professores é branca.
Frequentemente,
as pessoas negras exercem funções como auxiliares de limpeza, cozinheiras,
telefonistas, babás – mulheres que, provavelmente, não têm tempo para criar os
próprios filhos, pois estão ocupadas cuidando das crianças de pais ricos, cuja
boa parte decidiu procriar por conta de um protocolo social.
Para
alunos brancos e privilegiados, essa dinâmica racial sobre os cargos na
educação é a origem da associação inconsciente entre pessoas negras e papéis
serventes.
“Eu
estudei em um colégio onde havia uma única jovem negra no grupo, a qual era bolsista por ser filha de uma
funcionária. Seis anos depois, voltei para o mesmo lugar para trabalhar como
professora auxiliar. Conduzi uma classe de 25 crianças, onde a única aluna negra
também era bolsista por ser filha de uma das telefonistas da escola. Na
educação privada, o tempo passa, mas as coisas não mudam”.
Colaborei
com projetos e ações antirracistas e, um deles, consistia na adoção de contos
literários com protagonismo negro para leitura em sala, mas para uma menina
negra em uma turma com 24 colegas brancos, as histórias não sustentam o senso
de companhia, identificação e pertencimento.
A minha
percepção de que havia algo fora do lugar chegou atrasada, porque além da falta
de representatividade negra no conjunto de estudantes e docentes, as aulas de
história eram contaminadas de imparcialidade a respeito de temas como a
colonização e escravidão.
Ensinaram
os respectivos processos sem mencionarem a palavra “racismo” durante todo o
ensino médio, como se fossem só mais dois acontecimentos históricos como
quaisquer outros. Como se não carregássemos a obrigação social e ética de
combater a ideologia responsável pelo surgimento e permanência de uma
desigualdade racial estruturada e institucionalizada.
Continuamos
em uma aprendizagem branca e excludente, onde apenas demandam e incentivam o
conteúdo proporcionado por teóricos homens e brancos. Suspeito de que tenham
usado Machado de Assis para “marcar ponto” e disfarçar uma metodologia,
nitidamente, racista. Eu insisto em saber quando a pedagogia se mobilizará para
criar um ambiente igualmente racializado.
Quando
vão exigir a leitura de escritores e escritoras como Carolina Maria de Jesus,
Frantz Fanon, Abdias do Nascimento, Ângela Davis, entre outros?
Pensadores
que realmente contribuíram para o saber prático de uma realidade mais justa.
Sigo aguardando o dia em que a elite branca vai começar a tratar da ferida que
nasceu no século 15 com a chegada do primeiro navio com negros escravizados.
“O
colonialismo é uma ferida que nunca foi tratada. Uma ferida que dói sempre, por
vezes infecta, e outras vezes sangra.” Grada Kilomba
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