A Música Sacra e a Visão Teológica 19ª.Parte
por Abner Ferreira
O pastor A. W. Tozer costumava dizer:
“Os cristãos não contam mentiras. Eles vão à igreja para cantá-las”. E essa tem
sido uma triste realidade dos dias atuais, em que a música sacra vem sendo
corrompida por uma visão teológica distorcida.
Parece incoerente essa afirmação, de
que a música cristã também possui – ou deveria possuir – uma vertente
teológica, mas é um fator fundamental que tem sido esquecido por muitas
igrejas.
Com a intensão de tornar-se
contemporânea, a igreja acabada abrindo espaço para disparidades em sua cosmovisão
sacrossanta, afastando-se dos ideais bíblicos.
Antes de qualquer coisa, devo afirmar
que não sou saudosista ao extremo. Aliás, nenhum extremismo é louvável, o
cristão precisa ser moderado. Mas tenho minha predileção por louvores
clássicos.
No entanto, a questão aqui não tem
relação com o gosto ou predileção por determinado louvor, mas com a necessidade
do embasamento bíblico naquilo que se canta. Já que, sendo sacra, a música
cristã deve promover valores doutrinários.
Afinal, a música é um poderoso veículo
de comunicação e proclamação do Evangelho. Foi através da música que Martinho
Lutero conseguiu eficácia na divulgação das doutrinas da Reforma Protestante.
Sem valores doutrinários embasados na
Bíblia, a música não pode ser sacra, perde a santidade em sua essência,
tornando-se apenas artística, musical, sem valor para o Reino de Deus.
Em Salmos 40.3, Davi afirma que a
origem da música é divina. Ninguém melhor do que ele para nos transmitir tão
grandioso ensinamento.
Já o que temos visto em nossos dias,
muito longe da devida inspiração de Deus, são canções egocêntricas, sem virtude
espiritual e completamente distante daquilo que a Bíblia ensina. O que torna
essas canções hereges por definição.
Os cânticos atuais estão sendo
desvirtuados para um eixo muito perigoso. Se antes o centro era Jesus Cristo,
atualmente o centro tem sido as pessoas. Hinos – se é que podemos chamar assim
– que parecem inspirados em autoajuda.
Sem falar no abuso de uma linguagem
de autocomiseração, focada nas frustrações e anseios pessoais, deixando de lado
a glória de Deus e a beleza da santidade divina, quando a Palavra ensina que
devemos celebrar a Ele com alegria (Salmos 100.1,2).
Infelizmente, as canções de hoje
parecem que foram escritas por conselheiros amorosos tratando a autoestima de
alguém. Elas estão baseadas única e exclusivamente no “eu”, quando deveriam
exaltar a Deus.
Esse é um fundamento bíblico
indispensável: Deus em primeiro lugar. As canções precisam exaltar o Criador e
não a criatura. A adoração deve ser o centro de tudo o que é cantado na Igreja.
Essa música não envelhece, não se
torna ultrapassada, mas é sempre “um cântico novo” (Salmos 40.3), que se renova
a cada dia, passe o tempo que passar.
Também tenho percebido a ausência da
inspiração poética nos cânticos atuais, com letras com uma linguagem pobre e
nenhuma inspiração divina.
O salmista diz: “Com o coração
vibrando de boas palavras recito os meus versos em honra do Rei; seja a minha
língua como a pena de um hábil escritor” (Salmos 45.1).
Além disso, a música cristã sempre
tem como base a plenitude da Palavra de Deus (Colossenses 3.26), jamais deve se
utilizar de ideais humanos ou conceitos que divergem daquilo que Bíblia nos
instrui.
O sentido de adoração deve ser
expresso através das canções, o que significa dizer que ela precisa expressar
admiração, respeito, reverência e veneração. Foi para isso que fomos criados,
segundo aprendemos em Antropologia.
É preciso avaliar aquilo que está
sendo cantado, discernir sobre como esse ou aquele louvor pode ser edificante
ou não. Como bem disse Paulo, é preciso cantar “com espírito, mas também
[cantar] com o entendimento” (1 Coríntios 14.15).
Lembre-se que a adoração profana
também diz respeito ao culto a nossas qualidades. Satanás tentou enganar o
primeiro homem e a primeira mulher afirmando que eles poderiam ser iguais a
Deus.
A outra estratégia é utilizar nossa
admiração por pessoas, à influência que outras pessoas podem ter sobre nós pode
nos levar a adoração profana.
Adão não foi enganado pela serpente
no Éden, mas Eva sendo enganada influenciou o primeiro homem ao pecado.
Como ele se deixou arrebatar por Eva,
esqueceu-se do Criador e comeu o fruto proibido (1 Timóteo 2.14).
O foco humanista da adoração, visando
sempre o benefício da criatura, corrobora para o abuso de promessas de vitória
imediata, contrário ao que a Bíblia ensina.
Ela diz: “Alegrai-vos na esperança,
sede pacientes na tribulação, perseverai na oração” (Romanos 12.12).
Concluo, portanto, alertando para que
a contemporaneidade não sirva de desculpa para a degradação doutrinária e
teológica das canções, que estejamos sempre vigilantes.
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