sábado, 25 de novembro de 2023

BABÁS... 2a.Parte

 

Crianças Brancas, Babás Negras...

Por: Manu Gama -

Criança branca e babá negra durante período da escravidão-

Estudando e trabalhando em uma escola particular, você percebe que a maioria dos estudantes e professores é branca.

 

Frequentemente, as pessoas negras exercem funções como auxiliares de limpeza, cozinheiras, telefonistas, babás – mulheres que, provavelmente, não têm tempo para criar os próprios filhos, pois estão ocupadas cuidando das crianças de pais ricos, cuja boa parte decidiu procriar por conta de um protocolo social.

 

Para alunos brancos e privilegiados, essa dinâmica racial sobre os cargos na educação é a origem da associação inconsciente entre pessoas negras e papéis serventes.

 

“Eu estudei em um colégio onde havia uma única jovem negra no grupo,  a qual era bolsista por ser filha de uma funcionária. Seis anos depois, voltei para o mesmo lugar para trabalhar como professora auxiliar. Conduzi uma classe de 25 crianças, onde a única aluna negra também era bolsista por ser filha de uma das telefonistas da escola. Na educação privada, o tempo passa, mas as coisas não mudam”.

 

Colaborei com projetos e ações antirracistas e, um deles, consistia na adoção de contos literários com protagonismo negro para leitura em sala, mas para uma menina negra em uma turma com 24 colegas brancos, as histórias não sustentam o senso de companhia, identificação e pertencimento.

 

A minha percepção de que havia algo fora do lugar chegou atrasada, porque além da falta de representatividade negra no conjunto de estudantes e docentes, as aulas de história eram contaminadas de imparcialidade a respeito de temas como a colonização e escravidão.

 

Ensinaram os respectivos processos sem mencionarem a palavra “racismo” durante todo o ensino médio, como se fossem só mais dois acontecimentos históricos como quaisquer outros. Como se não carregássemos a obrigação social e ética de combater a ideologia responsável pelo surgimento e permanência de uma desigualdade racial estruturada e institucionalizada.

 

Continuamos em uma aprendizagem branca e excludente, onde apenas demandam e incentivam o conteúdo proporcionado por teóricos homens e brancos. Suspeito de que tenham usado Machado de Assis para “marcar ponto” e disfarçar uma metodologia, nitidamente, racista. Eu insisto em saber quando a pedagogia se mobilizará para criar um ambiente igualmente racializado.

 

Quando vão exigir a leitura de escritores e escritoras como Carolina Maria de Jesus, Frantz Fanon, Abdias do Nascimento, Ângela Davis, entre outros?

 

Pensadores que realmente contribuíram para o saber prático de uma realidade mais justa. Sigo aguardando o dia em que a elite branca vai começar a tratar da ferida que nasceu no século 15 com a chegada do primeiro navio com negros escravizados.

 

“O colonialismo é uma ferida que nunca foi tratada. Uma ferida que dói sempre, por vezes infecta, e outras vezes sangra.” Grada Kilomba

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