O que é
preciso saber sobre os velhos
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by ultimato
Viver
com Deus é participar de sua eternidade; quem tem um pé no infinito pode
aceitar sua finitude. Esse passo decisivo, esse nascer para a vida eterna,
podemos dar antes da velhice e da proximidade da morte (Paul Tournier).
John
Cox, ex-secretário-geral da Associação Mundial de Psiquiatria, recomendou a
leitura de É Preciso Saber Envelhecer, do médico suíço Paul Tournier, que
fundou em 1947 o Grupo Internacional de Medicina da Pessoa, por “sua capacidade
de expressar verdades existenciais complexas e de estimular a fé”. Tournier —
que morreu em 1986 aos 88 anos, quase três anos acima da atual maior
expectativa de vida (85,9) — escreveu que o livro é dirigido não apenas aos
aposentados, mas “principalmente aos que estão na plenitude de suas vidas”.
O que o
jovem deve saber a respeito do velho
Uma
civilização que despreza seus velhos é inumana (65).
Há uma
cumplicidade universal pela qual cada indivíduo é responsável: seja o jovem,
que não respeita o velho, ou o velho, que não admite o jovem (65).
Amar uma
criança ou um velho é amá-los pelo que são e não pelo que fazem (73).
Já nos
ensinaram a amar melhor as crianças, a nos interessar por elas. Agora é preciso
aprender a amar os velhos (74).
Uma
intimidade harmoniosa entre avós e netos pode vir a ser um tesouro
incomparável, um benefício para ambos (79).
Todas
as faixas etárias têm profunda necessidade umas das outras. O desenvolvimento
individual fica travado, se não se mantém um contato vívido com todas as demais
faixas etárias. Os velhos precisam dos adolescentes e das crianças; precisam se
sentir amados por uns e outros (81).
A
sexualidade já não é preponderante no amor dos casais idosos, mas também não
termina de forma tão geral e precoce como a maioria das pessoas acredita (107).
Para a
integração dos idosos em nosso mundo atual é preciso que haja uma mudança tanto
pessoal como social. Todo idoso precisa ter condições de, na medida do
possível, levar uma vida feliz, interessante e útil no seio da sociedade e,
assim, reencontrar nela o seu lugar (137).
Entre
os sofrimentos dos velhos há alguns que são provocados pelos homens: seus
preconceitos, sua falta de amor, seu desprezo, a organização da sociedade e a
sua iniquidade (195).
O que o
velho deve saber a respeito de si mesmo
Há dois
momentos fundamentais na vida: a passagem da infância para a idade adulta e a
passagem da idade adulta para a velhice (18).
Para
ter uma boa velhice é preciso começar a prepará-la cedo, e não retardá-la o
mais possível. Na metade da vida se terá de começar a refletir e a organizar a
existência com vistas a um futuro ainda distante, em vez de se deixar levar
integralmente pelo torvelinho profissional e social (21).
Os
velhos não vivem a plenos pulmões. Vivem à surdina, como devedores de sua vida
inútil diante dos que geram prosperidade; já não participam ativamente, apenas
esperam a morte chegar (63).
A
rotina envelhece o indivíduo e o envelhecimento precoce o leva à rotina (178).
Não
podemos dominar a velhice senão por meio da obediência a ela (196).
A maioria
dos velhos mal-humorados, que não suportam o declínio, também não suportou a
vida ativa anterior à aposentadoria (197).
Não é
fácil aceitar a velhice e ninguém o consegue na primeira tentativa, sem superar
o desprezo espontâneo (204).
O
envelhecimento começa desde a mais tenra idade e progride de modo muito
desigual, conforme a constituição física e a pessoa, mas inexorável (205).
Há
alguns anos eu fazia coisas que hoje não posso e não devo fazer; por outro
lado, hoje faço coisas que dentro de alguns anos já não poderei fazer. Sim, na
velhice há diminuições, há um “menos’” (212).
Se a
aposentadoria anuncia a velhice, esta anuncia a morte (236).
Texto originalmente publicado na edição 356 de Ultimato
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