Artigo
publicado no Jornal Inconfidência, de Belo Horizonte, em 15 de dezembro de 2010
“Um
povo que aceita perder uma fatia de sua liberdade em troca de segurança, não
merece ter nem liberdade, nem segurança” – BENJAMIN
FRANKLIN
A
imensa reação contra o aborto que certamente influenciou o resultado do
primeiro turno das eleições brasileiras carreando votos de Dilma para Marina,
somada à derrota acachapante de Obama nas eleições parlamentares americanas um
mês depois, animaram setores conservadores em nosso País. A força imensa do
Movimento Tea Party nos dois anos de desmandos de Obama contra
a liberdade, as tradições e os princípios arraigados no American Way of
Life despertou sonhos de que tal movimento pudesse se repetir no
Brasil.
Mais
animadora ainda foi a notícia da pesquisa
realizada pelo Vox Populi em
05/12 mostrando que 82% da população é contra o aborto, 63% contra o casamento
homossexual e 87% contra a legalização do consumo de drogas.
Certamente
existem no Brasil vários movimentos conservadores, mas todos são de elite
intelectual, os quais até o momento não conseguiram fazer contato político
produtivo com esta imensa massa de cidadãos comuns apontada pelas pesquisas.
Cabe então fazer uma comparação com o ocorrido recentemente nos EUA, bem assim
como uma análise sucinta das diferenças históricas entre os dois povos.
O
movimento que virou a política americana do avesso em menos de dois anos tem
raízes profundas no que há de mais expressivo historicamente naquele País, das
raízes do movimento pela Independência, simbolizado pelo nome escolhido, Tea
Party, em referência à reação revolucionária contra o aumento dos
impostos cobrados pela Coroa Britânica após a aprovação do Stamp
Act de 1765, que obrigava ao pagamento de um imposto mediante um selo
aplicado a todos os documentos legais e jornais circulantes nas Colônias. Esta
reação foi alimentada pelo brado de no taxation without
representation (sem representação, nada de impostos) e ao boicote de
mercadorias inglesas chegando à rebelião plena em 16 de dezembro de 1773 em
Boston quando os carregamentos de chá foram jogados ao mar. A reação foi
violenta, mas encontrou os colonos unidos em Comitês, seguindo o criado por
Samuel Adams em Boston um ano antes. O Parlamento Inglês editou novas leis
destinadas a punir os revoltosos, os Intolerable Acts, levando
à convocação do Primeiro Congresso Continental em 1774. Em menos de dois anos e
após uma guerra contra o domínio Britânico, as Colônias se tornaram
independentes.
No
Brasil o único movimento de independência foi a Inconfidência Mineira, até
mesmo inspirada nos acontecimentos nas Colônias do Norte. No entanto, o
movimento não partiu do povo, mas sim de proprietários rurais, intelectuais,
clérigos e militares, os mais prejudicados pela derrama, o
imposto extra sobre os ‘homens bons’ para completar cem arrobas de ouro. Dois
fatores estabelecem a diferença com os EUA: a falta total de apoio popular,
tornando o movimento uma mera conspiração, enquanto lá os Comitês eram abertos.
E a expressão meramente regional, pois ainda não havia uma consciência
nacional. O País, ainda dividido em Capitanias não permitia que reverberasse
uma identidade nacional. Assim, foi fácil a violenta repressão da Coroa Portuguesa.
Por
outro lado, enquanto a Conquista do Oeste e a expansão da nacionalidade foi
feita lá por homens livres em busca de território para se instalar e cuidar de
suas vidas, quase sem atuação da União, aqui as Entradas era financiadas pela
Metrópole e as Bandeiras eram expedições que, embora financiadas por
particulares, tinham o único propósito de explorar e não colonizar
permanentemente. Finalmente, os brasileiros não têm experiência, e
conseqüentemente noção, do verdadeiro significado de liberdade individual,
vivendo desde sempre sob o tacão português e depois de governos autoritários,
iludidos por uma falsa sensação de proteção. (A análise prosseguirá num próximo
artigo).
Heitor
De Paola é escritor e comentarista político, membro da International
Psychoanalytical Association e Clinical Consultant, Boyer House Foundation,
Berkeley, Califórnia, e Membro do Board of Directors da Drug Watch
International. Possui trabalhos publicados no Brasil e exterior. É ex-militante
da organização comunista clandestina, Ação Popular (AP).
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