Um
movimento conservador no Brasil? — Parte II
Heitor De Paola, 1 dia atrás 0 307
Publicado
em 09 de janeiro de 2011, Jornal Inconfidência, Belo Horizonte, MG
Um povo
que pede à liberdade mais do que ela mesma, nasceu para ser escravo — Alexis de
Tocqueville, O Antigo Regime e a Revolução
Os
trabalhadores argentinos nasceram animais de rebanho, e morrerão como tais.
Para governá-los basta dar-lhes comida, trabalho e leis para rebanhos que eles
se manterão na fila para o abate — Juán Domingo Perón
Terminei
o último artigo afirmando que ‘os brasileiros não têm experiência, e
conseqüentemente noção, do verdadeiro significado de liberdade individual,
vivendo desde sempre sob o tacão português e depois de governos autoritários,
iludidos por uma falsa sensação de proteção’.
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Se o
povo não tem experiência de liberdade, mas de viver como um rebanho acreditando
que a limitada liberdade e autonomia de que goza são dádivas concedidas pelos
governantes — os quais, se as dão, podem retirá-las a qualquer momento — um
movimento conservador no Brasil conservará o quê? A noção de ser gado de rebanho
troteando a chicotadas dos estancieiros (ontem de Lisboa, hoje de Brasília) que
reconhecem como seus donos? Sempre
gritando por liberdade, mas esperando realmente alguma migalha de forragem que
lhes caiba como sobra da farra dos governantes? Que aceita o despautério de
reajustes milionários mirabolantes auto-concedidos pela classe governante — dos
três poderes — babando de prazer com as migalhas que lhes concedem em nome de
um salário de fome chamado mínimo?
Mas
aqui esta não é uma Nova Classe, é a velha classe dominante comemorada com
júbilo por uma história contada pelos colonizadores.
Comemora-se
com entusiasmo a vinda para cá de um reizinho fujão — o único rei europeu que
não liderou seu povo contras as tropas napoleônicas — como se esta fuga fosse
de uma inteligência enorme e não apenas covardia!
Comemora-se
a “abertura dos portos às nações amigas”, concedida por força da imposição
britânica e não um direito natural de nosso país arrancado a ferro e fogo no
campo de batalha, se necessário fosse.
Comemora-se
a fundação de uma instituição que até hoje atazana nossa vida, um banco
constituído de “príncipes da República”, que controla os antigos cofres
coloniais.
Comemora-se
uma “independência” (sic) fajuta, pelas mãos de um príncipe da potência colonial
cujos únicos interesses eram as amantes, os bordéis e a morte de seu pai para
voltar para a Metrópole como rei. E mais uma vez isto é tido como uma enorme
esperteza dos brasileiros que não verteram seu sangue pela liberdade, aceitando
uma ignomínia sem par na história dos povos deste planeta!
Desde
então continuamos governados pela mesma corja aproveitadora que de tão velha já
fede de ranço, mas é aceita com um falso estoicismo, que na realidade não passa
de regozijo sadomasoquista, onde todos esperam “chegar lá”, isto é, fazer parte
da mesma podridão.
Não
estará nestes primórdios da nossa história a origem do famoso “jeitinho
brasileiro”, uma atitude hipócrita perante a vida que nos faz aceitar qualquer
imundície como se fosse inteligência? Que nos permite desrespeitar qualquer lei
porque “ninguém mais respeita, e eu não serei um babaca enquanto os espertos
fazem o que bem entendem e se dão bem”? Que nos faz ter uma das mais corruptas
e imundas classes políticas de toda a história, criticadas pelos que querem
apenas lá “chegar para se dar bem”?
O que
este povo tem a conservar? Mesmo sendo contra o aborto, as drogas e a farsa do
“casamento” gay, aceitarão facilmente que sejam instituídos, desde que lhe
caiam à boca faminta umas quantas migalhas de “dereitos omanos” e possam dizer:
“sou contra, mas o que é que eu posso fazer, se “eles” querem assim? “Eles”
sendo um eufemismo para “aqueles que gostaríamos de ser”.
Perguntaram-me
ironicamente quais são os princípios da República. Não sei de outros, mas
bastam-me os seguintes: “Acreditamos serem verdades evidentes por si mesmas que
todos os homens nascem iguais e são dotados pelo Criador com certos Direitos
inalienáveis, entre os quais a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade”.
Se
estes são direitos naturais, concedidos por Deus a priori, não podem ser objeto
de discussão entre os homens, mas, ao mesmo tempo, torna-os responsáveis únicos
e exclusivos por defendê-los.
Heitor
De Paola
Heitor
De Paola é escritor e comentarista político, membro da International
Psychoanalytical Association e Clinical Consultant, Boyer House Foundation,
Berkeley, Califórnia, e Membro do Board of Directors da Drug Watch
International. Possui trabalhos publicados no Brasil e exterior. É ex-militante
da organização comunista clandestina, Ação Popular (AP).
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