Paulo Henrique Araújo: Carta ao Leitor PHVox #32 |
A Rússia pós “golpe” do Wagner Group
Olá, Dionê Machado. Tudo bem contigo? Na carta de
hoje, o tema é a tremenda confusão que aconteceu na Rússia neste final de
semana, está acontecendo todo tipo de teoria e elocubrações que tem prejudicado
muito um verdadeiro debate dos fatos. Então vou tentar auxiliar o entendimento
deste processo aqui com vocês. Vamos lá? (acho que esta é a carta mais
aprofundada que já lhe envie, encha a xícara de café)
A impressão da fraqueza Russa desde o início da sua
guerra contra a Ucrânia sempre foi desmentida de maneira apaixonada por seus
propagandistas. Hoje ficou provado que o blefe insistente nuclear era uma arma
quase que única para demonstrar força.
Putin, segundo relatos, teve que recorrer ao
socorro do homem que ele usava como um boneco: Aleksandr Lukashenko. Este
ajudou Putin por saber que seu regime comunista, herança da União Soviética,
ainda está de pé, única e exclusivamente graças a subserviência ao regime de
Putin. Foi o abraço dos desesperados.
O que ficou escancarado para o mundo neste momento:
Putin não é mais o dono do poder interno.
Putin não tem a hegemonia das forças armadas.
A Rússia não tem capacidade de proteger o seu
próprio território em um “assalto surpresa”.
Deu um péssimo exemplo para a cultura russa ao
abandonar a capital (o que parece ser um fato).
Os parceiros da CSTO (Versão russa da OTAN), não se
mostraram disponíveis para socorrê-lo, principalmente o Presidente Tokaiev do
Cazaquistão.
Putin deverá entregar cabeças de seu alto escalão
para tentar ficar no poder, sem a possibilidade de exercer ameaças ou
distribuição de seu famoso chá.
Putin, se nada mudar, deve virar um fantoche da
oligarquia russa, que usará sua imagem para exercer os seus desejos.
O papel do Wagner Group deve mudar a estrutura de
poder principalmente na África, se assim o quiser Prigozhin.
Pontos que precisamos ficar atentos:
a) Como essa dinâmica irá interferir na relação com
a China e como os Comunistas de Pequim irão tirar vantagem disto?
b) Como este enfraquecimento irá influenciar na
dinâmica de relações com o Irã na América Latina?
c) Como este processo irá influenciar as ações do
Foro de São Paulo na América Latina?
d) A elite “globalista” teria agido para, mais uma
vez, socorrer Putin? (Se você desconhece este pontoe acha graça, está na hora
de rever tudo o que conhece sobre as relações internacionais dos últimos 20
anos).
São muitas questões, muitas coisas que irão
acontecer daqui para a frente. A dinâmica russa começou a mudar drasticamente e
as perguntas principais são:
Putin conseguirá “dar a volta por cima”? Em um novo
arranjo de poder, qual será a nova posição da estrutura oligárquica Russa?
Os próximos meses serão intensos e de estudos
profundos.
Horas após a publicação deste artigo, o principal
ideólogo dos apoiadores da Rússia no ocidente, Aleksandr Dugin, falou sobre a
insurgência de ontem.
Dugin, aponta em outros termos, praticamente tudo o
que foi apontado nas linhas acima.
Segue declaração publicada por Dugin:
“Para enfrentar um desafio direto à soberania do
Comandante-em-Chefe Supremo [Putin, ed.], não havia uma única figura forte e
corajosa o suficiente em sua comitiva. Apenas o Soberano Lukashenko, junto com
o próprio Soberano Putin, o confrontou. Com o ocorrido, muitos podem incriminar
o Presidente e o povo, agindo nas sombras e aparentemente em seu nome, mas
salvar a Pátria em situação crítica não é sua especialidade. A deserção de
ontem das elites é mais desprezível do que Upper Lars.
Existe apenas uma solução sistêmica: a
ideologização imediata e genuinamente patriótica da classe dominante e a
rotação das elites. Apenas uma elite bem treinada pode esperar ser heróica e se
comportar adequadamente em uma situação de emergência. Precisamos de uma elite
como a atual, precisamos de uma elite soberana, senão tudo se repetirá. As fraquezas
do nosso sistema foram mostradas ontem em toda a sua glória, mas também vimos a
vontade de Putin, a verdadeira amizade de Lukashenko e o apoio total e
intransigente ao nosso presidente por todos os verdadeiros patriotas. Muitos
deles pensam como Prigozhin, mas apoiaram Putin em uma situação crítica, e isso
vale muito.”
-Alexander Dugin
AINDA NÃO ACABOU... Está circulando este mapa da
imagem nas redes sociais como um grande plano oculto da Rússia, que explicaria
a estratégia por trás da insurgência militar… será mesmo?
Vamos por pontos:
1. Custo ($): Um país em guerra precisa trabalhar
muito bem seus recursos. O custo para mover 25 mil homens não é baixo, ainda
mais se para fazer um plano você adicionar nisto (dados do que aconteceu):
a) Morte de soldados em alguns conflitos
localizados
b)
Movimentação de tropas de defesa em Moscou.
c) Destruição de rodovias e gasto com barricadas.
d) destruição de helicópteros de defesa.
2. Propaganda: Vladimir Putin, desde o início da
guerra, assumiu o papel de falar quase que exclusivamente para o público
interno. Perceba que desde 02/2022 praticamente não há declarações dele para o
mundo, somente declarações para os russos em mídias estatais, ou vídeos de
recepções e reuniões no Kremlin, quase sempre informais. Todas as declarações
diplomáticas. Toda comunicação diplomática é feita pelo porta voz Dimitri
Peskov ou o chanceler Lavrov.
Este processo é feito, justamente para que Putin
tenha a sua imagem fortalecida dentro da Rússia, mantendo um alinhamento com a
propaganda de que o país é vítima do inimigo EXTERNO. Aqui precisamos fazer
algumas perguntas:
a) Para fazer este plano, ele precisaria hackear a
tv estatal russa e colocar um vídeo do Prigozhin desmascarando todas as
mentiras criadas pela FSB (antiga KGB) que justificavam a guerra?
b) Seria necessário abrir para o público russo, que
precisar continuar acreditando na propaganda de inimigo EXTERNO, que existe um
exército de 25 mil homens infelizes com líder da nação?
c) Seria necessário Putin abandonar a capital?
d) Seria necessário Putin pedir ajudar militar para
o Presidente Tokayev do Cazaquistão?
3. Todo líder russo, historicamente, precisa e deve
passar uma visão de força e determinação. Todo líder fraco ao longo da história
da Rússia ruiu…
a) O que Putin ganharia mostrando que seu exército
não respeita o seu comando?
b) Qual a imagem que passa para o povo, dependendo
da ajuda de Aleksandr Lukashenko?
4. Existe um forte sistema de repressão na Rússia,
que impede qualquer cidadão de fazer críticas ao governo e ao exército. Desde
02/2022 vários veículos de mídia independente foram fechados. A internet possui
controle total de discurso. Tendo isto em mente:
a) O que Putin ganharia entregando batalhões e
cidades nas mãos de inimigos, sem resistência do exército?
b) Sabendo que precisa de repressão, ele não
calcularia que boa parte da população iria apoiar alguém que queria derruba-lo?
(Como o povo de Rostov apoiou abertamente)
5. A questão mais importante de todas: Qualquer
tropa russa ou sob suas ordens, pode circular livremente dentro da Rússia e da
Bielorrússia. O território russo não é campo de batalha. Com isso em mente:
a) Criar todo este trabalho logístico e teatral,
para no final anunciar que o Prigozhin está indo para a Bielorrússia, garante
qual elemento surpresa?
b) A inteligência Ucraniana é tão burra e
despreparada que não perceberia este plano, se não fosse a visão libertadora do
twittero putinista?
Creio que esse Xadrez 4D é dos mais incríveis que
já vi...
😮💨 Ufa... que
final de semana, não?
✋✋✋
Só mais um breve momento. Antes de ir embora, eu preciso falar seriamente
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