Idosos
como atores [e campo] da missão
Sessenta+
Por
Verônica Farias e Sergio Lyra
Podemos
considerar a pessoa idosa como um campo de missão? E, nesse caso, como os
próprios idosos crentes podem responder a este desafio missionário?
Pense
comigo, se o número de idosos cresce na sociedade em geral, então, temos que
aprender a inserir e não descartar ou ignorar o potencial desta faixa etária
dentro de nossas igrejas. Segundo, como igreja, podemos apoiá-los e
incentivá-los a envolverem-se em ações que comuniquem o Evangelho àqueles da
sua faixa de idade que não conhecem as boas novas de Cristo. De idoso para
idoso, assim como de jovem para jovem, a mensagem é comunicada a partir da
afinidade que a própria faixa etária carrega: as crises, as dúvidas, os receios,
as perdas ou os ganhos, os interesses, as habilidades manuais e até a própria
religiosidade, que nessa fase está mais aguçada, tudo pode tornar-se um fio
condutor de conversa, de convite e até de amizade, para o testemunho cristão
acontecer naturalmente.
Uma
pessoa mais velha pode também se tornar um mentor ou mentora de outros mais
jovens na igreja. Considero de grande valor e importância a presença de um
mentor ou mentora durante a vida cristã e de serviço, comunicando sua sabedoria
para outras gerações. Tenho experimentado o prazer e o privilégio da presença
ativa de um mentor em toda a minha vida cristã e carreira missionária, até o
momento. Sei da diferença positiva que isso faz, assim como imagino que Timóteo
diria o mesmo a respeito da influência do apóstolo Paulo em seu desenvolvimento
pessoal. Por isso, pensei em convidar essa pessoa para partilhar a escrita
desse texto comigo. Nas minhas relações mais próximas não conheço ninguém que
poderia falar sobre esse tema do anúncio do Evangelho com tanta propriedade e
naturalidade de quem faz o que diz, como o pastor Sérgio Lyra. Pela graça de
Deus tem sido ao longo das últimas três décadas de convivência ministerial e
pessoal, um modelo cristão a me inspirar. Ele nos conduzirá adiante nessa reflexão,
de maneira bíblica, concisa e prática, como costuma ser o seu estilo.
>>O
Discípulo - Um chamado para ser como Cristo <<
Identificando
barreiras e pontes
Muitas
coisas poderiam ser ditas sobre como evangelizar uma pessoa idosa, entretanto,
vou começar levando em consideração a pessoa que irá ser o instrumento de
verbalização da fé. Se o pregador já for uma pessoa da terceira idade, uma
porta larga provavelmente estará aberta para o início de uma conversação.
Todavia, considerando que a evangelização por amizade é a estratégia que mais
facilita o anúncio do evangelho, acredito que parentes e amigos de idosos,
mesmo que estejam em idades diferentes, conseguirão uma oportunidade (Cl 4.5)
para apresentar a verdade do evangelho.
Para
ser prático, vou identificar três atitudes que podem produzir barreiras,
fazendo com que a semente do evangelho seja como aquelas que o semeador lançou,
caíram na beira do caminho e Satanás não deixou nascer (Mt 13.19). Ao mesmo
tempo, vou sugerir como construir pontes de contato.
1. Não
faça da sua fala o centro da conversa – A pessoa idosa geralmente gosta de
conversar, entretanto quando alguém tenta se comunicar, sendo o “centro da
atenção”, isso tende a ser uma barreira, por mais interessante que seja o
assunto. A ponte para compartilhar a fé é construída através de conversas que
tem o seu início em assuntos que a pessoa gosta de conversar. Intencionalmente,
deixe o idoso falar.
2.
Rejeite a figura de professor – Mesmo que os conceitos abraçados pelo idoso
estejam errados, assumir o papel de um professor pode produzir rejeição,
principalmente se você é mais novo. Recomendo que se utilize o método de fazer
perguntas, despertando o interesse e, de maneira sutil, conduzindo a conversa
para a vida espiritual.
3.
Cuidado com as abordagens relâmpago – Se você não dispõe de tempo para uma
conversa um pouco mais demorada, é recomendável que outra oportunidade seja
encontrada. Uma das atitudes que normalmente irrita uma pessoa idosa é não lhe
dar uma atenção mais pessoal.
Como
iniciar uma conversa sobre o evangelho
Normalmente
uma pessoa idosa tem disponibilidade e prazer para uma conversa descontraída.
Além disso, ela traz consigo muitas lembranças de histórias que fizeram parte
da sua caminhada e muito comumente gosta de dialogar com uma pessoa interessada
em suas lembranças. Uma boa estratégia é fazer perguntas acerca das
experiências de vida para estabelecer uma comunicação amigável. Vou lançar mão
de um diálogo hipotético para facilitar melhor como essa abordagem pode ser
feita.
“Qual a
experiência que o senhor considera uma das mais interessantes?”.
Ao
ouvir atentamente a história que vai ser contada, procure encontrar algum
aspecto ou ponto de contato que, a partir dele, você possa entrar na vida
espiritual. A mudança de assunto pode seguir a mesma estratégia de fazer
perguntas.
“Percebi
que o senhor disse que agradecia a Deus pelo privilégio de ter filhos. Mas me
diga uma coisa, o que Deus realmente significa para o senhor?”.
Perceba
que o assunto agora foi direcionado para o relacionamento dele para com Deus.
Enfatizo a importância de não assumir a postura de “professor”, isso geralmente
cria barreiras. Recomendo que o processo trilhe o caminho da conversa. Depois
de ouvir o que ele pensa sobre Deus, evite de imediato corrigir um conceito
errado apresentado. Opte por conduzir a conversa com cuidado e apresentar a
verdade da Bíblia, sendo você quem constrói a agenda. Isso pode ser feito com
outra pergunta:
“Não
sei se o senhor já leu a Bíblia, mas eu aprendi que ela fala muito sobre Deus e
do que Ele quer que a gente faça. O senhor me permitiria mostrar alguns textos
da Bíblia Sagrada?”.
Se o
idoso for católico, peça para trazer a Bíblia dele, o Novo testamento é o mesmo
que abraçamos nas igrejas evangélicas, e inicie uma apresentação do plano se
salvação. Recomendo a sequência do livro de Romanos: (1) Somos todos pecadores
(Rm 3.10-12); (2) Por causa do pecado fomos separados de Deus (Rm 3.23); (3) O
pecado entrou no mundo e trouxe a morte para todos (Rm 5.12); (4) O pecado
gerou a morte, mas Jesus trouxe a vida (Rm 6.23); (5) Jesus morreu por nós
pecadores (Rm 5.8); (6) O que devemos fazer para ser salvo (Rm 10.9).
Aprendendo
a depender do Espírito Santo
Sempre
devemos lembrar que quem convence a pessoa do seu pecado é o Espírito Santo, e
é através da Sua ação que o crente é habilitado com poder para ser testemunha
de Cristo (At 1.8). É o Espírito Santo que traz a vida para uma pessoa que está
morta em seus pecados (Ef 2.1) e permite que ela passe a desejar a Deus. É o
Espírito de Deus que habilita nossa mente para entendermos as verdades
reveladas nas Escrituras e nos ajuda a colocá-las em prática. Devemos aprender
a depender do Espírito Santo tanto para apresentarmos a verdade do evangelho,
quanto para vermos o poder de Deus atuando e transformando a vida de uma pessoa
idosa.
Na
prática, isso significa que quem deseja evangelizar pessoas idosas ou não, deve
dedicar tempo à oração intercedendo diante de Deus por seu público alvo e por
si mesmo. Um bom evangelista também precisa dedicar tempo para estabelecer seu
ponto de contato e a estratégia a ser utilizada para verbalizar a verdade
salvadora da fé em Jesus, pedir e depender do Espírito Santo que oriente toda a
conversa.
Verônica
Farias, missionária e psicóloga clínica, serve na área do Cuidado Integral do
Missionário (CIM) desde 2006. É membro do conselho deliberativo do CIM
BRASIL-AMTB e integrante da Agência PMI. Doutoranda em ministérios, atua como
professora convidada em diversos cursos de treinamento missionário.
Sergio
Lyra, pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil desde 1980, doutor em
ministério, professor no Seminário Presbiteriano do Norte, coordenador do
Centro de Pós-graduação do Betel Brasileiro e autor de livros na área de
missiologia urbana.
Sem comentários:
Enviar um comentário