O maior
hino da língua inglesa: "Ao contemplar a Tua cruz"
Alguns
alunos do Instituto Bíblico Moody, em Chicago, EUA, participavam de uma reunião
missionária. Uma mulher, que assistia, solicitou à dirigente que cantassem o
hino "When I Survey The Wondrous Cross" (Ao contemplar a Tua cruz), o
famoso hino de Isaac Watts. O hino foi entoado pelo auditório inclusive por
quem o solicitara, palavra por palavra. Atenta ao fato, a evangelista,
terminada a reunião, procurou a visitante e perguntou-lhe desde quando conhecia
esse cântico. Respondeu-lhe a mulher: “Era o hino preferido de minha professora
da Escola Dominical. Antes de falecer, pediu que suas alunas, entre as quais me
contava, se reunissem para cantá-lo. Assim fizemos. Que vívida lembrança!...”.
Ao
contemplar a Tua cruz
E o que
sofreste ali, Senhor,
Sei que
não há, ó meu Jesus,
Um bem
maior que teu amor...
Passados
alguns instantes de silêncio, com lágrimas nos olhos, narrou sua vida: era
irlandesa, deixara a casa paterna, correra mundo como atriz e, no momento não
estava vivendo dignamente. O velho hino, que solicitara, tantas vezes ouvido na
infância e adolescência, reconduzira-a a esses tempos longínquos e crê a
evangelista, através dele, entregou a Cristo o seu coração.
A
estudante do Instituto Bíblico Moody que viveu esta experiência, considerou-a a
mais impressionante de sua vida, foi Miss Elizabeth Date Davis, de Carslisle,
Inglaterra.
Dedicou-se
a evangelização em 1913 e durante um ano estudou nesse instituto, voltando
depois ao seu país natal onde trabalhou na obra missionária em Barnsley,
Londres e outras localidades. No Instituto Metodista de Diaconisas realizou
obra relevante, bem como atuou eficientemente na Sociedade pró-temperança e na
assistência às crianças desvalidas. Aos vinte três de fevereiro de 1933, o rei
Jorge V, da Inglaterra, em cerimônia realizada em Londres, no Palácio de
Buckinghan, conferiu-lhe elevada honra de Membro da Ordem do Império Britânico,
por sua vida de dedicação ao próximo.
Declarou
ela certa vez: – “Creio na direção divina; sinto-a em minha vida a guiar-me os
passos”.
Isaac
Watts, autor de aproximadamente seiscentos hinos, entre os quais When I survey
the Wondrous Cross (inspirado em Gl 6.14) foi cognominado o “pai da hinologia
inglesa”. Nascido aos 17 de julho de 1674, o mais velho de nove irmãos, era
filho de um respeitável diácono não-conformista, independente ou dissidente,
que esteve preso por duas vezes por suas convicções religiosas. A mãe descendia
de valorosos franceses huguenotes que deixaram a França pela Inglaterra pouco
depois do massacre de São Bartolomeu, ocorrido em 1572. Foi acalentado nos
degraus da prisão, onde se encontrava seu pai, durante as visitas que a jovem
mãe fazia ao seu marido, e enquanto aguardava poder falar-lhe através das grades.
Converteu-se
aos quatorze anos. Aos dezesseis estava preparado para ingressar na
Universidade, e amigos dos pais propuseram pagar-lhes os estudos universitários
se concordasse em tornar-se ministro da Igreja da Inglaterra. Recusou. Pelo
“Ato da Uniformidade”, aos não-conformistas era vedado o acesso às
Universidades – Oxford e Cambridge – recebendo a educação superior nas
Academias, onde a maior parte dos professores era de nível universitário. O
propósito era dar aos alunos quatro anos de estudos, que normalmente se faziam
na Universidade, e prepara-lo pelo ministério.
Aos
dezoito anos, irritado com os hinos rudes e desafinados cantados nas reuniões
não-conformistas, queixou-se ao pai que não possuíam a beleza e a dignidade
devidas a um culto cristão. O pai, nada indulgente, respondeu-lhe que fizesse
melhor, se fosse capaz.
Tanto
bastou para que se lançasse à produção de hinos, apresentando o primeiro no
domingo seguinte. Incentivado prosseguiu. De 1907 a 1909 escreveu muitos, em
parte publicados em Himns and Spiritual Songs, primeiro hinário inglês
verdadeiramente valioso nele se encontra When Survey The Wondrous Cross,
produzido em 1707 e considerado, pelo severo crítico literário Matthews Arnold
que viveu no se. XIX o maior hino da língua inglesa; assim também o reputou
Stanley Jones, autoridade inglesa contemporânea.
A ideia
de hinos baseados nas Escrituras para os cultos bíblicos, ao lado dos Salmos,
não era nova. Os alemães os usavam desde Lutero. Entretanto, no período em que
a Inglaterra foi principalmente influenciada pelos Puritanos, os hinos foram
desprezados. Quando Carlos II subiu ao trono, houve uma natural reação contra
os Puritanos, de sorte que a contribuição de Watts ocorreu em momento propício.
Afirmou
ele que a nova Dispensação precisava de hinos cristocêntricos, e disse: – “não
pretendo ser um poeta, mas, ao cordeiro que foi imolado e agora vive, escrevi
vários hinos para serem cantados pelas almas redimidas”. E acrescentou: – “Ao
contemplar a cruz de Cristo, o verdadeiro crente, sente-se despojado de todo e
qualquer orgulho – de família, raça, nacionalidade, posição social, educação,
cultura, tudo – para só enxergar o amor divino nela expresso que a todos une e
iguala na mesma graça da redenção”.
“Ao
contemplar a Tua cruz” é uma adaptação portuguesa do Rev. Manoel da Silveira
Porto Filho, o muito conhecido e inspirado autor e tradutor de hinos
evangélicos. Data de 1961. Pode ser encontrado em Salmos e Hinos com Músicas
Sacras (Ed. 1975) nº 109.
Embora
cantado com diferentes músicas, peculiares á várias épocas, a que melhor
corresponde ao espírito do hino é o arranjo intitulado Hamburg, preparado por
Lowell Mason (1972-1872).
Ao
contemplar a tua cruz
E o que
sofrestes ali Senhor
Sei que
não há, ó meu Jesus.
Um bem
maior que o teu amor.
Não me
desejo gloriar
Em nada
mais senão em ti
Pois
que morreste em meu lugar.
Teu
sempre teu, serei aqui.
De tua
fronte, mãos e pés.
De teu
ferido coração.
Teu
sangue em dores tão cruéis,
Deste
por minha redenção.
Ao
contemplar a tua cruz,
O teu sofre,
o teu penar,
Quão
leve sinto, ó meu Jesus,
A que
em meus ombros vem pesar!
Tudo
que eu possa consagrar
Ao teu
serviço, ao teu louvor.
Em nada
poderei pagar
Ao que
me dás em teu amor!
[Adaptado
por Ariane Gomes].
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Texto publicado originalmente na edição 152, em 1984, da revista Ultimato.
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Henriqueta Rosa Fernandes Braga (1909-1982) foi musicista, professora e
musicóloga. Recebeu o primeiro diploma universitário de música conferido no
Brasil.
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