Babás
Negras
Presente
em todos os momentos da história do país, a babá negra é uma importante
personagem para entender as relações de desigualdade que perturbam e atrasam o
desenvolvimento do país
O
trabalho de babá (cuidadora) e servidora doméstica é, ainda hoje, uma das
formas mais recorrentes de inserção da mulher negra no mercado de trabalho.
Segundo o IPEA, essas funções são responsáveis pelo emprego de aproximadamente
22% das mulheres de cor negra.
A
quantidade significativa de negras nessa área não é coincidência, mas, sim,
resultado de um processo histórico de formação nacional ligado ao escravismo e
ao funcionamento desse sistema.
As
babás eram conhecidas no período colonial como Amas de Leite. Mulheres
escravizadas eram levadas para amamentar os filhos brancos dos donos de
engenhos e fazendeiros. Muitas vezes, esse trabalho era comercializado para
outras fazendas, o que estafava os seios dessas mulheres e secava suas
glândulas, fazendo com que não sobrasse um único pingo de leite para os próprios
filhos.
Durante
o período da escravidão, a maioria dessas mulheres teve a ingrata missão de
criar os filhos brancos da elite do país, muitas vezes, perdendo seus próprios
filhos, os quais eram vendidos, e ficavam sem ter direito à própria mãe e a uma
infância minimamente decente.
Com a
abolição da escravidão, o mercado de trabalho continuou atribuindo essa função
às mulheres negras, só que, ao invés da senzala, elas foram habitar as
periferias das cidades e passaram a se locomover até a casa do patrão através
dos veículos precários e superlotados do transporte público.
Mudaram
os trapos cedidos pelos senhores de engenho pelo uniforme branco, item com a
função perversa de distinguir sua posição social subalterna em lugares de
prestígio que as elites brancas frequentam, como clubes, haras e praias do
Leblon. Nesses mais de 100 anos do fim legal da escravidão, a mulher negra
continuou criando filhos brancos sem pertencer à família que a emprega,
continuou, por falta de condições, deixando seus filhos nas periferias das
pequenas e grandes cidades para olhar e educar os meninos brancos das áreas
nobres da cidade.
Por
toda essa trajetória, de grande sofrimento e persistência, em condições muitas
vezes humilhantes de trabalho, com o agravante de abdicar de parte da educação
e vida dos filhos para ver crianças de outra cor e origem crescerem, tendo as
oportunidades que seus rebentos nunca terão, é que as babás negras fazem parte
da construção social do nosso país, e merecem toda nossa atenção e o singelo,
mas saudoso adjetivo de guerreiras.
Salve
todas as babás, salve todas as negras!
Sem comentários:
Enviar um comentário