A CURA DE UM LEPROSO
Por Pr.
Silas Figueira
Texto
base: Lucas 5.12-15
Aqui
vemos Jesus tocando um intocável. Os leprosos eram proibidos de viver em
sociedade, devido ao grau de contaminação que a lepra tinha, por causa disso
ele era expulso da sociedade humana; tocá-los, e até aproximar-se deles, era
quebrar a Lei. Mateus narrando esse acontecimento nos diz que “ao descer ele do
monte, grandes multidões o acompanharam” (Mt 8.1). O estado de perplexidade
registrado nos versículos imediatamente precedentes (Mt 7.28,29) justifica o
fato de o povo não ter abandonado Jesus imediatamente, quando o sermão do monte
foi encerrado. Ao descerem do monte, eles continuaram a segui-lo e a cercá-lo,
e é bem provável que tenham se juntado a outros que ainda não o haviam ouvido
falar. Observe o plural: “grandes multidões”. Contudo, exatamente quando e onde
ocorreu esse milagre não é declarado nos Evangelhos, nem mesmo em Marcos 1.40
nem aqui em Lucas 5.12.
A cura
do leproso deve ter acontecido nas cercanias de Cafarnaum ou na própria
Cafarnaum. O texto grego descreve de forma palpável a surpresa causada pelo
imprevisto e terrível aspecto. O enfermo estava lá sem que alguém o tivesse
visto aproximar-se. Com certeza isso era uma surpresa, afinal ele havia transgredido
os preceitos da lei. A expressão grega pleres lepras (cheio de lepra), que pode
ser traduzido por “coberto de lepra de alto a baixo”, é um termo técnico
médico. A lepra já havia atingido o último estágio. Completamente sem
esperança, o infeliz estava entregue à morte. O expulso buscava a Jesus,
provavelmente porque já havia ouvido muito acerca dele, a fim de obter dele
ajuda e cura [1].
Quais
lições podem tirar desse texto para nós hoje?
1 – AS
CONSEQUÊNCIAS DA LEPRA (Lc 5.12).
“Lepra”
se referia a várias doenças de pele, as quais hoje já têm outros nomes e
tratamentos. A maioria delas era contagiosa por isso os doentes deviam ficar
isolados da comunidade e da religião, devido a isso, eles não podiam frequentar
nem sinagogas e nem o templo.
O que é
a lepra – doença de Hansen. Essa doença é causada pela bactéria Mycobacteruim
leprae, descoberto pelo cientista norueguês Gerhard Henrick Armauer Hansen
(1841–1912). É uma doença infecciosa crônica causada por um bacilo que gravita
nos nervos periféricos e nas áreas mais frescas do corpo. A pele, como a região
mais fresca do corpo, é usualmente afetada primeiro e de forma mais relevante
pela lepra. As partes afetadas ficam insensíveis e, devido a isso, muitas
feridas não são tratadas. Suas condições são discutidas em dois extensos
capítulos de Levítico 13 – 14 que parecem um manual antigo de dermatologia. O
termo tsaraath cobre outras doenças de pele além da hanseníase, incluindo
feridas purulenta (Lv 13.18), queimadura (Lv 13,24), coceira, frieira e problema
no couro cabeludo. Naquela época, a lepra abrangia alergias de pele em geral,
das quais os rabinos tinham relacionado 72, tanto de curáveis quanto
incuráveis. [2].
Sabe-se
hoje que a lepra (hanseníase) não é altamente contagiosa, uma vez que 90 a 95
por cento da raça humana está imune a ela. Exatamente como a doença é
transmitida não se sabe ao certo, mas as pessoas que vivem em contato próximo
com pessoas com hanseníase não tratada tinham um risco maior de se infectar.
Lucas,
o médico, descreve em Lc 5.12 esse doente como um homem que estava “cheio de
lepra” (pleres lepras), isto é, que se encontrava no último estágio da doença.
Como médico, Lucas sabia desse caso totalmente sem esperança, marcado pela
morte iminente. Apesar de Jesus ter curado muitos leprosos, apenas dois casos
são mencionados explicitamente no evangelho de Lucas. Esse caso que estamos
analisando e em Lc 17 (a cura dos dez leprosos).
Em
Israel os leprosos eram assunto da mais extrema repulsa. A lepra era a pior
enfermidade em três sentidos:
1) No
aspecto físico: Pústulas esbranquiçadas corroíam a carne, um membro após outro
era atingido e, por fim, até os ossos eram carcomidos. Febre alta com insônia e
pesadelos atormentava terrivelmente o enfermo. Era certo que a doença levava à
morte. Por causa dessa total falta de esperança, o doente era igual a um
cadáver vivo. Se porventura, por uma causa qualquer, acontecia uma cura, essa
equivalia ao reavivamento de um morto.
2) No
aspecto social: Pela natureza altamente contagiante da doença, o enfermo era
isolado de sua família e excluído do convívio com as pessoas, ficando limitado
apenas à companhia de outros infectados, igualmente infelizes. Via de regra os
leprosos viviam em grupos, a certa distância de locais habitados (2Rs 7.3; Lc 17.12).
As pessoas colocavam comida para eles em locais combinados. Quando se
aproximavam, todos fugiam apavorados. Essa mais terrível de todas as
enfermidades era chamada de “tirano de todas as doenças”. Os leprosos andavam
sem cobrir a cabeça, ocultando o queixo. Deviam rasgar suas vestes e tinham a
obrigação de se anunciar quando alguém se aproximava, exclamando: “Impuro,
impuro!”. Ou seja, estou pesteado, envenenado, contagioso, sou um excluído,
fique longe! – Não bastava que o doente tivesse lepra, ainda tinha de anunciar
em voz alta sua condição lastimável (cf. Lv 13.45s). Em gratidão pelo lastimoso
aviso, costumava-se enviar comida para os leprosos até seu lugar solitário.
Contudo, quando o leproso se aproximava de um povoado humano qualquer, era apedrejado
sem escrúpulos.
3) No
aspecto religioso: A lepra tornava a pessoa impura no sentido levítico. A
impureza do leproso superava qualquer tipo de impureza perante a lei. Pois não
apenas tornava impuro tudo o que tocasse, mas a mera presença dele já bastava
para contaminar tudo naquele local, mesmo sem contato físico. “Quando um
leproso entra numa casa, no mesmo instante em que entra nela todos os
utensílios dentro dela ficam impuros, até a viga mais alta”. Como sinal de sua
impureza, “ele deve”, assim exige a lei, “rasgar suas roupas, deixar crescer o
cabelo sem cuidados e ocultar sua barba…” Por causa dessa impureza toda
especial, a lepra também era um motivo pelo qual a esposa podia divorciar-se. O
mais terrível era que a lepra se apresentava como um castigo direto de Deus,
mais precisamente como castigo por difamação (Sl 101.5), orgulho (2Rs 5.1; 2Cr
26.16,19), derramamento de sangue (2Sm 3.29), perjúrio (2Rs 5.23,27), lascívia
(Gn 12.17), etc. Essa era a situação terrível para o leproso, que ele tinha de
considerar-se como alguém amaldiçoado por Deus, deserdado por Deus. Enquanto a
doença durava, persistia sobre ele a sentença condenatória. Como na maioria dos
casos a doença acabava na morte horrível, uma pessoa assim infeliz morria nas
trevas do desespero total, repelido eternamente por Deus, destinado a ir ao
encontro da condenação e do inferno eternos. Ao tormento temporal seguia-se o
tormento eterno [3]. Essa era uma interpretação errada, mas prevalecia naquela
época e perdura na mente de muitos hoje. Se uma pessoa fica enferma e, de
acordo com a enfermidade, ela está sendo castigada por Deus. Os amigos de Jó
pensavam assim e temos muitas pessoas que pensam o mesmo hoje.
2 – A
LEPRA É UM SÍMBLOLO DO PECADO.
Os
milagres que Jesus realizava sempre tinham um paralelo com alguma lição que o
Senhor queria ensinar. As curas e os milagres não eram um fim em si mesmo.
Lucas
nos diz: “E aconteceu que, quando estava numa daquelas cidades, eis que um
homem cheio de lepra, vendo a Jesus, prostrou-se sobre o rosto, e rogou-lhe,
dizendo: Senhor, se quiseres, bem podes limpar-me” (Lc 5.12). Lucas não compôs
as histórias subsequentes em ordem cronológica, mas segundo um critério
determinado. Os relatos do capítulo 5 revelam de forma flagrante essa
peculiaridade.
Esse
milagre da cura desse leproso tem uma ligação direta com milagre da pesca
maravilhosa e o chamado de Pedro para ser discípulo de Cristo. Por causa de sua
pecaminosidade, Pedro pensava que fosse indigno da comunhão com Jesus (Lc 5.8),
assim como a sociedade tem repulsa do estado calamitoso de uma pessoa leprosa,
Pedro, diante de Jesus se sentia assim. Por isso a lepra é um simbolismo do
pecado. No entanto, tanto um quanto o outro o Senhor tem poder para purificar.
A lepra
era um símbolo da ira de Deus contra o pecado. Os rabinos consideravam a lepra
um castigo de Deus. Ela foi infligida por Deus para punir rebelião (Miriã),
mentira (Geazi) e orgulho (Uzias). Mas nem todos que estavam debaixo dessa
enfermidade estavam debaixo da ira de Deus como muitos pensavam.
O
pecado e a lepra – A lepra acomete finas raízes nervosas, o que faz com que a
pessoa passe a não ter mais sensibilidade naquela região do corpo que está
afetada. É o que o pecado faz com aqueles que dele estão cativos: se tornam
insensíveis à verdade, parecem cauterizados, não sentem mais a presença de
Deus. O pecado (lepra espiritual), deixa marcas espirituais terríveis, gerando
separação entre a pessoa e Deus, por isso Jesus veio para nos curar das marcas
deixadas pela lepra do pecado.
O pecado
é a falta de conformidade com a lei de Deus, em estado, disposição ou conduta.
Romanos 6.23 nos diz: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito
de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor”.
A lepra
era um símbolo do pecado e como tal, possui várias características:
Em
primeiro lugar, a lepra é mais profunda que a pele (Lv 13.3). A lepra não era
apenas uma doença dermatológica. Ela não ataca meramente a pele, mas, também, o
sangue, a carne e os ossos, até o paciente começar a perder as extremidades do
corpo.
Semelhantemente,
o pecado não é algo superficial. Ele procede do coração e contamina todo o
corpo. O homem está em estado de depravação total, ou seja, todos os seus
sentidos e faculdades foram afetados pelo pecado. O pecado atinge a mente, o
coração e a vontade. Ele atinge os pensamentos, as palavras, os desejos, a
consciência e a alma.
Em
segundo lugar, a lepra separa. Além do sofrimento infligido por tal doença, a
pessoa deveria ficar isolada da comunidade.
Assim é
o pecado. Ele separa o homem de Deus (Is 59.2), do próximo (ódio, mágoas e
ressentimentos) e de si mesmo (complexos, culpa e achatada autoestima).
Em
terceiro lugar, a lepra insensibiliza. A área afetada perdia completamente a
sensibilidade. De forma semelhante, o pecado anestesia e calcifica o coração,
cauteriza a consciência e mortifica a alma. Como a lepra, o pecado é
progressivo.
Em
quarto lugar, a lepra deixa marcas. A lepra degenera, deforma, deixa terríveis
marcas e cicatrizes. Quando a lepra atinge seu último estágio, o doente começa
a perder os dedos, o nariz, os lábios, as orelhas. A lepra atinge os olhos, os
ouvidos e os sentidos.
O
pecado também deixa marcas no corpo (doenças), na alma (culpa, medo), na
família (divórcio, violência).
Em
quinto lugar, a lepra contamina. A lepra é contagiosa, ela se espalha. O
leproso precisava ser isolado, do contrário ele transmitiria a doença para
outras pessoas.
O
pecado também é contagioso. Um pouco de fermento leveda toda a massa (1Co 5.6).
Uma maçã podre num cesto apodrece as outras. Davi nos ensina a não andarmos no
conselho dos ímpios, a não nos determos no caminho dos pecadores nem nos
assentarmos na roda dos escarnecedores (Sl 1.1).
Em
sexto lugar, a lepra deixa a pessoa impura. A lepra era uma doença física e
social. Ela deixava o doente impuro. O leproso era banido do lar, da cidade, do
templo, da sinagoga, do culto. Ele deveria carregar um sino no pescoço e gritar
sempre que alguém se aproximasse: Imundo! Imundo!
O
pecado também deixa o homem impuro. A nossa justiça aos olhos de Deus não passa
de trapos de imundícia (Is 64.6). Nós somos como o imundo.
Em
sétimo lugar, a lepra mata. A lepra era uma doença que ia deformando e
destruindo as pessoas aos poucos. Elas iam perdendo os membros do corpo, ficando
chagadas, malcheirosas e acabavam morrendo na total solidão. Um leproso era
como um morto-vivo.
O
pecado mata. O salário do pecado é a morte (Rm 6.23). O pecado é o pior de
todos os males. Ele é pior que a lepra. A lepra só atinge alguns, o pecado atingiu
a todos; a lepra só destrói o corpo, o pecado destrói o corpo e a alma; a lepra
não pode separar o homem de Deus, mas o pecado o separa de Deus no tempo e na
eternidade [4].
A
grande crise da “lepra espiritual” é que muitas pessoas tentam escondê-la com
maquiagem das boas obras. Alguns leprosos espirituais estão totalmente
desfigurados e, devido a isso, nós facilmente os identificamos. No entanto,
algumas dessas deformidades espirituais não estão à vista de todos. Por isso é
mais fácil escondê-las. Talvez você esconda dos seus familiares e amigos mais
íntimos, mas aos olhos de Deus “não há criatura alguma encoberta diante dele;
antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de
tratar” (Hb 4.13).
O
problema não é termos um problema, mas não admitirmos que temos um problema. É
olharmos para os outros e fazermos comparações quando deveríamos olhar para nós
mesmos e nos vermos tal qual o outro é. Um bom exemplo disso é a parábola do
fariseu e do publicano que nos fala de “uns que confiavam em si mesmos, crendo
que eram justos, e desprezavam os outros” (Lc 18.9-17).
3 – O
LEPROSO SE APROXIMA DE JESUS CRENDO NO MILAGRE (Lc 5.12).
Esse
milagre nos ensina que jamais devemos perder a esperança. Por maior que seja
nosso problema, por mais grave que seja a circunstância, por mais tenebrosos
que sejam nossos sentimentos, Jesus pode reverter a situação [5].
Vamos
analisar como este homem se aproxima de Jesus, mesmo correndo risco de ser
apedrejado pela multidão.
1º) Ele
se aproxima de forma humilde. Lucas nos diz que esse homem “prostrou-se sobre o
rosto, e rogou-lhe, dizendo: Senhor, se quiseres, bem podes limpar-me” (Lc
5.12). Ele suportou a sua doença por muitos anos, pois a evolução da lepra se
dá de forma lenta e progressiva. Aquele homem tinha tudo para ficar lamentando
a sua má sorte, reclamando, blasfemando contra o céu e contra Deus.
É
perfeitamente normal que pessoas passando por dificuldades enormes, como aquela
enfermidade, tenham questionamentos que não são facilmente respondidos. Quem,
em uma situação parecida, não se perguntaria, “por que eu?” Porém, Mesmo que
não compreendesse os motivos de estar vivendo toda aquela tragédia, ele
escolheu agir.
Não
ficou se lamentando, nem com pena de si mesmo! Mas tomou a iniciativa, e partiu
para um encontro com o seu Criador. Ninguém teria as respostas para as suas
dores, a não ser aquele que tudo sabe e que tudo conhece.
Quando
ele se aproxima de Jesus ele não faz como muitos tem feito hoje: “EU
DETERMINO”, “EU TOMO POSSE”, “EU REIVINDICO” A CURA. Ele simplesmente se
humilha perante o Todo Poderoso e lhe implora a bênção.
2º) Ele
reconhece a deidade de Jesus e o adora. Mateus nos diz: “E, eis que veio um
leproso, e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo” (Mt
8.2).
Mateus,
Marcos e Lucas, são unânimes em registrar que o homem acometido de lepra
aproximou-se de Jesus, curvando-se, em uma atitude de humildade e adoração.
Ele
reconheceu que Jesus era Deus, e que tinha poder para curá-lo. Ele não chegou a
Deus, cheio de exigência, mas demonstrou reverência e obediência, sabendo da
grandeza daquele que diante dele estava.
O
leproso não se dirigiu a Jesus com questionamentos, do tipo, “por que eu?”,
“por que estou passando por isso?”, “eu não merecia tamanho sofrimento…”,
“sempre fui tão bonzinho…”.
3º)
Roga por misericórdia reconhecendo o poder curador de Jesus. Lucas nos diz que
esse homem “prostrou-se sobre o rosto, e rogou-lhe, dizendo: Senhor, se
quiseres, bem podes limpar-me” (Lc 5.12).
Em um
aparente contrassenso, nem mesmo pela sua cura ele pediu. A frase “se quiseres,
podes tornar-me limpo”, constitui-se muito mais na expressão do desejo de ser
perdoado, do que de ter uma enfermidade física curada.
A
palavra “limpo”, no original em Hebraico, é טָהוֹר
“tahor”, que possui uma ligação muito forte com o conceito de pureza
espiritual. Os Judeus acreditavam que a lepra estava intimamente ligada com a
prática de pecado. Aquele homem pede que o Senhor o purifique de seus pecados.
4 –
JESUS SE COMPADECE DO LEPROSO (Lc 5.13).
Ao
contrário da população que expulsava e até apedrejava uma pessoa leprosa, Jesus
não expulsa aquele impuro e nem o apedreja. Jesus faz o que outros não fariam,
Jesus lhe dá atenção.
1)
Jesus olha com misericórdia para este homem. Marcos narra assim: “E Jesus,
movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê
limpo” (Mc 1.41). Jesus não considerava ninguém indigno, fosse ele leproso, ou
cego, surdo, paralítico, etc. Ele veio ao mundo para ajudar, curar e salvar. O
julgamento duro e grosseiro daqueles que relacionavam as aflições físicas
individuais com os pecados individuais da pessoa afligida – como, por exemplo,
um leproso físico, teria de ser também um leproso moral –, foi condenado por
Jesus em termos muito claros (Lc 13.1-5; Jo 9.1-7) [6].
2)
Jesus estende a mão e o abraça (Lc 5.13). “E Ele, estendendo a mão, tocou-lhe”.
Os relatos dos três evangelistas coincidem textualmente em um detalhe que deve
ter causado uma impressão muito viva nas testemunhas e foi preservado de forma
literal: Ele estendeu a mão e o abraçou. A natureza contagiosa da lepra era de
conhecimento geral. Pela lei, o contato com o leproso tornava a pessoa impura.
Jesus, porém, não apenas tocou no leproso, mas o abraçou firmemente com a mão,
pois a palavra que Almeida traduziu com “tocar” significa cingir, envolver e
abraçar (Mc 10.13,16; 1Jo 5.18) [7].
3)
Jesus determina a cura (Lc 5.13). “E ele, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo:
Quero, sê limpo. E logo a lepra desapareceu dele”. Os espectadores podem ter
imaginado horrorizados que, neste toque, o puro ficou impuro. Entretanto, o
puro purificou o impuro e o envolveu na imensa bondade de Deus. “Já nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1).
O puro
toca o impuro sem ficar contaminado pela impureza. A cura não foi a crediário,
em doses homeopáticas, mas instantânea, imediata e eficaz. A pele do homem foi
completamente regenerada. Sua carne ficou sã. Suas cartilagens carcomidas pela
doença retornaram ao estado original. Tudo se fez novo no corpo daquele homem
já sentenciado à morte [8].
5 – A
ABRANGÊNCIA DA CURA (Lc 5.14).
O que
ocorreu com esse homem foi muito mais que uma cura física. Ela abrangeu áreas
muito mais profundas em sua vida. Podemos destacar três áreas em que este homem
foi curado.
1) A
primeira cura foi a física. Como já comentamos, a lepra era uma doença
incurável e com forte componente de segregação. Um leproso não podia viver em
família nem em sociedade. Estava sentenciado a morrer só ou entre outros
leprosos. Seu corpo ia aos poucos apodrecendo com um mau cheiro insuportável.
Mas mediante a misericórdia do Senhor este homem alcançou a cura de todos esses
males. Ele foi restaurado à sociedade. Restaurado a sua família. Aos seus entes
queridos.
2) A
segunda cura foi a emocional. Quando Jesus abraçou aquele homem estava lhe
mostrando que ele tinha valor e dignidade. Apesar da horrenda imagem diante de
Jesus e daquela multidão, Jesus o acolhe e lhe dá aquilo que a muito tempo ele
não tinha, atenção e um abraço fraterno. Mais que uma cura física, aquele homem
recebe a cura para sua alma sofrida pelo abandono. A compaixão de Jesus lhe
restaurou a vida física e emocional.
3) A
terceira cura foi a espiritual. “E logo ficou purificado da lepra” (Mt 8.3).
Quando Jesus tocou o leproso, contraiu a contaminação dele, mas também
transmitiu sua saúde! Não foi exatamente isso o que fez por nós na cruz, quando
se fez pecado por nós? “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós;
para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5.21).
No
momento em que recebemos o Senhor Jesus os nossos pecados são perdoados e
alcançamos vida eterna. Nossa alma é restaurada. Passamos a ter comunhão plena
com o nosso Deus. Saímos da morte para a vida (Ef 2.1-8). Em Isaías lemos
também:
“Verdadeiramente
ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e
nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido
por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados” (Isaías 53.4,5).
6 – UM
TESTEMUNHO EFICAZ (Lc 5.14).
Jesus
lhe dá uma ordem expressa: “Mas vai, disse, mostra-te ao sacerdote, e oferece
pela tua purificação, o que Moisés determinou para que lhes sirva de
testemunho”.
Aquele
que lhe disse que você não podia mais viver em sociedade será o que irá lhe
liberar para retornar ao sua vida social, familiar e religiosa.
Após o
exame e a comprovação da cura tinha que se oferecer um sacrifício no templo em
Jerusalém (Lv 14.10,21s). Por isso Jesus acrescenta: e oferece pela tua
purificação o que Moisés determinou.
O homem
curado não se calou diante do ocorrido com ele, apesar de Jesus ter-lhe
ordenado que não contasse a ninguém, como lemos em Marcos 1.44,45: “E
disse-lhe: “Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote,
e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de
testemunho. Mas, tendo ele saído, começou a apregoar muitas coisas, e a
divulgar o que acontecera; de sorte que Jesus já não podia entrar publicamente
na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todas as partes iam
ter com ele”
Aquele
homem não se conteve diante do ocorrido com ele. Isso é uma grande lição para
nós, pois muitas vezes nos calamos quando deveríamos falar para o mundo o que
Jesus tem feito por nós.
Diante
desse acontecido a fama de Jesus correu ainda mais. Mas mesmo diante de tanta fama,
Jesus se retirava para os desertos, e ali orava (Lc 5.16). Jesus não permitiu
que a fama e as necessidades das pessoas tirassem dele a comunhão com o Pai.
Isso também é um grande exemplo para nós. Muitas vezes nos tornamos escravos do
trabalho e, por consequência, escravos deste mundo quando não oramos, quando
não temos horas de solidão com Deus, quando não levamos uma vida de oração como
Jesus.
CONCLUSÃO
A
história desse pobre homem tem sido a história de muitas pessoas hoje. Quantas
pessoas estão doentes emocionalmente, fisicamente e pior, espiritualmente. Como
já falamos, o pecado é pior que a lepra, pois enquanto uma nos afasta das
pessoas, o pecado nos afasta de Deus e nos leva para o inferno.
Há
muitas pessoas buscando a cura física, mas não se veem doentes pelo pecado. A
lepra espiritual não lhes permite sentir em suas almas a ausência de Deus e o
quanto Ele é o único que pode lhes dar a salvação mediante o sacrifício de
Jesus na cruz.
Pense
nisso!
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