Você realmente sabe o que é o Foro de São Paulo?
Na década de 2010, o Foro de São Paulo passou a ser
mais conhecido do público geral e a partir das jornadas de 2013, quando sua
existência e métodos de ação começam a ficar cada vez mais visíveis ao Brasil profundo.
Isto por si já foi uma grande vitória, afinal, o Foro de São Paulo fora
“esquecido” pela imprensa brasileira e pelo jornalismo de maneira proposital,
como tantas vezes denunciou o próprio professor Olavo de Carvalho.
Nas eleições de 2016 e de 2018 no Brasil, ouvia-se
falar constantemente sobre o Foro de São Paulo nos debates das redes sociais.
Com o aumento do interesse do público em geral pelo tema, voltava à tona uma
série de mentiras sistemáticas promovidas pela mídia por mais de 15 anos, seguindo
um roteiro conhecido:
Passo 1: O Foro de São Paulo não existe, isto é
teoria da conspiração.
Passo 2: O Foro de São Paulo não é nada do que
dizem, é somente uma reunião de velhinhos saudosistas das ideias socialistas da
época da Guerra Fria.
Passo 3: O Foro de São Paulo existe, mas ele não é
uma ameaça à democracia, é somente um fórum de debates de ideias da esquerda.
Passo 4: O grande problema do Foro de São Paulo é
que ele existe, mas não com o poder que lhe é conferido, é tão-somente
utilizado como uma ferramenta de discurso político eleitoral, tornando este
grupo em uma ferramenta a ser explorada pela direita em todo o continente.
Percebe como através da manipulação da linguagem o
Foro de São Paulo foi de teoria da conspiração à vítima de uma direita-conservadora-radical-reacionária
e, através dos meios de mídia suas ideias protegidas pela espiral do silêncio?
Se qualquer personagem político passa a falar sobre o Foro de São Paulo, é
automaticamente elevado a posição de perseguidor antidemocrático e exposto à
ridicularização pública como teórico da conspiração. Esta estratégia não é
nova, mas já praticada de maneira sistemática pela Tcheka soviética de Lênin,
onde os elementos da contrapropaganda foram moldados para combater as técnicas
de persuasão dos contra-revolucionários. São elas: desmontar a propaganda
alheia e atacar os seus pontos isolados concentrando poder nas partes fracas;
nunca atacar perpendicularmente quando o argumento contrário for forte; deixar
de lado a racionalidade e mirar o lado pessoal do rival, como escândalos,
intrigas e boatos; ridicularizar o adversário colocando sua publicidade em
contradição com a realidade; e por último, impedir que a propaganda inimiga
fique em evidência.
Por outro lado, existe o problema da simplificação,
que acabou transformando o Foro de São Paulo em um espantalho dialético nos
meios da direita e conservadores, gerando uma confusão de sua real essência e
finalidade, por vezes favorecendo o trabalho de agentes revolucionários em
transformar os denunciantes em teóricos da conspiração, nos meios de
comunicação e da opinião pública. Outro problema gerado por esta simplificação,
é atribuir ao Foro de São Paulo facetas que não são propriamente suas. A mais
comum nos últimos tempos é dizer que o Grupo de Puebla é o Foro de São Paulo
com um novo nome.
Os agentes revolucionários, ao longo das últimas
décadas, criaram diversas organizações e grupos em nosso continente, como o
mencionado Grupo de Puebla, Grupo de Marbela, CELAC, Conferência
Tricontinental, OLAS etc.; cada um com um objetivo específico, que naturalmente
compartilham, por vezes, os mesmos membros entre si, o que nos leva a estas
confusões e simplificações. Estas organizações são em sua maioria “sucursais”
do Foro de São Paulo, outras são tomadas “por dentro” e passam a trabalhar em
favor da organização principal.
O Foro de São Paulo é o principal meio de ações da
esquerda latino-americana em mais de 30 anos. O próprio Presidente Lula
declarou no aniversário de quinze anos do foro de São Paulo, no ano de 2005,
que o FSP fora determinante para que a esquerda chegasse ao poder em todo o
continente. Para além do discurso, temos o caso de 2008 onde, após a morte de
Raul Reyes (número dois das FARC), Hugo Chávez declarou que o conhecera junto
de Lula em uma reunião do Foro de São Paulo em El Salvador no ano de 1995,
mesma época que o venezuelano passou a ser apadrinhado por Fidel Castro. Nesta
época as FARC já eram conhecidas pelo seu envolvimento com o tráfico
internacional de drogas e sequestros em níveis quase industriais.
Os partidos revolucionários que compõe o FSP, mais
necessariamente os comunistas e socialistas, enxergam a política como uma
extensão da guerra revolucionária, onde cada um faz parte de uma unidade
supranacional que devem cooperar mutuamente para a tomada do poder. Em geral,
seus adversários não devem ser tão-somente derrotados eleitoralmente, mas
precisam ser eliminados do debate público e, se os meios forem propícios, devem
ser expurgados da existência. Exemplos não faltam como Cuba, Nicarágua,
Venezuela, Bolívia e Argentina.
Paulo Henrique Araújo
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